
Volume alto, estrutura precária e risco elevado. Veja como o SCIH pode (e deve) atuar nos mutirões.
Mutirões oftalmológicos — especialmente para correção de catarata e remoção de pterígio — tornaram-se estratégias frequentes no sistema público de saúde, com o objetivo de reduzir filas e ampliar o acesso à cirurgia eletiva. No entanto, a realização em larga escala, muitas vezes terceirizada e executada em ambientes improvisados, traz desafios significativos em termos de biossegurança e prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
A atuação do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) nesses cenários é essencial, mas nem sempre ocorre de forma sistemática. A ausência de acompanhamento técnico adequado pode expor pacientes a riscos evitáveis — inclusive à perda irreversível da função visual.
Estrutura precária, volume elevado e processos frágeis: a combinação perigosa
Ao longo dos últimos anos, diversos mutirões foram realizados em ginásios, escolas, estruturas móveis ou tendas montadas temporariamente. Essas unidades nem sempre contam com áreas críticas devidamente separadas, climatização controlada, barreiras físicas ou fluxo adequado de pessoas e materiais. Frequentemente, não há Central de Material Esterilizado (CME) no local e o reprocessamento dos instrumentais cirúrgicos ocorre de forma centralizada, com transporte diário.
Essa logística apresenta inúmeros pontos de falha: embalagens comprometidas durante o trajeto, armazenamento inadequado no local do mutirão, ausência de rastreabilidade entre paciente e instrumental, e reuso indevido de itens de uso único.
Além disso, a manipulação de soluções anestésicas, antissépticos e colírios em ambientes sem padrão de assepsia ou com frascos multidose reutilizados representa uma ameaça real. Pequenas falhas nesses processos podem culminar em surtos de difícil controle.
Casos reais: surtos documentados em mutirões oftalmológicos
Alguns eventos adversos registrados nos últimos anos reforçam a gravidade do problema. Relatórios da Anvisa, notas técnicas estaduais e publicações científicas apontam surtos de:
- Pseudomonas aeruginosa, com casos de endoftalmite aguda e perda total do globo ocular;
- Infecções fúngicas tardias, especialmente por Fusarium e Candida spp., muitas vezes diagnosticadas dias após o procedimento;
- Presença de enterobactérias multirresistentes no líquido intraocular coletado de pacientes submetidos ao mesmo mutirão.
Em todos esses episódios, a ausência de protocolos robustos de controle de infecção e a falta de rastreabilidade dificultaram a identificação da fonte e o controle do surto.
O que o SCIH pode e deve fazer?
A inclusão do SCIH desde o planejamento é um elemento de segurança assistencial. As principais frentes de atuação incluem:
- Participar da avaliação técnica do local e da equipe executora, antes da assinatura de contratos ou convênios.
- Inspecionar as condições de reprocessamento, transporte e armazenamento dos instrumentais.
- Revisar os protocolos clínicos, especialmente sobre antisepsia ocular, uso de colírios, antibióticos profiláticos e descarte de frascos multidose.
- Garantir rastreabilidade entre pacientes, materiais e equipe, assegurando possibilidade de investigação em caso de complicações.
- Estabelecer plano de vigilância ativa pós-operatória, com indicadores de infecção e critérios para notificação.
- Elaborar plano de resposta rápida a surtos, com fluxos de comunicação e investigação.
- Atuar junto à Vigilância Sanitária em caso de eventos adversos graves, garantindo notificação tempestiva.
Segurança do paciente não é opcional
Mutirões de cirurgia são ações de impacto social relevante e necessitam de estrutura mínima. No entanto, isso não pode ser usado como justificativa para negligenciar práticas básicas de segurança. A atuação do SCIH é um componente essencial para que essas ações sejam não apenas eficazes, mas seguras e sustentáveis.
Suporte técnico especializado: como podemos ajudar
Nossa consultoria em IRAS está preparada para apoiar instituições públicas e privadas na estruturação de protocolos, avaliação de prestadores de serviço, elaboração de planos de vigilância e condução de investigações epidemiológicas. Além disso, oferecemos capacitações para equipes envolvidas nos mutirões, com foco em boas práticas, biossegurança e prevenção de eventos adversos.
Se sua instituição participa de mutirões ou contrata esse tipo de serviço, entre em contato com nossa equipe técnica. Estamos prontos para colaborar com soluções baseadas em evidência, respeitando as particularidades de cada contexto e priorizando a segurança do paciente em primeiro lugar.