Tuberculose Ativa:

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa crônica causada principalmente pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) de crescimento lento. A transmissão ocorre por aerossóis gerados por pacientes com TB pulmonar ativa, tornando-se uma das principais doenças infecciosas do mundo, especialmente em países em desenvolvimento.

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa crônica causada principalmente pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) de crescimento lento. A transmissão ocorre por aerossóis gerados por pacientes com TB pulmonar ativa, tornando-se uma das principais doenças infecciosas do mundo, especialmente em países em desenvolvimento.

O Mycobacterium bovis, também do complexo M. tuberculosis, pode causar TB zoonótica, geralmente adquirida pelo consumo de leite não pasteurizado.

A TB permanece um problema de saúde global, especialmente devido ao aumento da resistência a medicamentos e à coinfecção com HIV.

Microbiologia e Fisiopatologia

  • Bacilo álcool-ácido resistente (corado por Ziehl-Neelsen ou Kinyoun).
  • Crescimento lento (2-6 semanas em cultura).
  • Sobrevivência intracelular dentro de macrófagos alveolares.
  • Produção de fatores de virulência, incluindo cord factor, que inibe a fusão fagossomo-lisossomo.

Transmissão

  • Inalação de aerossóis contendo M. tuberculosis.
  • Pacientes bacilíferos podem infectar múltiplas pessoas (um paciente não tratado pode infectar até 15 indivíduos por ano).
  • A transmissão ocorre predominantemente em ambientes fechados e pouco ventilados.

Manifestações Clínicas

1. Tuberculose Pulmonar

  • Sintomas clássicos (durando ≥2 semanas):
    • Tosse crônica, produtiva ou seca.
    • Febre e sudorese noturna.
    • Perda de peso e fadiga.
    • Hemoptise (sinal tardio, associado a cavitações).
  • Radiografia de tórax/TC de alta resolução:
    • Padrão clássico: Infiltrados cavitários nos lóbulos superiores.
    • TB primária: Adenopatia hilar e consolidações em crianças.
    • TB miliar: Padrão difuso nodular <2 mm (indicativo de doença disseminada).

2. Tuberculose Extrapulmonar

  • Tuberculose disseminada (“Miliar”):
    • Hematogênica, acometendo múltiplos órgãos.
    • Fatores de risco: HIV, imunossupressão, desnutrição severa.
  • TB Meningoencefálica:
    • Febre, cefaleia crônica, confusão mental.
    • TC/RM: realce leptomeníngeo basal.
    • LCR: pleocitose linfocitária, glicose baixa, proteínas elevadas.
  • TB Óssea (Mal de Pott):
    • Osteomielite vertebral, podendo levar a colapso vertebral e compressão medular.
  • TB Pleural:
    • Derrame pleural unilateral, rico em linfócitos e com ADA elevado (>40 U/L).
  • TB Ganglionar (Escrofulose):
    • Linfonodos cervicais aumentados, geralmente indolores.

Diagnóstico

1. Exames Laboratoriais

  • Baciloscopia de escarro (Ziehl-Neelsen/Kinyoun):
    • Sensibilidade ~50% (mais elevada em pacientes com carga bacilar alta).
    • Indica potencial de transmissão.
  • Cultura (Padrão-Ouro):
    • Meios sólidos (Löwenstein-Jensen, Ogawa-Kudoh): crescimento em 4-8 semanas.
    • Meios líquidos (MGIT-BACTEC): crescimento mais rápido (2 semanas).
  • PCR (Xpert MTB/RIF, Xpert Ultra, MTB/XDR):
    • Alta sensibilidade e especificidade.
    • Detecta resistência à rifampina rapidamente.
    • Pode ser realizado em amostras extrapulmonares.

2. Testes Imunológicos

  • Teste Tuberculínico (PPD/Mantoux) e IGRA (QuantiFERON, T-SPOT.TB):
    • Não distinguem TB ativa de infecção latente.
    • Podem ser negativos em pacientes imunossuprimidos ou desnutridos.

Tratamento

A TB ativa deve sempre ser tratada com regime combinado para prevenir resistência.

