As bactérias do gênero Bordetella são cocobacilos Gram-negativos aeróbios que podem causar infecções respiratórias graves em humanos e animais. O agente mais conhecido é o Bordetella pertussis, responsável pela coqueluche (pertussis), uma doença respiratória altamente contagiosa e de grande importância epidemiológica. Outras espécies, como B. parapertussis, B. bronchiseptica e B. holmesii, também podem causar infecções em humanos, com apresentações clínicas variáveis.
Microbiologia
Características Gerais
- Cocobacilos Gram-negativos aeróbios.
- Crescimento exigente, requerendo meios seletivos como ágar Bordet-Gengou ou Regan-Lowe.
- Altamente contagiosos, transmitidos por gotículas respiratórias.
- Principais espécies patogênicas:
- B. pertussis: agente clássico da coqueluche, exclusivo de humanos.
- B. parapertussis: causa uma forma mais branda da coqueluche.
- B. bronchiseptica: encontrado em animais, mas pode causar infecções oportunistas em humanos.
- B. holmesii: raramente isolada, associada a doenças respiratórias e sepse em imunocomprometidos.
Fatores de Virulência
- Toxina pertussis: inibe a resposta imune e aumenta a secreção de muco.
- Hemaglutinina filamentosa e pertactina: facilitam a adesão às células respiratórias.
- Toxina citotóxica traqueal: danifica os cílios do epitélio respiratório.
Epidemiologia
- B. pertussis é responsável por 90% dos casos de coqueluche.
- Surtos recorrentes devido à queda da imunidade pós-vacinal.
- Em 2025, mais de 28.000 casos foram relatados nos EUA em um surto em múltiplos estados.
- Adultos e adolescentes são reservatórios assintomáticos, contribuindo para a transmissão para bebês.
- A vacina Tdap reduziu a incidência, mas a imunidade diminui após 5-10 anos.
Manifestações Clínicas
A infecção por B. pertussis segue três fases:
- Fase catarral (1-2 semanas):
- Rinorreia, febre leve, tosse seca.
- Altamente contagiosa.
- Fase paroxística (2-6 semanas):
- Episódios de tosse intensa, muitas vezes em crises repetitivas.
- “Whoop” inspiratório (som agudo ao inalar).
- Vômitos pós-tosse.
- Cianose e apneia em bebês.
- Fase convalescente (≥ 2 semanas):
- Tosse diminui gradativamente.
- Pode persistir por mais de 100 dias.
Complicações
- Bebês (<6 meses):
- Apneia e hipoxemia.
- Pneumonia (22%).
- Convulsões e encefalopatia hipóxica.
- Adultos:
- Fraturas de costelas por tosse.
- Hemorragia subconjuntival.
- Hérnias e incontinência urinária.
Diagnóstico
1. Cultura (Padrão-ouro)
- Meios seletivos Bordet-Gengou ou Regan-Lowe.
- Maior sensibilidade nas primeiras 2 semanas.
2. PCR (Teste mais sensível)
- Sensibilidade: 73-100%.
- Coletar nas primeiras 3 semanas de sintomas.
3. Sorologia
- Útil para diagnóstico tardio (>2 semanas de sintomas).
- IgG anti-toxina pertussis ≥ 100U/ml indica infecção recente.
4. Hemograma
- Leucocitose com linfocitose extrema (>20.000 células/µL) em crianças.
Tratamento
1. Antibióticos
- Macrolídeos são primeira linha:
- Azitromicina 500 mg VO no primeiro dia, depois 250 mg/dia por 4 dias.
- Alternativa: Claritromicina 500 mg VO 12/12h por 7 dias.
- Alternativas (se intolerância a macrolídeos):
- TMP-SMX 160/800 mg VO 12/12h por 14 dias (não usar em bebês <2 meses).
- Bebês <1 mês: apenas Azitromicina 10 mg/kg/dia por 5 dias.
2. Hospitalização
- Indicação em neonatos com apneia, cianose ou dificuldade alimentar.
- Oxigênio suplementar e suporte ventilatório podem ser necessários.
Profilaxia Pós-Exposição
- Quimioprofilaxia com antibióticos em contatos domiciliares e grupos de risco:
- Bebês <1 ano.
- Gestantes no terceiro trimestre.
- Pessoas com doenças crônicas.
- Profissionais de saúde expostos.
- Esquema idêntico ao tratamento.
Outras Espécies de Bordetella
B. parapertussis
- Causa um quadro semelhante à coqueluche, mas mais brando.
- Antibióticos e vacinação similares à B. pertussis.
B. bronchiseptica
- Comum em cães (tosse dos canis), mas pode infectar humanos imunossuprimidos.
- Pode causar bronquite, pneumonia, sepse.
B. holmesii
- Associada a sepse e meningite em imunocomprometidos.
- Pode ser confundida com B. pertussis na PCR.
Conclusão
As infecções por Bordetella spp. representam importantes desafios epidemiológicos, principalmente devido à imunidade vacinal decrescente e surtos recorrentes. O diagnóstico precoce é essencial para iniciar antibióticos, reduzir a transmissão e prevenir complicações. A vacinação e a quimioprofilaxia em contatos de risco são fundamentais para o controle da coqueluche.
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Referências
- Havers FP, Moro PL, Hunter P, et al. Use of Tdap Vaccines: ACIP Recommendations – United States, 2019. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(3):77-83.
- Zhang J, Zhang D, Wang X, et al. Macrolide resistance in Bordetella pertussis. J Int Med Res. 2022;50(2):3000605221078782.