O Staphylococcus aureus é uma bactéria Gram-positiva, coagulase-positiva, que se apresenta em forma de cocos agrupados em cachos. É um dos patógenos mais comuns em infecções humanas, especialmente em contextos hospitalares e comunitários. A bactéria é responsável por uma ampla gama de doenças, que variam desde infecções de pele e tecidos moles até bacteremia, endocardite e pneumonia (AUWAERTER, 2025).
O S. aureus pode ser dividido em:
- MSSA (Methicillin-Susceptible Staphylococcus aureus).
- MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus).
- VISA/VRSA (Vancomycin-Intermediate/Resistant Staphylococcus aureus).
Microbiologia
- Cocos Gram-positivos, agrupados em cachos.
- Coagulase-positiva e termonuclease positiva.
- Produz colônias cremosas e douradas em ágar sangue, com β-hemólise.
- Fermenta manitol e produz DNase.
- Testes rápidos de identificação:
- PCR para detecção do gene mecA (resistência à meticilina).
- Fluorescência in situ híbrida e métodos cromogênicos (sensibilidade > 99%).
Resistência Antimicrobiana
- MRSA: presença do gene mecA, que codifica a proteína PBP2a, reduzindo a afinidade por beta-lactâmicos.
- VISA/VRSA: resistência à vancomicina devido à modificação da parede celular.
- CA-MRSA (Community-Acquired): mantém suscetibilidade a tetraciclinas, TMP/SMX e clindamicina.
- D-test positivo: indica resistência induzível à clindamicina em cepas eritromicina-resistentes.
Epidemiologia
- Estima-se que cerca de 20-30% da população sejam portadores nasais assintomáticos de S. aureus.
- MRSA emergiu como um importante patógeno nos anos 1990, especialmente em populações como usuários de drogas injetáveis (UDI), prisioneiros e pacientes em hemodiálise.
- Altamente prevalente em hospitais, onde dispositivos médicos invasivos e procedimentos cirúrgicos são fatores de risco.
Manifestações Clínicas
O S. aureus pode causar uma variedade de infecções:
1. Infecções de Pele e Partes Moles
- Furúnculos, abscessos, celulite e impetigo.
- Necrose tecidual e fascite necrosante.
- Tratamento: drenagem e, se necessário, antibióticos.
2. Bacteremia e Endocardite
- Bacteremia primária ou associada a dispositivos invasivos.
- Endocardite de válvula nativa ou protética.
- Alta mortalidade (~20-40%), especialmente com MRSA.
3. Pneumonia
- Pode ocorrer como pneumonia associada à ventilação mecânica ou pneumonia necrosante pós-influenza.
- MRSA frequentemente está associado a quadros graves.
4. Osteomielite e Artrite Séptica
- Osteomielite vertebral e artrite séptica, frequentemente associadas à bacteremia.
- Resistência ao tratamento prolongado pode ser um desafio.
5. Síndrome do Choque Tóxico Estafilocócico (TSS)
- Associada à produção de toxina TSST-1.
- Caracteriza-se por febre alta, rash eritematoso e hipotensão.
- Tratamento: suporte hemodinâmico e antibióticos.
Diagnóstico
1. Cultura Bacteriana
- Hemoculturas positivas indicam bacteremia.
- Cultura de secreção ou líquido sinovial.
2. Testes Sorológicos e Moleculares
- PCR para gene mecA e resistência à meticilina.
- Testes rápidos (cromogênicos) para identificação.
3. Exames de Imagem
- Ecocardiograma transesofágico (TEE) para endocardite.
- Ressonância magnética (RM) para osteomielite.
Tratamento
O tratamento depende da gravidade da infecção e da sensibilidade do patógeno.
1. MSSA (Staphylococcus aureus Sensível à Meticilina)
- Oxacilina 2 g IV a cada 4h ou Nafcilina 2 g IV a cada 4h.
- Cefazolina 2 g IV a cada 8h para casos leves/moderados.
- Alternativas:
- Vancomicina 15 mg/kg IV a cada 12h (alergia a penicilina).
- Daptomicina 6-8 mg/kg IV 1x/dia.
2. MRSA (Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina)
- Vancomicina 15-20 mg/kg IV a cada 8-12h.
- Daptomicina 8-10 mg/kg IV 1x/dia (especialmente em bacteremia e endocardite).
- Alternativas:
- Linezolida 600 mg IV/VO a cada 12h.
- Ceftarolina 600 mg IV a cada 8h.
- TMP/SMX 5 mg/kg IV a cada 8-12h (em combinação).
3. VISA/VRSA (Vancomycin-Intermediate/Resistant)
- Daptomicina 8-10 mg/kg/dia.
- Linezolida 600 mg IV/VO a cada 12h.
- Ceftarolina 600 mg IV a cada 8h.
Prevenção e Controle
- Higiene rigorosa das mãos e isolamento de contato em hospitais.
- Descolonização nasal com mupirocina e banho com clorexidina para portadores persistentes.
- Profilaxia antibiótica adequada em cirurgias.
Conclusão
O Staphylococcus aureus continua a ser um patógeno de grande relevância clínica, especialmente em ambientes hospitalares. A resistência à meticilina e a emergência de cepas multirresistentes representam um grande desafio terapêutico. O manejo adequado depende de um diagnóstico precoce e do uso racional de antibióticos, com base em testes de suscetibilidade.
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Referências
BADDOUR, L. M.; WILSON, W. R.; BAYER, A. S. Infective Endocarditis in Adults: Diagnosis, Antimicrobial Therapy, and Management of Complications. Circulation, v. 132, n. 15, p. 1435-86, 2015.
LIU, C.; BAYER, A.; COSGROVE, S. E. Clinical practice guidelines by the infectious diseases society of america for the treatment of methicillin-resistant Staphylococcus aureus infections in adults and children. Clin Infect Dis, v. 52, n. 3, p. 285-92, 2011.