Rhodococcus hoagii:

O Rhodococcus hoagii, anteriormente conhecido como Corynebacterium equi e depois como Rhodococcus equi, é um cocobacilo Gram-positivo pleomórfico e aeróbico. Esse microrganismo é um patógeno oportunista encontrado no ambiente, especialmente em solo e animais como cavalos e suínos, podendo causar infecções graves, particularmente em pacientes imunossuprimidos.

Ele é mais conhecido como um agente de broncopneumonia em potros, mas pode causar pneumonia necrotizante, bacteremia e infecções disseminadas em humanos, especialmente em indivíduos com HIV, transplantados e usuários de corticoides.

Microbiologia

  • Bacilo Gram-positivo pleomórfico, não móvel.
  • Coloração ácido-resistente variável.
  • Crescimento lento em cultura (4-7 dias).
  • Forma colônias rosa-salmão em ágar sólido.
  • Capacidade de sobrevivência intracelular em macrófagos, semelhante a Mycobacterium tuberculosis.
  • Pode ser confundido com Corynebacterium, Micrococcus e Bacillus spp..

Modos de Transmissão

  • Inalação de aerossóis contendo o patógeno (mais comum).
  • Inoculação direta (trauma ou contato com animais infectados).
  • Ingestão acidental.

Epidemiologia e Fatores de Risco

  • Indivíduos imunocomprometidos são os mais suscetíveis:
    • Pacientes com HIV/AIDS.
    • Transplantados (rim, fígado, coração).
    • Usuários de corticoides e imunossupressores.
    • Pacientes em quimioterapia.
  • Infecção rara em imunocompetentes (10-15% dos casos humanos).
  • Associado à exposição a cavalos e suínos.
  • Bacteremia é mais comum em pacientes HIV+ (frequentemente com pneumonia associada).

Manifestações Clínicas

1. Infecções Pulmonares (Mais Comuns)

  • Pneumonia cavitária ou nodular.
  • Achados de TC de tórax:
    • Consolidação pulmonar com cavitações.
    • Padrão em vidro fosco e opacidades nodulares.
    • Pode mimetizar tuberculose ou nocardiose.
  • Sintomas:
    • Tosse crônica, febre, dispneia progressiva.
    • Perda de peso e hemoptise em casos avançados.

2. Bacteremia e Infecção Disseminada

  • Bacteremia ocorre em >80% dos casos em imunossuprimidos.
  • Pode levar à formação de abscessos em múltiplos órgãos:
    • Fígado, baço, próstata, rins e sistema nervoso central (SNC).
  • Pode mimetizar nocardiose ou actinomicose.

3. Infecções Osteoarticulares

  • Osteomielite e artrite séptica.
  • Abscesso subcutâneo após inoculação direta.

4. Infecções Relacionadas a Dispositivos

  • Biofilme em cateteres venosos centrais (associado a bacteremia persistente).
  • Infecção de derivação ventriculoperitoneal (DVP).

5. Outras Infecções

  • Abscesso cerebral e meningoencefalite.
  • Peritonite e colite necrotizante em pacientes imunossuprimidos.
  • Infecção ocular (endoftalmite).

Diagnóstico

1. Cultura e Gram

  • Bacilos Gram-positivos pleomórficos.
  • Colônias rosa-salmão em 4-7 dias.
  • Ácido-resistência variável, podendo ser confundido com micobactérias.

2. Exames de Imagem

  • TC de tórax para pneumonia cavitária.
  • TC/RM de crânio se suspeita de abscesso cerebral.

3. Diagnóstico Diferencial

  • Tuberculose e Nocardiose.
  • Actinomicose pulmonar.
  • Pneumonia fúngica (histoplasmose, aspergilose).

Tratamento

Terapia empírica deve incluir pelo menos 2 antibióticos ativos.

1. Tratamento Empírico

  • Vancomicina 1 g IV a cada 12h.
  • Imipenem 500 mg IV a cada 6h.
  • Ciprofloxacino 750 mg VO 2x/dia.
  • Rifampicina 600 mg VO 1x/dia (opcional para aumentar a penetração intracelular).

2. Terapia de Manutenção (Após Melhora Clínica)

  • Ciprofloxacino 750 mg VO 2x/dia.
  • Eritromicina 500 mg VO 4x/dia.
  • Alternativas:
    • Linezolida (eficaz, mas alto risco de toxicidade hematológica).
    • Doxiciclina ou TMP/SMX.

3. Duração do Tratamento

  • Pneumonia localizada: 10-14 dias (casos leves).
  • Cavitação pulmonar ou doença disseminada: 3-6 meses.
  • Infecções osteoarticulares e SNC: ≥6 meses.

4. Cirurgia

  • Drenagem de abscessos pulmonares e cerebrais pode ser necessária.

Prognóstico e Seguimento

  • Mortalidade geral ~20%, podendo atingir 50% em pacientes HIV/AIDS.
  • Recorrência comum se tratamento for interrompido precocemente.
  • Supressão crônica pode ser necessária em pacientes imunocomprometidos.

Prevenção e Controle

  • Evitar contato com animais infectados em grupos de risco.
  • Monitoramento rigoroso de pacientes imunossuprimidos.
  • Remoção de cateteres venosos infectados para evitar a bacteremia persistente.

Conclusão

O Rhodococcus hoagii é um patógeno oportunista que pode causar pneumonia cavitária, bacteremia e infecções disseminadas, especialmente em imunossuprimidos. O tratamento deve envolver antibioticoterapia combinada e prolongada, com ajuste baseado em susceptibilidade antimicrobiana. A mortalidade permanece alta em casos graves, exigindo diagnóstico precoce e manejo agressivo.

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Referências

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