As espécies do gênero Proteus são bacilos Gram-negativos, móveis e urease-positivos, pertencentes à família Enterobacteriaceae. São conhecidos por sua capacidade de causar infecções do trato urinário (ITU), infecções de feridas, pneumonia hospitalar e infecções associadas a dispositivos médicos.
A espécie mais comum, Proteus mirabilis, é responsável por 90% das infecções relacionadas a esse gênero. Outras espécies clinicamente relevantes incluem Proteus vulgaris e Proteus penneri, que possuem maior resistência antimicrobiana.
Microbiologia
- Bacilos Gram-negativos aeróbicos, urease-positivos.
- Não fermentam lactose, mas são oxidase-negativos e catalase-positivos.
- Mobilidade em “swarming” (propagação rápida em ágar úmido).
- Podem elevar o pH urinário (>8,0) devido à atividade ureásica, favorecendo a formação de cálculos de estruvita e hidroxiapatita.
- Produzem beta-lactamases do tipo AmpC e, em alguns casos, ESBL (beta-lactamases de espectro estendido).
Principais Espécies
- Proteus mirabilis: Mais comum em ITUs, indole-negativo.
- Proteus vulgaris: Indole-positivo, maior resistência antimicrobiana.
- Proteus penneri: Indole-positivo, geralmente resistente a beta-lactâmicos.
Epidemiologia e Fatores de Risco
- Segunda Enterobacteriaceae mais isolada após E. coli.
- Responsável por <10% das ITUs não complicadas e infecções urinárias complicadas (cUTI), especialmente em pacientes com cateter vesical.
- 1% dos casos de bacteremia hospitalar.
- Mais comum em:
- Pacientes com cateter urinário prolongado.
- Pacientes imunossuprimidos.
- Indivíduos com anormalidades anatômicas urinárias ou cálculos renais.
- Pacientes com infecções hospitalares associadas a dispositivos médicos.
Manifestações Clínicas
1. Infecções do Trato Urinário (ITU)
- Causador frequente de ITU complicada.
- Sintomas:
- Disúria, polaciúria, urgência urinária.
- Urina alcalina e turva devido à produção de urease.
- Complicações:
- Formação de cálculos renais de estruvita (“cálculos coraliformes”).
- Pielonefrite crônica e recorrente.
2. Infecções Intra-Abdominais
- Associadas a perfuração intestinal, abscessos intra-abdominais e peritonite.
- P. mirabilis pode ser isolado em infecções polimicrobianas com E. coli e Klebsiella spp..
3. Infecções de Pele e Tecidos Moles
- Infecções de feridas cirúrgicas e queimaduras.
- Úlceras de pressão e infecção de feridas diabéticas.
4. Infecções Respiratórias
- Pneumonia hospitalar associada à ventilação mecânica.
5. Bacteremia e Infecção Relacionada a Cateter
- Pode ser primária ou secundária a ITU complicada.
6. Endocardite (Raro)
- Mais comum em usuários de drogas intravenosas ou em próteses valvares.
Diagnóstico
1. Cultura
- Urocultura em pacientes com suspeita de ITU.
- Hemocultura em casos de bacteremia ou sepse.
- Cultura de feridas e fluidos corporais em infecções cirúrgicas e abscessos.
2. Exame de Urina
- pH urinário >8,0 pode sugerir Proteus spp..
- Cristais de estruvita (fosfato de amônio e magnésio).
3. Testes Bioquímicos
- Indole negativo em P. mirabilis.
- Indole positivo em P. vulgaris e P. penneri.
4. Testes Moleculares
- PCR 16S rRNA pode confirmar o diagnóstico em infecções graves.
Tratamento
A resistência antimicrobiana pode ser significativa. Testes de suscetibilidade são essenciais.
1. Infecções Urinárias
- Casos leves (ITU não complicada):
- Amoxicilina/clavulanato 875 mg VO a cada 12h por 3 dias.
- Ciprofloxacino 250-500 mg VO 2x/dia por 3 dias.
- TMP/SMX 1 DS VO 2x/dia por 3 dias.
- Casos moderados a graves (pielonefrite, ITU complicada):
- Ceftriaxona 1-2 g IV 1x/dia por 7-14 dias.
- Ertapenem 1 g IV 1x/dia (se ESBL+).
- Meropenem 1 g IV a cada 8h (se resistência a cefepime).
2. Infecções Invasivas (Bacteremia, Pneumonia, Infecção de Cateter)
- Empírico para infecções graves:
- Meropenem 1 g IV a cada 8h.
- Imipenem/cilastatina 500 mg IV a cada 6h.
- Cefepime 2 g IV a cada 12h (se ESBL negativo).
- Ceftazidima/avibactam 2,5 g IV a cada 8h (se carbapenemase+).
3. Infecções Osteoarticulares
- Ceftriaxona 2 g IV 1x/dia por 4-6 semanas.
- Se ESBL+: Meropenem 1 g IV a cada 8h.
4. Infecção Relacionada a Dispositivos
- Remoção do cateter + Cefepime ou Meropenem IV.
Resistência Antimicrobiana
- P. mirabilis geralmente suscetível a ampicilina e cefalosporinas de primeira geração.
- P. vulgaris e P. penneri frequentemente resistentes a ampicilina e cefalosporinas.
- Presença de ESBL e AmpC β-lactamase em até 20% dos isolados.
- Carbapenemases (KPC, NDM) descritas em isolados multirresistentes.
Prevenção e Controle
- Higiene rigorosa e uso adequado de cateteres urinários.
- Evitar uso indiscriminado de antibióticos para reduzir resistência.
- Monitoramento de pacientes com ITU recorrente para nefrolitíase.
Conclusão
As infecções por Proteus spp. são frequentemente associadas a ITU complicada e bacteremia hospitalar. O tratamento deve ser baseado em testes de suscetibilidade, considerando a resistência crescente a beta-lactâmicos e quinolonas. O uso de carbapenêmicos pode ser necessário para infecções graves causadas por isolados ESBL ou AmpC+.
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Referências
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