O Streptococcus pyogenes do Grupo A (GAS) é um coco Gram-positivo beta-hemolítico, disposto em cadeias, pertencente ao grupo de Lancefield A. É um dos patógenos humanos mais importantes, causando uma ampla gama de infecções que variam de doenças leves e autolimitadas, como faringite e impetigo, a condições graves e potencialmente fatais, como fascite necrosante e síndrome do choque tóxico estreptocócico (AUWAERTER, 2025).
A transmissão ocorre principalmente por gotículas respiratórias, mas também pode ocorrer por meio de feridas abertas, secreções salivárias e contato direto com lesões cutâneas. A colonização da mucosa faríngea é comum, especialmente em crianças em idade escolar, com taxas de colonização variando de 15 a 20% (AUWAERTER, 2025).
Microbiologia
- Cocos Gram-positivos em cadeias.
- Beta-hemólise em ágar sangue.
- Catalase-negativo, diferindo dos estafilococos.
- Produz diversos fatores de virulência, incluindo:
- Proteína M: impede a fagocitose.
- Toxinas pirogênicas estreptocócicas (SPE): responsáveis pelo choque tóxico.
- Estreptolisina O e S: causam hemólise e destruição tecidual.
- Hialuronidase e estreptoquinase: promovem a disseminação tecidual.
Resistência Antimicrobiana
- 100% suscetível à penicilina.
- Resistência significativa a macrolídeos (14-15%) e clindamicina (22-24%) nos Estados Unidos.
- Taxa de resistência à eritromicina de aproximadamente 14,5% e à clindamicina de 22 a 24% (AUWAERTER, 2025).
Epidemiologia
- A colonização é mais comum em crianças e adolescentes.
- Ambientes comunitários e escolares são áreas de alto risco de transmissão.
- A infecção por GAS é especialmente prevalente durante os meses de inverno e primavera.
- Fatores de risco incluem:
- Contato próximo com crianças (escolas, creches).
- Condições de superlotação (barracas militares, dormitórios).
- História de infecções prévias ou comorbidades (diabetes, uso de drogas intravenosas).
Manifestações Clínicas
1. Faringite Estreptocócica
- Sintomas:
- Dor de garganta súbita e intensa.
- Febre alta e cefaleia.
- Amigdalite com exsudato purulento.
- Adenopatia cervical dolorosa.
- Diagnóstico:
- Teste rápido de antígeno (alta especificidade).
- Cultura de orofaringe (padrão-ouro).
2. Escarlatina
- Características:
- Rash eritematoso difuso com textura de lixa.
- Linhas de Pastia: vermelhidão acentuada em dobras articulares.
- Descamação tardia, especialmente em extremidades.
3. Infecções de Pele e Partes Moles
- Impetigo:
- Lesões crostosas em áreas expostas.
- Erisipela e Celulite:
- Placa eritematosa quente e dolorosa.
- Linhas de linfangite podem estar presentes.
- Fascite Necrosante:
- Infecção rapidamente progressiva de tecidos profundos.
- Alta mortalidade, requer desbridamento cirúrgico imediato.
4. Síndrome do Choque Tóxico Estreptocócico (STSS)
- Queda abrupta da pressão arterial e falência de múltiplos órgãos.
- Associada a infecções invasivas, como fascite necrosante.
- Mortalidade elevada (~50%).
5. Complicações Não Supurativas
- Febre Reumática Aguda (FRA):
- Poliartrite migratória, cardite, nódulos subcutâneos.
- Glomerulonefrite Pós-estreptocócica:
- Hematúria, hipertensão e edema.
Tratamento
1. Faringite Estreptocócica
- Penicilina V:
- Adultos: 500 mg VO 2x/dia por 10 dias.
- Crianças: 250 mg VO 2x/dia por 10 dias.
- Alternativas para alérgicos:
- Azitromicina 500 mg VO 1x/dia por 5 dias.
- Clindamicina 300 mg VO 3x/dia por 10 dias.
2. Infecções de Pele e Partes Moles
- Penicilina G 2-4 milhões UI IV a cada 4 horas.
- Clindamicina 600 mg IV a cada 8 horas para inibir a produção de toxinas.
- Em casos graves ou com resistência:
- Linezolida 600 mg IV a cada 12 horas.
3. Síndrome do Choque Tóxico Estreptocócico
- Penicilina G + Clindamicina para interromper a produção de toxinas.
- Imunoglobulina intravenosa (IVIG) em casos graves.
Prevenção
- Higiene rigorosa das mãos.
- Rastreamento e tratamento de contatos próximos.
- Desinfecção de objetos pessoais e superfícies contaminadas.
- Profilaxia em casos de surtos comunitários.
Conclusão
O Streptococcus pyogenes do Grupo A continua a ser um dos principais agentes causadores de infecções comunitárias e hospitalares. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações graves e surtos comunitários. A resistência antimicrobiana, especialmente a macrolídeos e clindamicina, reforça a importância da penicilina como droga de escolha para a maioria das infecções por GAS.
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Referências
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SHULMAN, S. T.; BISNO, A. L.; CLEGG, H. W.; et al. Clinical practice guideline for the diagnosis and management of group A streptococcal pharyngitis: 2012 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2012;55(10):1279-82. [PMID:23091044].
GERBER, M. A.; BALTIMORE, R. S.; EATON, C. B.; et al. Prevention of rheumatic fever and diagnosis and treatment of acute streptococcal pharyngitis: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2009;119(11):1541-51. [PMID:19246689].