Neisseria meningitidis:

A Neisseria meningitidis (N. meningitidis), ou meningococo, é um diplococo Gram-negativo, aeróbico e encapsulado, responsável por meningite bacteriana e meningococcemia. A bactéria coloniza a orofaringe de ~10% da população saudável, podendo invadir a corrente sanguínea e causar doença invasiva, especialmente em crianças, adolescentes e imunossuprimidos.

A Neisseria meningitidis (N. meningitidis), ou meningococo, é um diplococo Gram-negativo, aeróbico e encapsulado, responsável por meningite bacteriana e meningococcemia. A bactéria coloniza a orofaringe de ~10% da população saudável, podendo invadir a corrente sanguínea e causar doença invasiva, especialmente em crianças, adolescentes e imunossuprimidos.

A introdução da vacinação reduziu significativamente a incidência da meningite meningocócica, mas surtos ainda ocorrem em ambientes fechados (dormitórios, quartéis, creches) e em regiões endêmicas como o Cinturão da Meningite na África.

Microbiologia

  • Diplococo Gram-negativo, oxidase e catalase positivo.
  • Cresce em meios enriquecidos (Ágar Chocolate, Thayer-Martin).
  • Encapsulado, com 13 sorogrupos:
    • Os mais importantes clinicamente: A, B, C, W, Y.
    • Sorogrupo B: mais prevalente nos EUA e Europa.
    • Sorogrupo C: surtos relatados na África, Brasil e EUA.
  • Produz endotoxinas (LPS), causando inflamação sistêmica e choque séptico.

Transmissão

  • Contato direto com secreções respiratórias infectadas.
  • Transmissão por gotículas em ambientes fechados.
  • Surto recente em HSH (homens que fazem sexo com homens).

Epidemiologia e Fatores de Risco

  • Maior incidência em crianças de 6 meses a 5 anos e adolescentes de 15 a 24 anos.
  • Fatores de risco:
    • Asplenia funcional (ex.: doença falciforme).
    • Deficiência de complemento (C5-C9).
    • Uso de Eculizumab (Soliris®).
    • Contato próximo com casos confirmados.
    • Tabagismo passivo e ativo.

Manifestações Clínicas

1. Meningite Meningocócica

  • Sintomas clássicos:
    • Febre alta.
    • Cefaleia intensa.
    • Rigidez de nuca.
    • Alteração do nível de consciência.
    • Petéquias e púrpura fulminante.
  • Líquor cefalorraquidiano (LCR):
    • Pleocitose (>1000 células/mm³, predominância de PMNs).
    • Hipoglicorraquia e hiperproteinorraquia.
    • Cultura do LCR positiva em 50-70% dos casos.

2. Meningococcemia (Bacteremia Fulminante)

  • Síndrome de Waterhouse-Friderichsen:
    • Choque séptico + hemorragia adrenal + CIVD.
    • Mortalidade elevada (~40%).
  • Purpura fulminans:
    • Lesões necróticas extensas, podendo levar a amputações.

3. Outras Manifestações

  • Uretrite meningocócica (HSH): pode ser confundida com gonorreia.
  • Pneumonia meningocócica: incomum, geralmente por sorogrupos Y e W.
  • Artrite séptica e endocardite (raros).

Diagnóstico

A meningite meningocócica é uma emergência médica!

1. Cultura e Gram

  • Hemoculturas: positivas em ~50% dos casos.
  • Gram do LCR:
    • Diplococos Gram-negativos dentro de PMNs.
  • Cultura do LCR e sangue:
    • Cresce em Ágar Chocolate ou Thayer-Martin.

2. PCR

  • Alta sensibilidade (~90%), especialmente útil após início de antibióticos.

3. Testes Rápidos

  • Painéis moleculares multiplex (FilmArray®) detectam N. meningitidis rapidamente no LCR.

Tratamento

Iniciar antibióticos imediatamente! Não aguardar confirmação laboratorial.

1. Terapia Empírica Inicial

  • Ceftriaxona 2 g IV a cada 12h OU Cefotaxima 2 g IV a cada 6h.
  • Vancomicina 15-20 mg/kg IV a cada 12h (cobrir S. pneumoniae até confirmação do patógeno).
  • Dexametasona 10 mg IV a cada 6h por 2-4 dias (se suspeita de meningite pneumocócica).

2. Tratamento Dirigido (Após Identificação de N. meningitidis)

  • Ceftriaxona 2 g IV a cada 12h por 7 dias.
  • Alternativa (se suscetível):
    • Penicilina G 18-24 milhões de UI/dia IV (divididos a cada 4h).
    • Ampicilina 12 g/dia IV.

3. Beta-Lactamase Positiva ou Alergia a Beta-Lactâmicos

  • Moxifloxacino 400 mg/dia IV.
  • Cloranfenicol 4-6 g/dia IV (raro, para alergia grave).

Profilaxia Pós-Exposição

Indicar profilaxia para contatos próximos (familiares, colegas de quarto, profissionais de saúde com exposição a secreções).

  • Rifampicina 600 mg VO 2x/dia por 2 dias (Crianças: 10 mg/kg/dose).
  • Ciprofloxacino 500 mg VO dose única.
  • Ceftriaxona 250 mg IM dose única (500 mg em gestantes).

Vacinação

1. Vacinas Conjugadas (MenACWY)

  • Menactra®, Menveo®:
    • Dose aos 11-12 anos + reforço aos 16 anos.
    • Indicado para viajantes ao Cinturão da Meningite (África).

2. Vacina Contra Meningococo B (MenB)

  • Bexsero® ou Trumenba®:
    • Indicação para imunossuprimidos, universitários e surtos.

3. Vacinação em HIV+ e Uso de Eculizumab

  • Imunização obrigatória devido ao risco 1000x maior de doença invasiva.

Prevenção e Controle

  • Isolamento respiratório por 24h após início dos antibióticos.
  • Monitoramento de surtos em universidades e comunidades fechadas.
  • Vacinação obrigatória para militares, universitários e viajantes para áreas endêmicas.Conclusão

A Neisseria meningitidis continua sendo um patógeno de alta mortalidade, especialmente em meningite e meningococcemia fulminante. O diagnóstico precoce e o tratamento imediato com ceftriaxona são essenciais para reduzir complicações e óbitos. Vacinação e profilaxia pós-exposição são estratégias fundamentais para o controle da doença.

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Referências

  1. Mbaeyi SA, Bozio CH, Duffy J, et al. Meningococcal Vaccination: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices, United States, 2020. MMWR Recomm Rep. 2020;69(9):1-41. [PMID:33417592].
  2. CDC. Meningococcal Disease Outbreak among Gay, Bisexual Men in Florida, 2021–22. [Acesso: 2024]. Disponível em: CDC.
  3. McNamara LA, Potts C, Blain AE, et al. Detection of Ciprofloxacin-Resistant, β-Lactamase-Producing Neisseria meningitidis Serogroup Y – United States, 2019-2020. MMWR. 2020;69(24):735-739. [PMID:32555137].

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