Salmonella não tifoide:

As espécies de Salmonella são bacilos Gram-negativos aeróbicos facultativos, pertencentes à família Enterobacteriaceae. O gênero é dividido em S. enterica e S. bongori, com S. enterica subespécie I sendo a principal responsável por infecções humanas. As infecções por Salmonella podem ser classificadas como tifoide (febre entérica, causada por S. typhi e S. paratyphi) ou não tifoide (NTS - non-typhoidal Salmonella), que englobam diversas sorovariedades responsáveis por gastroenterite e infecções invasivas.

As espécies de Salmonella são bacilos Gram-negativos aeróbicos facultativos, pertencentes à família Enterobacteriaceae. O gênero é dividido em S. enterica e S. bongori, com S. enterica subespécie I sendo a principal responsável por infecções humanas. As infecções por Salmonella podem ser classificadas como tifoide (febre entérica, causada por S. typhi e S. paratyphi) ou não tifoide (NTS – non-typhoidal Salmonella), que englobam diversas sorovariedades responsáveis por gastroenterite e infecções invasivas.

As infecções por Salmonella não tifoide são uma das principais causas de doenças transmitidas por alimentos no mundo, sendo associadas ao consumo de carne contaminada, ovos crus, produtos lácteos e água contaminada. Embora a maioria dos casos seja autolimitada, complicações graves podem ocorrer em imunossuprimidos, idosos e lactentes.

Microbiologia e Transmissão

  • Bacilos Gram-negativos, anaeróbicos facultativos.
  • Não fermentadores de lactose, oxidase-negativos e produtores de gás de H₂S.
  • Sobrevivem no trato gastrointestinal humano e animal.
  • Principais reservatórios:
    • Aves e ovos contaminados.
    • Carne bovina, suína e produtos lácteos.
    • Água e superfícies contaminadas.
  • Transmissão fecal-oral, direta ou por ingestão de alimentos contaminados.

Sorotipos mais comuns

  • S. enteritidis e S. typhimurium – principais causadores de gastroenterite.
  • S. newport – frequentemente resistente a múltiplos antibióticos.
  • S. dublin – mais associada à bacteremia e infecções extraintestinais.

Epidemiologia e Fatores de Risco

  • Causa ~1,35 milhão de casos anuais nos EUA e 420 mortes (CDC, 2019).
  • Mais frequente no verão.
  • Alta incidência em crianças <5 anos e idosos >50 anos.
  • Grupos de risco para infecção grave:
    • Imunossuprimidos (transplantados, HIV/AIDS, uso de corticoides).
    • Pacientes com hemoglobinopatias (anemia falciforme).
    • Pessoas com doença vascular (próteses valvares, endopróteses vasculares).
    • Uso de inibidores de bomba de prótons (IBPs).

Manifestações Clínicas

1. Infecção Gastrointestinal (Gastroenterite)

  • Forma mais comum.
  • Período de incubação: 12-72 horas.
  • Sintomas:
    • Diarreia aquosa não sanguinolenta (às vezes com muco).
    • Náuseas, vômitos, febre e dor abdominal.
    • Autolimitada, dura 3-7 dias.
  • Complicações:
    • Desidratação severa (principal risco em crianças e idosos).
    • Síndrome do intestino irritável pós-infecciosa.

2. Infecção Invasiva e Bacteremia

  • 8% dos casos de gastroenterite podem evoluir para bacteremia.
  • Mais comum em idosos e imunossuprimidos.
  • Complicações associadas:
    • Endocardite – principalmente em pacientes com valvopatias.
    • Osteomielite e artrite séptica – comum em pacientes com doença falciforme.
    • Aortite e infecção de próteses vasculares.
    • Abscessos esplênicos e hepáticos.

3. Estado de Portador Assintomático

  • Eliminação prolongada nas fezes (>1 ano em 0,2-0,6% dos casos).
  • Pacientes com doença biliar crônica podem desenvolver portador crônico.

Diagnóstico

1. Testes Laboratoriais

  • PCR em painel molecular (NAAT) – rápido e sensível.
  • Cultura de fezes – permite teste de suscetibilidade a antibióticos.
  • Hemocultura – indicada em suspeita de bacteremia.
  • Leucocitose e elevação de proteína C-reativa (PCR) em casos graves.

2. Diagnóstico Diferencial

  • Outras causas de gastroenterite:
    • Campylobacter, Shigella, E. coli enterohemorrágica, Yersinia.
    • Infecções virais (Norovírus, Rotavírus).
    • Parasitos (Giardia, Cryptosporidium).

Tratamento

A maioria dos casos de gastroenterite leve-moderada NÃO requer antibióticos.

1. Terapia Suporte

  • Hidratação oral ou intravenosa conforme necessidade.
  • Correção de eletrólitos em casos graves.

2. Indicações para Antibióticos

Uso indicado em:

  • Idosos (>50 anos) com doença aterosclerótica.
  • Imunossuprimidos.
  • Infecção grave (>8 evacuações/dia, hospitalização).
  • Infecção com bacteremia.
  • Pacientes com próteses valvares ou articulares.
  • Crianças <3 meses.

3. Opções Terapêuticas

CondiçãoPrimeira LinhaAlternativas
Gastroenterite graveCeftriaxona 1-2 g IV/dia por 3-7 diasAzitromicina 1 g VO (dia 1), 500 mg VO/dia (dias 2-7)
BacteremiaCeftriaxona 2 g IV/dia por 7-14 diasCiprofloxacino 400 mg IV a cada 12h
OsteomieliteCeftriaxona 2 g IV/dia por ≥4 semanasCiprofloxacino 750 mg VO 2x/dia
EndocarditeCeftriaxona 2 g IV/dia por 6 semanasLevofloxacino 750 mg/dia + Rifampicina
Infecção urináriaCiprofloxacino 500 mg VO 2x/dia por 7-14 diasTMP/SMX 1 DS VO 2x/dia

Salmonella multirresistente (MDR) associada ao México:

  • Ceftriaxona 2 g IV/dia (empírico).
  • Evitar ampicilina, ciprofloxacino e TMP-SMX sem teste de suscetibilidade.

Prevenção e Controle

  • Higienização das mãos rigorosa.
  • Evitar ovos crus, carne mal cozida e leite não pasteurizado.
  • Controle rigoroso de higiene alimentar e armazenamento adequado de alimentos.
  • Evitar uso indiscriminado de IBPs, que aumentam o risco de infecção.

Conclusão

As infecções por Salmonella não tifoide são uma das principais causas de gastroenterite no mundo, sendo frequentemente autolimitadas. No entanto, casos graves e invasivos exigem tratamento antibiótico direcionado. O uso racional de antimicrobianos e medidas preventivas são fundamentais para reduzir a disseminação da bactéria e evitar resistência antimicrobiana.

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Referências (ABNT)

  • DIAZ, D. et al. Prevalence, main serovars and antimicrobial resistance profiles of non-typhoidal Salmonella in poultry samples from the Americas: A systematic review and meta-analysis. Transbound Emerg Dis., v. 69, n. 5, p. 2544-2558, 2022.
  • FIERER, J. Invasive Non-typhoidal Salmonella (iNTS) Infections. Clin Infect Dis., v. 75, n. 4, p. 732-738, 2022.
  • CDC. Information for the management of infections with a travel-associated multidrug-resistant strain of Salmonella Newport. Disponível em: https://www.cdc.gov/salmonella/general/technical/newport.html. Acesso em: 14 mar. 2023.

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