A cefoxitina é uma cefalosporina de segunda geração do subgrupo das cefamicinas, reconhecida por sua atividade contra microrganismos anaeróbios e aeróbios gram-negativos e gram-positivos. Amplamente utilizada em infecções abdominais, ginecológicas e respiratórias, a cefoxitina ainda mantém relevância clínica, apesar do aumento progressivo da resistência bacteriana. Este artigo apresenta uma análise abrangente de suas indicações, dosagens, espectro de ação, efeitos adversos e aspectos farmacológicos.
Introdução
A cefoxitina destaca-se por sua eficácia em infecções mistas e como opção profilática em cirurgias do trato gastrointestinal e ginecológicas. Seu papel clínico, no entanto, tem sido revisado devido ao crescimento das taxas de resistência, particularmente no grupo Bacteroides fragilis, o que limita sua aplicabilidade como monoterapia em infecções graves intra-abdominais.
Indicações Clínicas
Indicações Aprovadas pelo FDA
- Infecções do trato respiratório inferior (incluindo pneumonia e abscesso pulmonar)
- Infecções do trato urinário (ITU)
- Infecções intra-abdominais (peritonite e abscesso abdominal comunitário leve a moderado)
- Infecções ginecológicas (endometrite, celulite pélvica e doença inflamatória pélvica – DIP)
- Septicemia causada por Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus (MSSA), Escherichia coli, Klebsiella spp. e Bacteroides spp.
- Infecções ósseas e articulares (leves)
- Infecções cutâneas e de estruturas associadas
Uso “off-label”:
- Profilaxia cirúrgica (cirurgias gastrointestinais, histerectomias e cesáreas)
- Infecções por micobactérias de crescimento rápido como Mycobacterium abscessus, M. fortuitum e M. chelonae
Formas farmacêuticas
- Disponível para aadministração IV ou IM
- Frasco-ampola com 1 e 2g
Posologia
Adultos
- ITU e infecções leves: 1 g IV ou IM a cada 6-8 horas
- Infecções moderadas: 2 g IV a cada 6 horas
- Infecções por micobactérias: 2 g IV a cada 4 horas ou 3 g IV a cada 6 horas (máx. 12 g/dia)
- Profilaxia cirúrgica: 2 g IV, dose única pré-operatória
Ajustes em Insuficiência Renal
- ClCr 30-49 mL/min: 1-2 g a cada 8-12h
- ClCr 10-29 mL/min: 1-2 g a cada 12-24h
- ClCr < 10 mL/min: 0,5-1 g a cada 12-48h
- Hemodiálise: 1 g/dia com dose suplementar pós-diálise
Pediatria
- Neonatos: 33 mg/kg/dose IV a cada 8h
- Lactentes e crianças:
- Infecções leves/moderadas: 20 mg/kg/dose IV a cada 6h (máx. 1 g/dose)
- Infecções graves: 40 mg/kg/dose IV a cada 6h ou 26,7 mg/kg/dose IV a cada 4h (máx. 12 g/dia)
- Profilaxia cirúrgica: 40 mg/kg IV até 60 minutos antes do procedimento (máx. 2 g)
Efeitos Adversos
Frequentes
- Flebitis leve
- Reações alérgicas (eosinofilia)
- Diarreia
- Colite por Clostridioides difficile
- Teste de Coombs positivo sem anemia
Raros
- Convulsões (em altas doses e insuficiência renal)
- Confusão, desorientação e alucinações
- Febre medicamentosa
- Hepatite
- Anafilaxia
- Anemia hemolítica
Interações Medicamentosas
- Probenecida: aumenta as concentrações séricas e prolonga a meia-vida da cefoxitina. Monitoramento clínico é recomendado, mas ajustes de dose geralmente não são necessários.
Espectro de Atividade
A cefoxitina apresenta ação sobre uma ampla gama de patógenos:
Grupo | Exemplos | Linha de Uso |
Aeróbios Gram-negativos cocobacilos | Moraxella catarrhalis, E. coli, Klebsiella pneumoniae | 1ª e 2ª linhas |
Anaeróbios Gram-negativos bacilos | Bacteroides fragilis, Prevotella spp. | 2ª linha |
Aeróbios Gram-positivos | Staphylococcus aureus (MSSA) | 3ª linha |
Micobactérias | M. abscessus | 1ª linha |
Resistência
A resistência à cefoxitina tem aumentado, particularmente no grupo Bacteroides fragilis, com taxas variando entre 10% e 38% dependendo da região. Além disso, a cefoxitina pode induzir e ser hidrolisada por β-lactamases do tipo AmpC e ESBLs.
Farmacocinética e Farmacodinâmica
- Meia-vida: 41-59 minutos
- Excreção: principalmente renal, com apenas 2% metabolizado
- Ligação proteica: 20-34%
- Pico sérico (Cmax): 110 mcg/mL após 1 g IV
- Parâmetro PK/PD: tempo acima da MIC
- Distribuição: ampla, incluindo tecido pélvico, mas com penetração limitada no SNC
Considerações Especiais
- Gravidez: Categoria B; considerado seguro.
- Amamentação: Compatível, com excreção mínima no leite materno.
- Uso em profilaxia cirúrgica: Efetivo, porém a necessidade de redoses frequentes durante procedimentos longos o torna menos prático que o cefotetano.
- Uso em micobactérias: Altas doses são necessárias, geralmente em combinação com outros antibióticos.
Conclusão
A cefoxitina permanece como uma alternativa valiosa em infecções mistas e como profilaxia em cirurgias do trato gastrointestinal e ginecológicas, especialmente em cenários de resistência limitada. Contudo, sua eficácia vem sendo impactada pelo aumento da resistência bacteriana, principalmente em anaeróbios, e pela necessidade de ajustes posológicos em pacientes com disfunção renal e obesidade.