Espécies de Borrelia:
O gênero Borrelia compreende várias espécies de espiroquetas Gram-negativas que causam doenças humanas, principalmente a Febre Recorrente (Relapsing Fever – RF) e a Doença de Lyme. A transmissão ocorre principalmente por vetores artrópodes, incluindo carrapatos e piolhos. As infecções por Borrelia podem se manifestar como doenças febris recorrentes ou crônicas, dependendo da espécie envolvida (AUWAERTER, 2025).
As espécies de Borrelia podem ser divididas em dois grupos principais:
- Grupo da Doença de Lyme: Inclui Borrelia burgdorferi sensu lato.
- Grupo da Febre Recorrente (RF): Inclui espécies como Borrelia recurrentis e Borrelia miyamotoi.
Microbiologia
As espécies de Borrelia são espiroquetas helicoidais, móveis e Gram-negativas, com comprimento que varia de 5 a 40 µm e 3 a 10 espirais. A transmissão ocorre principalmente por meio de:
- Carrapatos (Ornithodoros e Ixodes).
- Piolhos humanos (Pediculus humanus).
Principais Espécies
- Borrelia burgdorferi sensu lato (Doença de Lyme):
- Transmitida por carrapatos Ixodes.
- Comum na América do Norte e Europa.
- Borrelia recurrentis (Febre Recorrente Epidêmica):
- Transmitida por piolhos (Pediculus humanus).
- Endêmica na África Central e Oriental.
- Borrelia hermsii, B. parkeri e B. turicatae (Febre Recorrente Transmitida por Carrapato – TBRF):
- Transmitidas por carrapatos moles do gênero Ornithodoros.
- Relatadas principalmente nos Estados Unidos.
- Borrelia miyamotoi:
- Transmitida por carrapatos Ixodes, semelhante à Doença de Lyme.
- Causa febre e pode mimetizar anaplasmose ou doença de Lyme (AUWAERTER, 2025).
Epidemiologia
1. Febre Recorrente Transmitida por Carrapatos (TBRF)
- Comum em áreas montanhosas dos EUA (Cascades, Sierra Nevada, Rockies).
- Vetores: Carrapatos moles (Ornithodoros hermsii e O. turicatae).
- Reservatórios: Pequenos mamíferos e roedores.
2. Febre Recorrente Transmitida por Piolhos (LBRF)
- Endêmica em regiões de pobreza e superlotação, especialmente na África Oriental e Central.
- Vectores: Piolhos do corpo (Pediculus humanus).
- Alta mortalidade se não tratada.
Manifestações Clínicas
1. Febre Recorrente (RF)
- Caracterizada por episódios recorrentes de febre alta, cefaleia, mialgia e mal-estar.
- O padrão clássico inclui 3 dias de febre, seguidos por 7 dias afebril, repetindo-se várias vezes.
- Os sintomas tendem a ser mais graves na Febre Recorrente Epidêmica (LBRF) do que na TBRF.
- Complicações: Hepatoesplenomegalia, meningite, miocardite e hemorragias.
2. Doença de Lyme (B. burgdorferi)
- Fase Inicial: Eritema migrans, febre, fadiga, artralgia.
- Fase Tardia: Artrite, manifestações neurológicas (paralisia facial, meningite), cardite.
3. Febre por B. miyamotoi
- Febre recorrente e sintomas inespecíficos.
- Pode evoluir para meningoencefalite, especialmente em imunossuprimidos.
- Similar à anaplasmose humana.
Diagnóstico
1. Métodos Laboratoriais
- Microscopia direta (coloração de Giemsa ou Wright): Visualização de espiroquetas no sangue durante a febre.
- PCR: Detecção específica de DNA de Borrelia.
- Sorologia: Utilizada principalmente para B. burgdorferi (Doença de Lyme).
2. Diagnósticos Diferenciais
- Malária, febre tifoide, leptospirose, dengue e outras doenças febris.
- Anaplasmose e ehrlichiose (em infecções por B. miyamotoi).
Tratamento
1. Febre Recorrente Transmitida por Carrapatos (TBRF)
- Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia por 10 dias.
- Tetraciclina 500 mg VO 4x/dia por 10 dias.
- Alternativa: Eritromicina 500 mg VO 4x/dia por 10 dias.
- Meningite ou encefalite: Ceftriaxona 2 g IV a cada 12 horas por 14 dias.
2. Febre Recorrente Transmitida por Piolhos (LBRF)
- Dose única de tetraciclina 500 mg VO.
- Alternativa: Eritromicina 500 mg VO dose única.
- Jarisch-Herxheimer Reaction (JHR): Monitorar rigorosamente nas primeiras horas após a administração dos antibióticos.
Prevenção e Controle
- Evitar picadas de carrapatos e piolhos:
- Uso de repelentes contendo DEET.
- Inspeção corporal após atividades ao ar livre.
- Controle de infestações por piolhos em áreas endêmicas.
- Medidas profiláticas em áreas de risco:
- Doxiciclina 200 mg VO dose única após exposição a carrapatos.
Conclusão
As infecções por Borrelia representam um desafio clínico significativo, especialmente em regiões endêmicas e populações vulneráveis. A febre recorrente pode ter desfechos graves, mas o tratamento precoce com doxiciclina ou tetraciclina é altamente eficaz. A prevenção inclui controle vetorial e medidas profiláticas em áreas de risco.
🧠 Se você chegou até aqui, é porque leva conhecimento a sério.
No App do InfectoCast, você encontra o que não cabe num post: prática, atualização e precisão.
📲 Clique aqui e mergulhe de vez.
Referências
PRITT, B. S.; FERNHOLZ, E. C.; REPLOGLE, A. J. Borrelia mayonii – A cause of Lyme borreliosis that can be visualized by microscopy of thin blood films. Clinical Microbiology and Infection, v. 28, n. 6, p. 823-824, 2022.
XU, G.; LUO, C. Y.; RIBBE, F. Borrelia miyamotoi in Human-Biting Ticks, United States, 2013-2019. Emerging Infectious Diseases, v. 27, n. 12, p. 3193-3195, 2021.
KOETSVELD, J.; PLATONOV, A. E.; KULESHOV, K. Borrelia miyamotoi infection leads to cross-reactive antibodies to the C6 peptide in mice and men. Clinical Microbiology and Infection, v. 26, n. 4, p. 513.e1-513.e6, 2020.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Relapsing fever. Disponível em: http://www.cdc.gov/relapsing-fever/. Acesso em: 18 mar. 2025.