1. TB Sensível a Drogas

  • Esquema RIPE (2 meses) + Terapia de Manutenção (4 meses)
    • Rifampicina (RIF) 10 mg/kg/dia (máx. 600 mg)
    • Isoniazida (INH) 5 mg/kg/dia (máx. 300 mg)
    • Pirazinamida (PZA) 15-30 mg/kg/dia (máx. 2 g)
    • Etambutol (EMB) 15-25 mg/kg/dia (máx. 1,6 g)
  • Duração total:
    • 6 meses para TB pulmonar não complicada.
    • 9 meses para TB cavitária persistente após 2 meses de terapia.

2. TB Meningoencefálica e Óssea

  • RIPE por 12 meses.
  • Uso de corticoides (Dexametasona 0,3-0,4 mg/kg/dia, com desmame lento).

3. Tuberculose Multirresistente (MDR-TB)

  • Resistente a Isoniazida e Rifampicina.
  • Regimes de 9-12 meses (curtos) ou 18-20 meses (longos).
  • Esquema OMS 2019 (regime oral preferido):
    • Fluoroquinolona (Levofloxacino ou Moxifloxacino)
    • Bedaquilina
    • Linezolida
    • Clofazimina
    • Etambutol
    • Pirazinamida
    • Cicloserina/Terizidona (opcional).

Coinfecção TB-HIV

Pacientes com HIV apresentam maior risco de TB disseminada e óbito precoce.

  • Rifampicina interage com antirretrovirais:
    • Efavirenz é a melhor escolha com Rifampina.
    • Se uso de inibidores de protease (PI), preferir Rifabutina.
  • Iniciar TARV precocemente:
    • CD4 < 50 células/mm³ → TARV dentro de 2 semanas do início da TB.
    • CD4 ≥ 50 células/mm³ → TARV após 8 semanas.
  • Síndrome de Reconstituição Imune (IRIS):
    • Piora paradoxal da TB com início do TARV.
    • Tratamento: Corticoides (Prednisona 1 mg/kg/dia, desmame progressivo).

Infecção e Controle

  • Isolamento respiratório se: Tosse persistente + RX sugestivo.
  • Suspensão do isolamento: Após 3 baciloscopias negativas ou 2 testes Xpert MTB/RIF negativos.

Conclusão

A tuberculose ativa continua sendo um grande desafio global. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado com regime RIPE são fundamentais para controle da transmissão e redução da morbimortalidade. Pacientes com TB resistente ou coinfecção HIV-TB necessitam de manejo especializado.

🧠 Se você chegou até aqui, é porque leva conhecimento a sério.
No App do InfectoCast, você encontra o que não cabe num post: prática, atualização e precisão.
📲 Clique aqui e mergulhe de vez.

Referências

  1. Carr W, Kurbatova E, Starks A, et al. Interim Guidance: 4-Month Rifapentine-Moxifloxacin Regimen for the Treatment of Drug-Susceptible Pulmonary Tuberculosis – United States, 2022. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2022;71(8):285-289. [PMID:35202353].
  2. Nahid P, Dorman SE, Alipanah N, et al. Treatment of Drug-Susceptible Tuberculosis. Clin Infect Dis. 2016;63(7):e147-e195. [PMID:27516382].
  3. World Health Organization. WHO consolidated guidelines on drug-resistant tuberculosis treatment, 2019.

Posts Relacionados

O que é SCIH e Qual sua Função? Guia completo sobre o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

O Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) representa o braço executivo da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), constituindo-se como o núcleo operacional responsável pela implementação prática de todas as diretrizes e políticas estabelecidas para o controle de infecções hospitalares.

O que um Enfermeiro CCIH Faz? Guia completo sobre as funções e responsabilidades

O enfermeiro especialista em Comissão de Controle de Infecção Hospitalar desempenha um papel fundamental e estratégico na prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde, sendo frequentemente o profissional com maior dedicação às atividades operacionais do programa de controle de infecções.

Qual a Principal Função da CCIH? Guia completo sobre a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) representa um dos pilares mais importantes da assistência hospitalar segura, desempenhando papel crucial na prevenção e controle de infecções que podem comprometer a saúde dos pacientes e a qualidade dos serviços de saúde.

Mutirões de Cirurgia Oftalmológica: o SCIH está acompanhando? Volume alto, estrutura precária e risco elevado.

Endoftalmite infecciosa: quando e como coletar amostras oculares para microbiologia

O Que Observar em uma Visita Técnica ao Centro Cirúrgico Oftalmológico: Guia Prático para o SCIH