A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) informa um aumento nos casos de Campylobacter resistente a antimicrobianos entre homens que fazem sexo com homens (HSH), conforme destacado em um novo alerta de saúde emitido pelo Departamento de Saúde de Minnesota.

Os recentes relatórios apontam para um agrupamento de 13 casos de infecção por Campylobacter jejuni no estado de Minnesota, com uma evidente transmissão por contato sexual. Este surto ressalta uma preocupante resistência aos antimicrobianos tradicionalmente utilizados para tratar tais infecções.

Contexto Epidemiológico

Os casos, que ocorreram entre agosto de 2023 e janeiro de 2024, foram identificados através de sequenciamento genômico, revelando uma proximidade genética significativa. Entre os infectados, a maioria relatou contato sexual recente como provável via de transmissão. Adicionalmente, vários desses indivíduos também foram co-infectados com outros patógenos entéricos, incluindo E. coli enteroagregativa e Shigella.

Impacto Clínico

Este surto destaca a gravidade da resistência antimicrobiana, com quatro dos casos necessitando de hospitalização. A sensibilidade dos isolados variou, mostrando resistência ao ácido nalidíxico e sensibilidade reduzida à ciprofloxacina, porém sensíveis aos macrolídeos.

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O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, publicou um volume crucial do seu Boletim Epidemiológico de Resistência aos Antimicrobianos, concentrando-se no desafio crescente da Resistência Antimicrobiana (RAM) no Brasil. Esta edição, marcando um importante passo na luta contra esta ameaça global, destaca dados e análises detalhadas sobre a prevalência e distribuição de microrganismos multirresistentes (MDR), proporcionando uma visão clara sobre a situação atual e as ações necessárias para enfrentar essa crise.

O boletim revela que a RAM continua a ser uma grave ameaça à saúde pública, exacerbada pelo uso indiscriminado de antimicrobianos na medicina humana e animal, além de práticas inadequadas de descarte que contribuem para a contaminação ambiental. Segundo o estudo, houve uma escalada significativa na presença de bactérias resistentes, levando a um aumento nos custos de tratamento, na duração das internações hospitalares e na mortalidade associada a infecções bacterianas.

Dentre os principais patógenos identificados, Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae estão no topo da lista, representando uma grande porcentagem das mortes atribuíveis à RAM. Este cenário alarmante sublinha a urgência de novas pesquisas em antimicrobianos e a necessidade de políticas robustas para regular o uso dessas substâncias críticas.

A Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente destacou o papel vital da vigilância laboratorial para detectar e responder rapidamente a surtos de infecções resistentes, e o uso estratégico do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) para coletar e analisar dados relacionados à RAM. Esse sistema permite uma análise precisa e oportuna que é essencial para orientar as intervenções públicas e as decisões políticas.

O Brasil tem sido proativo no enfrentamento da RAM, implementando estratégias alinhadas ao Plano de Ação Global da Organização Mundial da Saúde (OMS), que convoca uma resposta coordenada e integrada à ameaça da resistência aos antimicrobianos. A cooperação contínua entre governos, setor privado e comunidades é vista como chave para combater a RAM eficazmente.

O boletim de Resistência aos Antimicrobianos faz um apelo urgente para ação, ressaltando a importância da conscientização pública e da educação em saúde para promover o uso racional de antimicrobianos e prevenir a propagação de resistências. As descobertas e recomendações apresentadas neste boletim são um chamado à ação para todos os envolvidos na saúde pública, destacando a necessidade contínua de vigilância, pesquisa e colaboração global para enfrentar este desafio crescente.

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A pneumonia hospitalar (HAP) é a infecção mais comum relacionada aos cuidados de saúde, afeta cerca de 1% dos pacientes internados. Tem como consequência aumento da mortalidade, tempo e custo da internação. Apesar de sua reconhecida importância, não há um consenso sobre como melhor preveni-la. Tendo em vista a participação de micro e macro aspirações em sua patogenia, a maioria dos especialistas advocam sobre a importância da higiene oral. A maioria dos bundles para prevenir pneumonia assoada à ventilação mecânica (VM) continua a sugerir antissepsia oral com clorexidina, a despeito de resultados conflitantes dos estudos sobre seu papel protetor. Escovação mecânica dentária foi proposta como método alternativo para reduzir a carga de contaminação da cavidade oral, uma vez que possui o potencial de melhor remoção de placas/biofilmes, sem os efeitos adversos associados à clorexidina.

Partindo dessa premissa, uma metanálise publicada no JAMA buscou avaliar a prática de escovação mecânica diária e seu impacto na incidência de HAP, bem como em outros desfechos secundários. A metanálise incluiu 15 Ensaios Clínicos Randomizados, publicados em vários países, com um total de 10,742 pacientes. Na maioria dos estudos, a escovação era realizada 2-3 vezes ao dia. Ressalta-se que em 11 estudos, clorexidina foi usada em ambos os grupos (controle e escovação).

Treze estudos avaliaram a incidência de HAP (2,557 pacientes), sendo esta significativamente menor no grupo de pacientes randomizados para escovação (RR 0.67 | IC 0.56-0.81). Subanálise contendo apenas pacientes submetidos à VM manteve o benefício (RR 0.68 | IC 0.57-0.82), com NNT = 12. O mesmo não se manteve quando apenas pacientes não submetidos à VM foram analisados (RR 0.32 | IC 0.05-2.02). 6 estudos avaliaram o impacto na mortalidade dentro da UTI (n = 1,331), sendo a escovação diária associada à taxa de mortalidade significativamente menor (RR 0.81 | IC 0.69-0.95). Escovação também mostrou benefícios quanto ao tempo de VM e dias na UTI. Não foi observada diferença significativa em relação a duração da internação hospitalar e uso de antibióticos.

O estudo conclui que a prática de escovação dentária diária foi associada a menores taxas de HAP, bem como mortalidade dentro da UTI. Esse achado sugere que tal prática deve ser considerada como parte essencial dos cuidados de pacientes hospitalizados, especialmente aqueles sob VM. 

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