Sífilis:

A sífilis é uma infecção sistêmica crônica causada pela espiroqueta Treponema pallidum, transmitida principalmente por via sexual e vertical (mãe para filho). É considerada uma doença de evolução crônica, podendo permanecer assintomática por longos períodos. A sífilis continua sendo um grave problema de saúde pública, especialmente em populações vulneráveis e áreas de baixa cobertura de serviços de saúde (HAMILL; TUDDENHAM, 2025).

A sífilis é uma infecção sistêmica crônica causada pela espiroqueta Treponema pallidum, transmitida principalmente por via sexual e vertical (mãe para filho). É considerada uma doença de evolução crônica, podendo permanecer assintomática por longos períodos. A sífilis continua sendo um grave problema de saúde pública, especialmente em populações vulneráveis e áreas de baixa cobertura de serviços de saúde (HAMILL; TUDDENHAM, 2025).

Microbiologia

O Treponema pallidum é uma espiroqueta Gram-negativa, com forma helicoidal e extremamente móvel. A bactéria não pode ser cultivada em meios artificiais, o que torna o diagnóstico dependente de métodos sorológicos e testes moleculares.

  • Transmissão: principalmente sexual, mas também pode ocorrer por via transplacentária e raramente por contato com lesões infectadas.
  • Sobrevivência: não sobrevive fora do hospedeiro humano, sendo sensível ao calor, secagem e desinfetantes comuns.

Manifestações Clínicas

A sífilis é dividida em estágios clínicos que refletem a progressão da infecção:

1. Sífilis Primária

  • Período de incubação: 10 a 90 dias (média de 3 semanas).
  • Lesão característica: cancro duro, geralmente único, indolor, com bordas endurecidas e base limpa.
  • Localização: pênis, vulva, colo uterino, ânus ou boca.
  • Linfadenopatia regional: frequentemente presente, móvel e indolor.
  • Resolução espontânea: o cancro desaparece em 3 a 6 semanas, mesmo sem tratamento.

2. Sífilis Secundária

  • Ocorre após 4 a 10 semanas do cancro primário.
  • Manifestações cutâneas:
    • Lesões maculopapulares generalizadas, incluindo palmas e plantas (lesões “cobre-peny”).
    • Lesões mucosas: condiloma plano e placas mucosas, altamente infecciosas.
  • Sintomas sistêmicos:
    • Febre, mal-estar, dor de garganta, linfadenopatia generalizada.
  • Complicações raras:
    • Hepatite, nefrite, uveíte e meningite asséptica.
  • Autolimitada: sintomas desaparecem em algumas semanas, mesmo sem tratamento.

3. Sífilis Latente

  • Período assintomático após a resolução das manifestações secundárias.
  • Latente precoce (< 1 ano): ainda contagiosa, risco de recidiva.
  • Latente tardia (> 1 ano): não contagiosa, exceto na transmissão vertical.
  • Diagnóstico: apenas sorológico, já que não há sinais clínicos.

4. Sífilis Terciária

  • Manifestações tardias (após anos ou décadas):
    • Goma sifilítica: lesões granulomatosas destrutivas em pele, ossos e órgãos.
    • Sífilis cardiovascular: aortite, aneurisma de aorta.
    • Neurosífilis tardia: tabes dorsalis, paralisia geral progressiva.

5. Neurosífilis

Pode ocorrer em qualquer estágio da doença, especialmente em pessoas com HIV.

  • Manifestações precoces:
    • Meningite, meningovasculite e neuropatias cranianas.
  • Manifestações tardias:
    • Tabes dorsalis: desmielinização dos tratos dorsais da medula.
    • Paralisia geral: psicose e demência.

Diagnóstico

O diagnóstico da sífilis é realizado por métodos diretos e indiretos:

1. Métodos Diretos

  • Microscopia de Campo Escuro: visualização da espiroqueta em lesões úmidas.
  • PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): alta sensibilidade para detecção de DNA.

2. Métodos Indiretos (Sorológicos)

  • Testes não treponêmicos:
    • VDRL e RPR: utilizados para triagem e monitoramento da resposta ao tratamento.
    • Sensibilidade: 62-78% na sífilis primária.
  • Testes treponêmicos:
    • FTA-ABS e TPHA: confirmam o diagnóstico após triagem positiva.
    • Permanecem positivos por toda a vida, mesmo após tratamento adequado.

Tratamento

O tratamento depende do estágio da doença e do perfil do paciente.

1. Sífilis Primária, Secundária e Latente Precoce

  • Penicilina Benzatina G 2,4 milhões UI IM, dose única.
  • Alergia à penicilina:
    • Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia por 14 dias.
    • Tetraciclina 500 mg VO 4x/dia por 14 dias.

2. Sífilis Latente Tardia ou de Duração Indeterminada

  • Penicilina Benzatina G 2,4 milhões UI IM, 1 vez por semana durante 3 semanas.

3. Neurosífilis

  • Penicilina G Cristalina 18-24 milhões UI/dia IV (3-4 milhões UI a cada 4 horas) por 10-14 dias.
  • Alternativa:
    • Ceftriaxona 2 g IV por 10-14 dias.

Prevenção e Controle

  • Uso de preservativos para prevenção da transmissão sexual.
  • Triagem sorológica em populações de risco, incluindo gestantes.
  • Notificação e rastreamento de contatos sexuais.
  • Profilaxia pós-exposição em casos de contato com parceiros infectados.

Prognóstico

  • Tratamento precoce garante boa resposta clínica e reduz a transmissão.
  • Neurosífilis e sífilis terciária têm pior prognóstico devido aos danos irreversíveis.

Conclusão

A sífilis permanece um desafio importante para a saúde pública, especialmente devido ao aumento da incidência entre populações vulneráveis e ao risco de coinfecção com HIV. A detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações graves e a transmissão vertical.

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Referências

WORKOWSKI, K. A. et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187.

LUETKEMEYER, A. F. et al. Postexposure Doxycycline to Prevent Bacterial Sexually Transmitted Infections. N Engl J Med. 2023;388(14):1296-1306.

TUDDENHAM, S.; GHAHNEM, K. G. Neurosyphilis: State-of-the-Art Review. Clin Infect Dis. 2023.

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