Endoftalmite infecciosa: quando e como coletar amostras oculares para microbiologia

Introdução

A endoftalmite é uma infecção intraocular severa que pode ocorrer como complicação de procedimentos oftalmológicos invasivos, como cirurgias de catarata, injeções intravítreas ou em decorrência de trauma penetrante. Apesar de ser uma condição rara, seu impacto clínico é significativo: pode levar à perda funcional e anatômica do olho, além de representar um evento sentinela dentro das instituições de saúde.

A endoftalmite, uma condição que pode ser grave para os pacientes, exige atenção especial dos profissionais de saúde. Essa infecção pode se manifestar rapidamente e, em muitos casos, a intervenção precoce é necessária para preservar a visão. Além disso, é importante discutir a etiologia da endoftalmite, que pode incluir bactérias, fungos ou até mesmo parasitas em casos raros, e como cada um desses agentes pode afetar o tratamento e o prognóstico dos pacientes.

Os profissionais de saúde devem estar cientes de que a endoftalmite pode ser causada por agentes patogênicos que podem se desenvolver em ambientes hospitalares, especialmente em pacientes submetidos a cirurgias. Uma análise cuidadosa do histórico do paciente, incluindo condições pré-existentes como diabetes mellitus ou uso de imunossupressores, pode ajudar a identificar grupos de risco e a implementar medidas de prevenção adequadas.

Para os profissionais que atuam ou desejam atuar no controle de infecção hospitalar com foco em oftalmologia, entender o momento oportuno e a técnica correta para a coleta de amostras oculares é essencial para um diagnóstico microbiológico eficaz e uma conduta terapêutica mais assertiva.

Além disso, a presença de secreção purulenta e a sensação de corpo estranho também são queixas comuns relatadas pelos pacientes. É importante que os médicos não apenas reconheçam esses sinais, mas também estejam preparados para agir rapidamente, visto que atrasos no diagnóstico e tratamento podem levar a complicações graves, incluindo a perda total da visão.

Quando suspeitar de endoftalmite?

Sinais clínicos sugestivos de endoftalmite incluem:

  • Dor ocular intensa
  • Perda visual aguda e progressiva
  • Hiperemia conjuntival difusa
  • Turvação da câmara anterior com presença de hipópio

Nesses casos, a coleta de amostras deve ser feita antes do início do tratamento empírico, para garantir a acurácia microbiológica.

Qual o momento ideal para a coleta de amostras?

Observando a importância da coleta de amostras antes do tratamento, os profissionais devem ser treinados em técnicas de amostragem que minimizem o desconforto do paciente, garantindo a coleta eficaz dos fluidos oculares. A comunicação clara com o paciente sobre o que esperar durante o procedimento é fundamental para reduzir a ansiedade e facilitar a cooperação.

O melhor momento para a coleta é logo após a suspeita clínica ser estabelecida, preferencialmente antes da administração de antibióticos intravítreos. Essa janela é crítica para o sucesso do isolamento microbiológico.

O reconhecimento da janela ideal para a coleta de amostras é um ponto crítico. Profissionais precisam estar cientes de que, mesmo pequenas extensões de tempo podem impactar negativamente os resultados microbiológicos. Portanto, ter um protocolo claro que detalhe cada passo do processo de coleta é essencial para garantir a eficiência e a precisão dos testes diagnósticos.

Que tipos de amostras coletar em suspeita de endoftalmite?

A coleta de humor vítreo, considerada o padrão-ouro, deve ser realizada em ambientes controlados, garantindo a assepsia e a segurança do procedimento. Além disso, é importante que os profissionais tenham um entendimento claro sobre as complicações potenciais associadas a esse procedimento, como hemorragias ou perfurações inadvertidas.

Além disso, a coleta de amostras deve ser documentada adequadamente para garantir que todas as informações relevantes sobre os patógenos identificados estejam disponíveis para o tratamento. Essa documentação é crucial não apenas para o tratamento imediato, mas também para futuros estudos e análises epidemiológicas.

Coleta de humor vítreo

É o padrão-ouro na investigação microbiológica da endoftalmite. Deve ser realizada por via pars plana, utilizando agulha 23G, ou via vitrectomia pars plana nos centros que dispõem da técnica.

Embora a coleta de humor aquoso possa ser uma alternativa em certas circunstâncias, os profissionais devem estar cientes de que as informações obtidas podem ser limitadas. Portanto, sempre que possível, a coleta de humor vítreo deve ser priorizada, considerando o contexto clínico e as condições do paciente.

Coleta de humor aquoso

Pode ser uma alternativa em situações em que o vítreo não está acessível. Apesar de ter sensibilidade menor, ainda fornece subsídios importantes para o diagnóstico, especialmente em infecções fúngicas.

Quais exames microbiológicos solicitar?

A solicitação de exames microbiológicos deve ser feita de maneira abrangente, considerando que a endoftalmite pode ser causada por uma variedade de patógenos. É aconselhável que profissionais se mantenham atualizados sobre as metodologias laboratoriais mais recentes e eficazes para o diagnóstico rápido e preciso dessa condição.

  • Gram + cultura para bactérias aeróbias e anaeróbias
  • Cultura para fungos em meio de Sabouraud
  • PCR para DNA bacteriano e fúngico (quando disponível)

É fundamental que o laboratório de microbiologia esteja treinado para trabalhar com volumes reduzidos e siga protocolos específicos para materiais oculares.

E se a coleta não for possível?

Em casos em que a coleta de amostras não é possível, é recomendado fornecer um plano de ação para o tratamento empírico baseado nos sinais clínicos e nos fatores de risco do paciente. A colaboração entre a equipe médica é essencial para discutir as alternativas e garantir que o paciente receba o melhor cuidado possível, mesmo nas situações mais desafiadoras.

Embora não seja o ideal, há situações clínicas em que a coleta não pode ser realizada. Nesses casos:

  • Documente claramente os impedimentos técnicos no prontuário.
  • Inicie tratamento empírico imediato com cobertura para:
    • Bactérias Gram-positivas e Gram-negativas
    • Fungos, especialmente em pacientes imunossuprimidos ou internados

Conclusão

A coleta adequada de amostras oculares na suspeita de endoftalmite é um passo crítico na condução clínica desses casos. O conhecimento sobre indicações, técnica e exames é indispensável para profissionais que atuam ou desejam atuar no controle de infecção com foco em oftalmologia.

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