O gênero Providencia pertence à família Enterobacteriaceae e inclui espécies como Providencia stuartii, Providencia rettgeri, Providencia alcalifaciens, Providencia heimbachae e Providencia rustigianii. Essas bactérias são Gram-negativas, móveis e não fermentadoras de lactose, frequentemente associadas a infecções hospitalares, particularmente em pacientes com dispositivos médicos.
O isolamento de Providencia spp. é mais comum em infecções do trato urinário (ITU) associadas a cateteres, mas também pode causar bacteremia, infecções de feridas, pneumonia e infecções gastrointestinais.
Microbiologia
- Bacilos Gram-negativos, móveis e aeróbicos facultativos.
- Não fermentam lactose.
- Crescem em meios seletivos, incluindo Ágar MacConkey.
- Produzem urease (exceto P. alcalifaciens), favorecendo a formação de cálculos urinários.
- Muitas cepas produzem beta-lactamases de espectro estendido (ESBLs) e carbapenemases, conferindo resistência a diversos antibióticos.
Epidemiologia e Fatores de Risco
- Infecções hospitalares e relacionadas a dispositivos médicos são as mais comuns.
- Pacientes com risco aumentado incluem:
- Idosos com cateter urinário crônico.
- Pacientes imunossuprimidos (HIV, transplantados, quimioterapia).
- Indivíduos com exposição prévia a múltiplos antibióticos.
- Pacientes internados em UTI.
- Bacteremias associadas a cateteres venosos e ITU são comuns.
Manifestações Clínicas
1. Infecções do Trato Urinário (ITU)
- ITU complicada e associada a cateteres.
- Pode levar a “síndrome do saco de urina roxo”, fenômeno causado pela conversão do sulfato de indoxila em pigmentos vermelho (indirubina) e azul (índigo).
2. Bacteremia e Sepse
- Mais comum em pacientes idosos e imunossuprimidos.
- P. stuartii e P. rettgeri são as principais causas.
3. Infecções Cutâneas e de Feridas
- Associadas a queimaduras e úlceras de pressão.
- Frequente em pacientes hospitalizados e institucionalizados.
4. Pneumonia
- Pode ocorrer em pacientes entubados e associados à ventilação mecânica.
- Comum em infecções polimicrobianas.
5. Infecções Gastrointestinais
- P. alcalifaciens tem sido associada a diarreia enteroinvasiva, especialmente em viajantes.
Diagnóstico
- Cultura em meios seletivos (MacConkey, Ágar sangue).
- Testes bioquímicos:
- Urease positivo (exceto P. alcalifaciens).
- Indol positivo em P. rettgeri e P. stuartii.
- Teste de sensibilidade antimicrobiana essencial devido à alta resistência.
Tratamento
Providencia spp. apresenta multirresistência, sendo essencial o teste de suscetibilidade.
1. Infecção do Trato Urinário
- Casos leves:
- Ciprofloxacino 500-750 mg VO a cada 12h por 7 dias.
- TMP/SMX 1 DS VO a cada 12h por 7-10 dias.
- Casos graves ou ITU complicada:
- Ceftriaxona 1-2 g IV 1x/dia por 7-14 dias.
- Ertapenem 1 g IV 1x/dia (se ESBL+).
- Meropenem 1 g IV a cada 8h (se resistência a cefepime).
2. Bacteremia e Sepse
- Meropenem 1-2 g IV a cada 8 h (se ESBL+).
- Imipenem 500 mg IV a cada 6h (casos graves).
- Cefepime 2 g IV a cada 12h (se suscetível).
- Ceftazidima/avibactam 2,5 g IV a cada 8h (se carbapenemase +).
3. Infecções Cutâneas e de Feridas
- Ampicilina/sulbactam 3 g IV a cada 6h.
- Piperacilina/tazobactam 4,5 g IV a cada 6h.
4. Pneumonia Hospitalar
- Meropenem 1 g IV a cada 8h ou Piperacilina/tazobactam 4,5 g IV a cada 6h.
5. Infecção Gastrointestinal (Diarreia)
- Reidratação oral ou IV.
- Ciprofloxacino 500 mg VO a cada 12h por 3-5 dias (se grave).
Resistência Antimicrobiana:
- Intrinsecamente resistente a colistina e tigeciclina.
- Aminoglicosídeos são ativos contra a maioria das cepas.
- Aumento da resistência a fluoroquinolonas e cefalosporinas de 3ª geração.
Prevenção e Controle
- Redução do uso desnecessário de antibióticos para evitar resistência.
- Troca frequente de cateteres urinários.
- Monitoramento rigoroso de pacientes hospitalizados.
Conclusão
As infecções por Providencia spp. são frequentemente associadas a ITUs complicadas, bacteremia e pneumonia hospitalar. O tratamento deve ser baseado em testes de suscetibilidade, considerando a resistência crescente a beta-lactâmicos, fluoroquinolonas e aminoglicosídeos. O uso de carbapenêmicos pode ser necessário para infecções graves causadas por isolados ESBL ou carbapenemase +.
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Referências
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