Amicacina

A amicacina é um antibiótico aminoglicosídeo amplamente utilizado para o tratamento de infecções bacterianas graves. Seu mecanismo de ação baseia-se na inibição da síntese proteica bacteriana ao se ligar irreversivelmente à subunidade 30S do ribossomo. Este artigo aborda suas principais indicações, formas de administração, dosagem, efeitos adversos e interações medicamentosas.

Indicações

A amicacina é indicada para o tratamento de infecções graves causadas por organismos sensíveis, especialmente em casos em que outros aminoglicosídeos, como gentamicina e tobramicina, não são eficazes.

Indicações aprovadas pela FDA:

  • Septicemia bacteriana, incluindo sepse neonatal.
  • Infecções respiratórias.
  • Infecções ósseas e articulares.
  • Infecções do sistema nervoso central.
  • Infecções cutâneas e de tecidos moles, incluindo queimaduras e infecções pós-operatórias.
  • Infecções intra-abdominais.
  • Infecções complicadas do trato urinário.

Usos não aprovados pela FDA:

  • Pneumonia hospitalar (usada em combinação com beta-lactâmicos ou cefalosporinas de terceira/quarta geração).
  • Tuberculose.
  • Infecções por micobactérias não tuberculosas (NTM).
  • Tratamento adjunto na exacerbação da fibrose cística.

Formas de Administração e Dosagem

A amicacina pode ser administrada por via intravenosa (IV), intramuscular (IM).

Dosagem em adultos:

  • Doses tradicionais: 15 – 20 mg/kg IV ao dia, podendo ser dividida em:
    • 7 – 7,5 mg/kg a cada 8 horas.
    • 10 mg/kg a cada 12 horas.
  • Doses em intervalos prolongados: 15 – 20 mg/kg IV uma vez ao dia (não recomendada para pacientes com ascite, fibrose cística, queimaduras extensas, insuficiência renal avançada ou infecções por micobactérias).
  • Tuberculose e micobacterioses: 25 mg/kg IV três vezes por semana.

Dosagem pediátrica:

  • Neonatos: Ajustada conforme a idade pós-menstrual.
  • Infantes, crianças e adolescentes:
    • Infecções graves por Gram-negativos: 5-7,5 mg/kg IV a cada 8 horas.
    • Pacientes com fibrose cística: 10 mg/kg IV a cada 8 horas.
    • Doses estendidas: 15-20 mg/kg IV a cada 24 horas (até 35 mg/kg/dia em fibrose cística).

Ajustes renais:

  • Pacientes com insuficiência renal devem ter a dosagem ajustada com base na depuração de creatinina e devem ser submetidos a monitoramento terapêutico rigoroso.

Monitoramento Terapêutico

Para minimizar o risco de toxicidade, recomenda-se o monitoramento dos níveis séricos da amicacina:

  • Pico: 40-60 mcg/mL para dose única diária; 25-35 mcg/mL para dosagem tradicional.
  • Vale: Deve estar entre 4-8 mcg/mL para evitar toxicidade renal.

Em pacientes submetidos à hemodiálise, recomenda-se um ajuste na administração, com dose de 8 mg/kg após cada sessão dialítica.

Efeitos Adversos e Toxicidade

Os aminoglicosídeos são conhecidos por sua potencial toxicidade, especialmente em tratamentos prolongados.

Efeitos adversos comuns:

  • Nefrotoxicidade: Pode ser reversível, especialmente em pacientes idosos, com disfunção renal pré-existente ou em uso concomitante de outros nefrotóxicos (ex: vancomicina).
  • Ototoxicidade: Perda auditiva irreversível, principalmente em frequências altas, pode ocorrer em até 14% dos pacientes.
  • Toxicidade vestibular: Afeta 4-6% dos pacientes, levando a vertigem, náuseas e desequilíbrio.
  • Broncoespasmo e irritação pulmonar: Relacionados à formulação inalatória.

Efeitos adversos raros:

  • Bloqueio neuromuscular, especialmente em pacientes com miastenia gravis.
  • Reações alérgicas.

Monitoramento recomendado:

  • Testes auditivos periódicos em tratamentos prolongados (> 3 dias).
  • Avaliação da função renal antes e durante o tratamento.

Interações Medicamentosas

A amicacina pode interagir com diversas classes de medicamentos, potencializando toxicidade:

  • Aminoglicosídeos e vancomicina: Aumentam o risco de nefrotoxicidade.
  • Diuréticos de alça (furosemida, bumetanida): Aumentam a ototoxicidade.
  • Penicilinas: Podem inativar a amicacina se administradas na mesma linha intravenosa.
  • Relaxantes musculares não despolarizantes: Podem potencializar o bloqueio neuromuscular.

Espectro de Atividade Antimicrobiana

A amicacina apresenta um amplo espectro de ação, sendo eficaz contra bactérias Gram-negativas aeróbicas, incluindo:

  • Enterobacteriaceae (Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter spp.).
  • Pseudomonas aeruginosa.
  • Acinetobacter baumannii.
  • Mycobacterium spp., incluindo M. tuberculosis.

Ela é geralmente reservada para infecções resistentes a outros aminoglicosídeos devido à sua menor suscetibilidade à inativação por enzimas bacterianas.

Farmacocinética e Considerações Especiais

  • Absorção: Rápida após administração intramuscular; baixa absorção oral.
  • Distribuição: Volume de distribuição de 0,2-0,4 L/kg, podendo aumentar em estados de inflamação sistêmica.
  • Excreção: Eliminada inalterada pelos rins. Meia-vida de 2-4 horas (reduzida em pacientes com fibrose cística).

Considerações especiais:

  • Gravidez: Categoria D – pode causar toxicidade fetal no oitavo nervo craniano.
  • Amamentação: Compatível, com baixa excreção no leite materno.
  • Insuficiência hepática: Não requer ajustes, mas deve-se monitorar a toxicidade renal e auditiva.

Conclusão

A amicacina é um antibiótico poderoso e eficaz contra uma variedade de infecções graves, especialmente aquelas causadas por bactérias Gram-negativas resistentes. No entanto, seu uso deve ser cuidadosamente monitorado devido ao risco significativo de nefrotoxicidade e ototoxicidade. O monitoramento terapêutico de seus níveis séricos, ajuste de dose em insuficiência renal e atenção às interações medicamentosas são fundamentais para um tratamento seguro e eficaz.

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