O Helicobacter pylori é uma bactéria Gram-negativa espiralada, altamente adaptada ao ambiente gástrico humano. Coloniza a mucosa gástrica e pode induzir inflamação crônica, predispondo indivíduos a doenças como úlcera péptica, gastrite crônica, adenocarcinoma gástrico e linfoma MALT.
O H. pylori é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um carcinógeno do Grupo 1, devido à sua forte associação com o câncer gástrico. Estima-se que 30-40% da população dos EUA esteja infectada, com taxas superiores a 80% em países de baixa renda.
Microbiologia e Fisiopatologia
- Bacilo Gram-negativo, microaerófilo e flagelado.
- Produz urease, permitindo a neutralização do ácido gástrico e sobrevivência no estômago.
- Fatores de virulência:
- CagA: proteína associada a maior risco de câncer gástrico.
- VacA: toxina vacuolizante que contribui para a patogenicidade.
- Lipopolissacarídeos (LPS): modulam a resposta imune do hospedeiro.
Resistência Antimicrobiana
- Resistência intrínseca: sulfonamidas, trimetoprim e vancomicina.
- Resistência ao metronidazol: 22-39% nos EUA.
- Resistência à claritromicina: 11-24%, sendo um dos principais fatores de falha terapêutica.
- Amoxicilina e tetraciclina: resistência menos comum.
Epidemiologia e Fatores de Risco
- Maior prevalência em regiões pobres e com saneamento inadequado.
- Fatores de risco:
- Baixo nível socioeconômico.
- Contato próximo em ambientes superlotados.
- Consumo de água contaminada.
- História familiar de câncer gástrico.
- Uso crônico de AINEs (associado a úlcera péptica).
Manifestações Clínicas
A maioria dos indivíduos colonizados pelo H. pylori é assintomática, mas alguns desenvolvem doenças associadas, como:
1. Doença Ulcerosa Péptica (DUP)
- H. pylori é responsável por 50-75% das úlceras duodenais nos EUA.
- Sintomas:
- Dor epigástrica (associada ou não à alimentação).
- Náuseas e vômitos.
- Sensação de plenitude gástrica.
- Complicações:
- Perfuração, hemorragia digestiva e estenose pilórica.
2. Gastrite Crônica
- Pode levar à atrofia gástrica e metaplasia intestinal.
- A inflamação prolongada está associada a um aumento do risco de câncer gástrico.
3. Câncer Gástrico e Linfoma MALT
- H. pylori é a principal causa de adenocarcinoma gástrico não cárdico.
- O linfoma MALT pode regredir após a erradicação do H. pylori.
4. Manifestações Extraintestinais
- Deficiência de ferro inexplicada.
- Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) (associação mais forte em populações asiáticas).
Diagnóstico
A testagem para H. pylori é recomendada para:
- Pacientes com úlcera péptica ativa ou história de PUD não tratada previamente.
- Linfoma MALT gástrico.
- Câncer gástrico precoce, após ressecção.
- Dispepsia funcional em pacientes < 60 anos sem sintomas de alarme.
Métodos Diagnósticos
Os testes podem ser invasivos (endoscópicos) ou não invasivos.
Testes Invasivos (Endoscopia + Biópsia)
- Histologia (padrão-ouro).
- Teste rápido da urease (sensibilidade > 95%).
- Cultura (baixa sensibilidade; útil para teste de resistência).
- PCR (altamente específico, mas de disponibilidade limitada).
Testes Não Invasivos
- Teste de antígeno fecal (~92% sensibilidade e especificidade).
- Teste respiratório com ureia marcada (sensibilidade ~90%).
- Sorologia (IgG anti-H. pylori):
- Não distingue infecção ativa de exposição passada.
- Não recomendado na maioria dos casos.
Confirmação da Erradicação
- Teste respiratório ou antígeno fecal ≥ 4 semanas após o término do antibiótico e ≥ 2 semanas após a suspensão do IBP.
Tratamento
Opções Terapêuticas
1. Terapia Tripla Baseada em Claritromicina (se resistência < 15%)
- IBP + claritromicina 500 mg VO 2x/dia + amoxicilina 1 g VO 2x/dia por 14 dias.
- Alternativa para alérgicos à penicilina: metronidazol 500 mg 2x/dia.
- Taxa de erradicação: ~70%.
2. Terapia Quádrupla com Bismuto (se alta resistência a claritromicina)
- IBP + bismuto 525 mg 4x/dia + tetraciclina 500 mg 4x/dia + metronidazol 500 mg 3x/dia por 10-14 dias.
- Taxa de erradicação: 75-90%.
3. Terapia Concomitante
- IBP + amoxicilina 1 g 2x/dia + claritromicina 500 mg 2x/dia + metronidazol 500 mg 2x/dia por 10-14 dias.
- Taxa de erradicação: ≥ 90%.
4. Terapia Sequencial
- IBP + amoxicilina 1 g 2x/dia por 7 dias, seguido por IBP + claritromicina 500 mg 2x/dia + metronidazol 500 mg 2x/dia por 7 dias.
- Taxa de erradicação: 90-92%.
5. Terapia com Levofloxacino (segunda linha)
- IBP + levofloxacino 500 mg 1x/dia + amoxicilina 1 g 2x/dia por 10-14 dias.
- Taxa de erradicação: 83%.
Prevenção
- Melhoria nas condições sanitárias.
- Evitar contato oral com secreções gástricas contaminadas.
- Uso racional de antibióticos para minimizar resistência.
Conclusão
O H. pylori é uma infecção crônica que pode levar a úlceras, câncer gástrico e linfoma MALT. O diagnóstico é baseado em testes invasivos e não invasivos, e o tratamento deve ser escolhido conforme o perfil de resistência antimicrobiana. A terapia quádrupla tem sido cada vez mais recomendada devido ao aumento da resistência à claritromicina.
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Referências
- Chey WD, Leontiadis GI, Howden CW, et al. ACG Clinical Guideline: Treatment of Helicobacter pylori Infection. Am J Gastroenterol. 2017;112(2):212-239. [PMID:28071659].
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- Malfertheiner P, Megraud F, O’Morain CA, et al. Management of Helicobacter pylori infection—the Maastricht V/Florence Consensus Report. Gut. 2017;66(1):6-30. [PMID:27707777].