Azitromicina

A azitromicina é um antibiótico versátil e bem tolerado, sendo uma opção valiosa para infecções respiratórias, gastrointestinais e sexualmente transmissíveis. No entanto, o aumento da resistência e os riscos cardíacos requerem uso criterioso e monitoramento adequado.

A azitromicina é um antibiótico da classe dos macrolídeos amplamente utilizado no tratamento de infecções bacterianas respiratórias, cutâneas, gastrointestinais e de transmissão sexual. Seu perfil farmacocinético diferenciado, com alta penetração tecidual e longa meia-vida intracelular, permite regimes posológicos curtos e de dose única, tornando-se uma escolha conveniente para diversas infecções.

Indicações Clínicas

Indicações Aprovadas pelo FDA

  • Infecções respiratórias:
    • Pneumonia adquirida na comunidade (PAC leve)
    • Exacerbação bacteriana aguda de DPOC
    • Faringite estreptocócica (alternativa para alérgicos à penicilina)
    • Sinusite bacteriana aguda
    • Otite média aguda (≥6 meses)
  • Infecções de pele e tecidos moles (não complicadas)
  • Doenças sexualmente transmissíveis:
    • Uretrite e cervicite por Chlamydia trachomatis
  • Tratamento e profilaxia de infecção por Mycobacterium avium (em combinação com etambutol)
  • Conjuntivite bacteriana (uso tópico).

Indicações “Off-label”

  • Infecções gastrointestinais:
    • Campylobacter jejuni, Shigella spp., diarreia do viajante
  • Infecções transmitidas por vetores:
    • Babesia spp. (com atovaquona)
    • Bartonella spp. (doença da arranhadura do gato)
  • Toxoplasmose (com pirimetamina)
  • Profilaxia de meningite meningocócica
  • Coqueluche

Formas e Administração

A azitromicina está disponível nas seguintes apresentações:

  • Oral:
    • Comprimidos: 250 mg, 500 mg, 1000mg
    • Pó para reconstituição: 1 g
  • Intravenosa (IV): frascos de 500 mg
  • Tópico: solução oftálmica.

Doses Comuns para Adultos

  • Dose usual: 500 mg 24/24 horas
  • Infecções sexualmente transmissíveis:
    • Chlamydia trachomatis: 1 g VO em dose única

Doses Pediátricas

  • PAC: 10 mg/kg VO no 1º dia (máx. 500 mg), seguido de 5 mg/kg/dia nos dias 2-5
  • Otite média aguda: 30 mg/kg VO dose única ou 10 mg/kg/dia por 3 dias
  • Coqueluche: 10 mg/kg/dia no 1º dia, depois 5 mg/kg/dia nos dias 2-5.

Neonatos (<6 semanas): Uso associado à estenose hipertrófica de piloro; monitorar vômitos persistentes.

Ajuste de Dose em Insuficiência Renal

  • Sem necessidade de ajuste

Mecanismo de Ação

A azitromicina inibe a síntese de proteínas bacterianas ao se ligar à subunidade ribossômica 50S, bloqueando a translocação da cadeia peptídica. Seu anel lactônico modificado confere maior estabilidade ácida e melhor penetração tecidual em comparação com outros macrolídeos.

Espectro de Atividade Antimicrobiana

A azitromicina é ativa contra uma variedade de patógenos, incluindo:

Gram-positivos:

  • Streptococcus pneumoniae (sensível à penicilina)
  • Streptococcus pyogenes
  • Streptococcus agalactiae (Grupo B)
  • Estreptococos viridans.

Gram-negativos:

  • Haemophilus influenzae
  • Moraxella catarrhalis
  • Legionella pneumophila (primeira linha)
  • Bordetella pertussis (primeira linha)
  • Campylobacter jejuni (primeira linha).

Resistência crescente de S. pneumoniae (~25%) e Streptococcus pyogenes (~35% em crianças).

Farmacocinética e Farmacodinâmica

  • Absorção: 37%
  • Metabolismo: Hepático parcial, com desmetilação para metabólitos inativos
  • Excreção: Biliar (maior parte), renal (<10%)
  • Meia-vida:
    • Soro: 12h
    • Intracelular: 68-72h
  • Distribuição: Alta concentração em fibroblastos, fagócitos e tecidos; baixa penetração no LCR.

Efeitos Adversos

Advertência de segurança da FDA (2021): Risco aumentado de morte cardiovascular em adultos.

Comuns (≥2%)

  • Diarreia, náusea e dor abdominal (4-17%)
  • Perda auditiva reversível (dependente da dose).

Raros, mas Graves

  • Hepatotoxicidade (colestática ou hepatocelular)
  • Colite por Clostridioides difficile
  • Síndrome de Stevens-Johnson
  • Prolongamento do intervalo QTc e torsades de pointes (risco maior em idosos, cardiopatas e hipocalêmicos).

Interações Medicamentosas

Ao contrário de outros macrolídeos, a azitromicina não inibe significativamente o CYP3A4, resultando em baixo risco de interações.

  • Ciprofloxacino, levofloxacino, moxifloxacino: Risco aumentado de prolongamento do QTc
  • Varfarina: Potencial aumento do INR
  • Tacrolimo e ciclosporina: Elevação dos níveis séricos (monitorar).

Conclusão

A azitromicina é um antibiótico versátil e bem tolerado, sendo uma opção valiosa para infecções respiratórias, gastrointestinais e sexualmente transmissíveis. No entanto, o aumento da resistência e os riscos cardíacos requerem uso criterioso e monitoramento adequado.

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