Espécies de Elizabethkingia:

As bactérias do gênero Elizabethkingia são bacilos Gram-negativos não fermentadores, associados a infecções nosocomiais graves, especialmente em neonatos, imunossuprimidos e pacientes de UTI. Estas bactérias são frequentemente multirresistentes a antibióticos, o que dificulta o tratamento.

As bactérias do gênero Elizabethkingia são bacilos Gram-negativos não fermentadores, associados a infecções nosocomiais graves, especialmente em neonatos, imunossuprimidos e pacientes de UTI. Estas bactérias são frequentemente multirresistentes a antibióticos, o que dificulta o tratamento.

A principal espécie patogênica é Elizabethkingia meningoseptica, historicamente conhecida como Chryseobacterium meningosepticum e antes como Flavobacterium meningosepticum. A infecção pode se manifestar como meningite neonatal, bacteremia e pneumonia hospitalar.

Microbiologia

Características Gerais

  • Bacilo Gram-negativo não fermentador, levemente curvado.
  • Aeróbio estrito, catalase-positivo, oxidase-positivo e indol-positivo.
  • Resistente a colistina, mas suscetível a vancomicina (fato incomum para um Gram-negativo).
  • Capaz de sobreviver em ambientes hospitalares, incluindo reservatórios de água, dispositivos médicos e soluções intravenosas.

Espécies Clínicas Importantes

EspécieInfecções Associadas
Elizabethkingia meningosepticaMeningite neonatal, sepse, pneumonia hospitalar
Elizabethkingia anophelisBacteremia hospitalar, associada a surtos
Elizabethkingia miricolaInfecções oportunistas em imunossuprimidos
  • Outras espécies recentemente descritas: E. bruuniana, E. ursingii, E. occulta.

Epidemiologia

  • Bactéria ambiental comum em água e solo.
  • Associada a surtos hospitalares, particularmente em UTIs neonatais.
  • Fatores de risco:
    • Prematuridade e baixo peso ao nascer.
    • Uso prolongado de ventilação mecânica e cateteres vasculares.
    • Uso de corticóides ou quimioterapia.
    • Diálise e transplantes de órgãos.
  • Surtos hospitalares notáveis:
    • 2015-2016 (Wisconsin e Michigan, EUA) → 57 casos de bacteremia, 18 óbitos.
    • 2016 (Londres, Reino Unido) → Taxa de mortalidade de 54% em UTI.

Manifestações Clínicas

1. Meningite Neonatal

  • Mais comum em neonatos prematuros (<2.500g).
  • Alta mortalidade (~50%), mesmo com tratamento.
  • Curso insidioso, com:
    • Letargia, febre, irritabilidade.
    • Convulsões, fontanela abaulada.
    • Líquor com pleocitose e proteína elevada.

2. Bacteremia e Sepse

  • Principal manifestação em adultos imunossuprimidos.
  • Febre, leucocitose e sinais de choque séptico.
  • Risco elevado em pacientes com cateter venoso central.

3. Pneumonia Nosocomial

  • Associada à ventilação mecânica.
  • Difícil distinção entre colonização e infecção verdadeira.
  • Infiltrados difusos em radiografia de tórax.

4. Outras Infecções

  • Endocardite (raro, mas descrito em usuários de drogas intravenosas).
  • Infecção do trato urinário (ITU).
  • Peritonite associada a diálise peritoneal.
  • Osteomielite e artrite séptica.
  • Endoftalmite e ceratite (infecções oculares).

Diagnóstico

1. Cultura e Identificação

  • Cresce melhor a 40°C.
  • Diferenciação de outras bactérias não fermentadoras:
    • Oxidase-positivo (diferente de Acinetobacter).
    • Indol-positivo (diferente de Pseudomonas).
  • MALDI-TOF é útil para identificação rápida.

2. Testes Moleculares

  • PCR pode ser usado para diferenciação de espécies.
  • Confirmação pode exigir consulta ao CDC (SBRL@cdc.gov).

3. Diagnóstico Diferencial

  • Meningite neonatalStreptococcus agalactiae, Listeria monocytogenes.
  • Bacteremia hospitalarPseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii.
  • Pneumonia associada à ventilação mecânicaKlebsiella pneumoniae, Burkholderia cepacia.

Tratamento

1. Bacteremia e Meningite Neonatal

  • Resistência intrínseca a aminoglicosídeos, beta-lactâmicos e carbapenêmicos.
  • Primeira linha:
    • Levofloxacino 750 mg IV 24/24h (melhor escolha, maior taxa de sensibilidade).
    • Minociclina 100 mg IV 12/12h.
  • Alternativas:
    • TMP-SMX 160/800 mg IV 12/12h.
    • Rifampicina 300 mg VO 12/12h (usada em combinação).
    • Vancomicina IV (controversa, uso restrito a meningite neonatal).
  • Duração:
    • Bacteremia: 10-14 dias.
    • Meningite neonatal: 3-4 semanas.

2. Pneumonia Hospitalar

  • Levofloxacino IV ou Minociclina IV por 10-14 dias.
  • Evitar carbapenêmicos (resistência universal).

3. Endocardite e Infecções Profundas

  • Terapia combinada por 4-6 semanas:
    • Levofloxacino + Rifampicina.
    • Minociclina + TMP-SMX.

Prevenção e Controle

  • Fontes ambientais comuns: Água contaminada, equipamentos hospitalares.
  • Medidas de controle de surtos:
    • Desinfecção rigorosa de nebulizadores, tubos de ventilação e equipamentos de diálise.
    • Monitoramento de reservatórios hospitalares.
    • Investigação ambiental e desinfecção anual de tanques de água.

Conclusão

As infecções por Elizabethkingia spp. são raras, mas altamente letais em neonatos e pacientes imunossuprimidos. O tratamento é desafiador devido à resistência intrínseca a beta-lactâmicos e aminoglicosídeos, sendo as fluoroquinolonas e tetraciclinas as opções mais eficazes. A prevenção de surtos hospitalares exige rigoroso controle ambiental e sanitização.

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Referências

  1. Mallinckrodt L, Huis In ‘t Veld R, Rosema S, et al. Strategies to minimize Elizabethkingia outbreaks. Antimicrob Resist Infect Control. 2023.
  2. Burnard D, Gore L, Henderson A, et al. Nosocomial transmission of Elizabethkingia isolates. J Clin Microbiol. 2020.

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