Controle de Infecção em Ambulatórios Oftalmológicos: Onde Estão os Riscos Invisíveis?

Quando se fala em infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS), os ambientes mais lembrados são UTIs, centros cirúrgicos ou enfermarias. Ambulatórios, especialmente os oftalmológicos, raramente entram na lista de “áreas de risco”, embora o controle de infecção seja fundamental nesses locais.


Mas essa percepção é enganosa. O atendimento ambulatorial em oftalmologia — muitas vezes de alta rotatividade, múltiplos procedimentos e com contato direto com mucosas — envolve riscos que precisam ser reconhecidos, monitorados e controlados com rigor, especialmente no que diz respeito ao controle de infecção.

Neste texto, abordamos os principais pontos críticos relacionados ao controle de infecção em ambientes oftalmológicos ambulatoriais, destacando ações de prevenção que devem ser incorporadas à rotina institucional para garantir a segurança dos pacientes.

1. Contato direto com mucosa ocular: risco subestimado

A oftalmologia trabalha diretamente com o globo ocular — uma mucosa exposta e extremamente sensível. Tonometria, exame com lâmpada de fenda, fundo de olho e uso de oftalmoscópios envolvem contato com a área periocular, muitas vezes com instrumentos não estéreis.


Se esses dispositivos não forem limpos e desinfetados adequadamente entre os atendimentos, podem servir como vetores silenciosos de transmissão cruzada.

2. Colírios de uso compartilhado: solução prática ou risco constante?

O uso de colírios multidoses em ambiente ambulatorial ainda é comum. Em especial os midriáticos, anestésicos e colírios diagnósticos (ex: fluoresceína), que muitas vezes são aplicados em múltiplos pacientes com o mesmo frasco.
Entretanto, estudos mostram que a ponta do frasco, ao tocar nos cílios ou na conjuntiva, pode ser contaminada com patógenos. A cada nova aplicação, há risco de recontaminação do frasco e transmissão para novos pacientes.

O ideal? Substituir por frascos individuais, usar aplicadores estéreis ou pipetas descartáveis, e, no mínimo, desinfetar a ponta após cada uso com álcool 70%.

3. Equipamentos de avaliação oftalmológica: como limpar corretamente?

Tonometria de aplanação, lentes de gonioscopia, lentes de fundo de olho e prismas são reutilizados rotineiramente. Por isso, exigem limpeza e desinfecção de alto nível após cada uso. Não basta apenas passar álcool. É preciso:

  • Realizar limpeza com detergente enzimático;
  • Usar solução desinfetante de alto nível (ex: glutaraldeído ou ortoftalaldeído);
  • Enxaguar abundantemente com água estéril ou destilada;
  • Secar com compressa estéril.

Esses protocolos, muitas vezes, não são seguidos por desconhecimento ou pela pressão do tempo em consultas de alta demanda.

4. Superfícies de contato e mobiliário

Mesas, suportes de queixo, apoios de testa, cadeiras e colchonetes de exame também acumulam carga microbiana. Devem ser limpos e desinfetados entre os atendimentos, especialmente quando há contato direto com o rosto do paciente.

5. Falta de fluxos padronizados para higiene das mãos

Em muitos ambulatórios oftalmológicos, a pia para higienização das mãos fica fora da sala de atendimento. Isso gera baixa adesão à higienização entre os atendimentos.

Recomenda-se disponibilizar álcool gel na bancada de atendimento, em fácil acesso, e treinar os profissionais para usá-lo entre cada paciente — ainda que o procedimento pareça “rápido demais para isso”.

6. Ausência de integração com o SCIH e o CME

Em vários serviços, o ambulatório de oftalmologia é tratado como uma “ilha”: com fluxos próprios, sem orientação do SCIH e sem integração com o CME. Instrumentais são limpos “na pia do consultório”, com soluções improvisadas, e retornam para uso imediato.

Essa prática viola normas da Anvisa, especialmente RDC 156/2006 e RDC 15/2012, e aumenta drasticamente o risco de eventos adversos.

7. Eventos não notificados: o risco invisível se perpetua

Pequenos quadros de conjuntivite pós-consulta, ceratites ou inflamações persistentes são muitas vezes atribuídos ao quadro prévio do paciente — e não são notificados como possíveis IRAS.

O resultado é a ausência de investigação, rastreabilidade e melhoria contínua. O SCIH precisa criar mecanismos para captação desses eventos e incluir o ambulatório nos circuitos de vigilância.

Conclusão

Ambulatórios oftalmológicos são ambientes tecnicamente delicados e com riscos invisíveis, porém reais. O controle de infecção, nesses contextos, exige protocolos específicos, treinamentos direcionados e integração ativa com o SCIH e o CME.

Sua instituição possui ambulatórios oftalmológicos? Já avaliou os riscos ocultos?

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