Espécies de Rickettsia:

As bactérias do gênero Rickettsia são cocobacilos Gram-negativos intracelulares obrigatórios que infectam células endoteliais, levando a vasculite sistêmica e manifestações febris. Elas são transmitidas por vetores hematófagos, como carrapatos, pulgas, piolhos e ácaros.

As bactérias do gênero Rickettsia são cocobacilos Gram-negativos intracelulares obrigatórios que infectam células endoteliais, levando a vasculite sistêmica e manifestações febris. Elas são transmitidas por vetores hematófagos, como carrapatos, pulgas, piolhos e ácaros.

As espécies são classificadas em três grupos principais:

  1. Grupo da Febre Maculosa (Spotted Fever Group – SFG)
    • Inclui Rickettsia rickettsii (Febre Maculosa das Montanhas Rochosas) e Rickettsia conorii (Febre Maculosa do Mediterrâneo).
  2. Grupo do Tifo (Typhus Group – TG)
    • Rickettsia prowazekii (Tifo Epidêmico) e Rickettsia typhi (Tifo Murino).
  3. Grupo do Tifo Scrub
    • Orientia tsutsugamushi (Febre do Scrub).

Cada espécie tem uma distribuição geográfica distinta e está associada a diferentes vetores.

Microbiologia e Transmissão

  • Pequenos bacilos Gram-negativos.
  • Parasitas intracelulares obrigatórios (crescem apenas dentro de células hospedeiras).
  • Vetores principais:
    • Rickettsia rickettsii: carrapatos Dermacentor e Amblyomma.
    • Rickettsia typhi: pulgas de ratos (Xenopsylla cheopis).
    • Rickettsia prowazekii: piolhos humanos (Pediculus humanus).
    • Orientia tsutsugamushi: ácaros (“chiggers”).

A transmissão ocorre pela picada do vetor ou pela inalação de aerossóis contendo fezes contaminadas.

Distribuição Geográfica das Espécies de Rickettsia

1. Grupo da Febre Maculosa (SFG)

  • Américas:
    • Rickettsia rickettsii (Febre Maculosa das Montanhas Rochosas) – EUA, Brasil, Colômbia.
    • Rickettsia parkeri (Febre Boutonneuse Americana) – EUA, Argentina.
  • Europa e África:
    • Rickettsia conorii (Febre Maculosa do Mediterrâneo) – Sul da Europa, Norte da África.
    • Rickettsia africae (Febre Maculosa Africana) – África Subsaariana.
  • Ásia e Austrália:
    • Rickettsia japonica (Febre Maculosa Oriental) – Japão.
    • Rickettsia australis (Febre Maculosa Australiana) – Austrália.

2. Grupo do Tifo (TG)

  • Rickettsia prowazekii (Tifo Epidêmico) – América Central, África, Leste Europeu.
  • Rickettsia typhi (Tifo Murino) – Global, incluindo EUA, México, Sudeste Asiático.

3. Grupo do Tifo Scrub

  • Orientia tsutsugamushi (Febre do Scrub) – Sudeste Asiático, China, Austrália.

Manifestações Clínicas

As infecções por Rickettsia compartilham um quadro clínico semelhante, com febre, cefaleia, exantema e manifestações sistêmicas.

1. Febre Maculosa das Montanhas Rochosas (Rickettsia rickettsii)

  • Febre alta súbita (>39°C).
  • Cefaleia intensa e mialgia.
  • Exantema maculopapular que progride para petequial:
    • Inicia nos punhos e tornozelos e se espalha de forma centrípeta.
    • Presente em 90% dos casos.
  • Complicações:
    • Vasculite sistêmica → insuficiência renal, miocardite, SDRA.
    • Letalidade ≥30% sem tratamento precoce.

2. Febre Maculosa do Mediterrâneo (Rickettsia conorii)

  • Similar à RMSF, mas mais branda.
  • Tache noire (escarro no local da picada) em 30% dos casos.
  • Letalidade <5%.

3. Febre do Tifo Murino (Rickettsia typhi)

  • Transmissão por pulgas.
  • Sintomas inespecíficos: febre, dor abdominal, exantema discreto.
  • Quadro autolimitado (letalidade <1%).

4. Tifo Epidêmico (Rickettsia prowazekii)

  • Piolho humano como vetor.
  • Exantema troncular difuso.
  • Complicações neurológicas graves: coma, delírio.
  • Letalidade até 40% sem tratamento.

5. Febre do Scrub (Orientia tsutsugamushi)

  • Ácaros como vetor.
  • Tache noire no local da picada (80% dos casos).
  • Alta mortalidade se não tratada.

Diagnóstico

O tratamento nunca deve ser retardado para aguardar exames laboratoriais!

1. Exames Laboratoriais

  • Leucopenia ou leucocitose.
  • Trombocitopenia.
  • Elevação de transaminases.
  • Hiponatremia (comum na RMSF).

2. Testes Específicos

  • Sorologia por Imunofluorescência Indireta (IFA):
    • Teste padrão-ouro, mas só positivo após 7-10 dias.
    • Título ≥1:64 é sugestivo.
  • PCR para Rickettsia spp.:
    • Mais útil em biópsias de pele ou sangue periférico.
  • Biópsia de pele com imunohistoquímica:
    • Pode confirmar o diagnóstico em casos de exantema.

Tratamento

Doxiciclina deve ser iniciada imediatamente em qualquer paciente com suspeita de rickettsiose.

1. Terapia de Primeira Linha

  • Doxiciclina 100 mg VO/IV a cada 12h por 5-7 dias.
  • Crianças (<45 kg): 2,2 mg/kg/dose VO/IV a cada 12h.
  • Não suspender até 3 dias após a febre desaparecer.

Doxiciclina é segura para crianças <8 anos em cursos curtos.

2. Alternativas

  • Cloranfenicol 50 mg/kg/dia IV (em gestantes e alérgicos a tetraciclinas).
  • Azitromicina ou Josamicina (em alguns casos leves de Febre do Scrub).

3. Tratamento por Subtipo

InfecçãoTratamentoDuração
Febre Maculosa das Montanhas RochosasDoxiciclina 100 mg VO 2x/dia7-10 dias
Tifo MurinoDoxiciclina 100 mg VO 2x/dia5-7 dias
Febre do ScrubDoxiciclina 100 mg VO 2x/dia7-10 dias
Tifo EpidêmicoDoxiciclina 100 mg VO 2x/dia10-14 dias

Prevenção e Controle

  • Uso de repelentes (DEET, permetrina).
  • Controle de vetores (piolhos, pulgas e carrapatos).
  • Evitar áreas endêmicas sem proteção adequada.

Conclusão

As infecções por Rickettsia spp. são doenças febris potencialmente graves, exigindo tratamento precoce com doxiciclina para evitar complicações fatais. A prevenção através do controle de vetores continua sendo essencial para reduzir a incidência dessas infecções.

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Referências

  1. Biggs HM, Behravesh CB, Bradley KK, et al. MMWR Recomm Rep. 2016;65(2):1-44.
  2. CDC – Tickborne Rickettsial Diseases. Disponível em: CDC Rickettsial Diseases.
  3. Botelho-Nevers E, Raoult D. Expert Rev Anti Infect Ther. 2012;10(12):1425-37.

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