O Acinetobacter baumannii é um bacilo gram-negativo aeróbico, oxidase-negativo, amplamente distribuído no ambiente, especialmente em hospitais. Seu potencial patogênico está associado à capacidade de causar infecções nosocomiais graves, principalmente em pacientes imunocomprometidos e internados em unidades de terapia intensiva (UTI). Esta bactéria se destaca pela resistência antimicrobiana significativa, tornando seu tratamento um grande desafio clínico.
Microbiologia
- Coccobacilo ou bastonete gram-negativo.
- Pode ser confundido com Neisseria, Haemophilus spp. ou Moraxella na coloração de Gram.
- Cresce em meios de cultura padrão.
- Oxidase-negativo.
Outras espécies do gênero incluem A. calcoaceticus, A. lwoffi, A. junii, A. johnsonii e A. baylyi.
Epidemiologia e Fatores de Risco
O A. baumannii é um importante patógeno nosocomial global, frequentemente encontrado em:
- Equipamentos médicos (ventiladores, cateteres, soluções hospitalares, etc.).
- Pacientes imunossuprimidos.
- Queimaduras e feridas cirúrgicas.
- Infecções associadas à ventilação mecânica.
Os principais fatores de risco incluem:
- Internação prolongada em UTI.
- Uso de antibióticos de amplo espectro.
- Cirurgias recentes.
- Colonização prévia pelo microrganismo.
Infecções Relacionadas
O A. baumannii é uma das principais causas de infecções hospitalares, incluindo:
- Pneumonia associada à ventilação mecânica.
- Septicemia, muitas vezes relacionada a cateteres venosos centrais.
- Infecções de feridas, comuns em queimaduras e ferimentos de guerra.
- Meningite, principalmente após procedimentos neurocirúrgicos.
- Abscessos hepáticos e cerebrais (raros).
- Endocardite (raro).
- Infecções do trato urinário.
Casos comunitários são raros, mas foram relatados em cenários de guerra e desastres naturais.
Tratamento
A escolha da terapia antimicrobiana deve ser guiada por testes de sensibilidade devido à alta variabilidade na resistência aos antibióticos.
Antibióticos Mais Ativos
- Imipenem e meropenem.
- Sulbactam (atividade intrínseca contra A. baumannii).
- Polimixina B e colistina (especialmente para infecções urinárias).
- Tigeciclina e amicacina.
Opções de Tratamento para Cepas Multirresistentes
- Sulbactam-durlobactam: combinação aprovada para tratamento de infecções resistentes.
- Cefiderocol: cefalosporina de amplo espectro com ação contra A. baumannii.
- Minociclina e eravaciclina: tetraciclinas com potencial atividade.
- Colistina e rifampicina: opção em combinação para casos graves.
- Piperacilina/tazobactam: possível alternativa em algumas infecções.
Duração do Tratamento
A duração do tratamento depende do local da infecção e da resposta clínica do paciente. Em geral:
- Pneumonia associada à ventilação: 7 a 14 dias.
- Bacteremia: 10 a 14 dias.
- Infecções urinárias: 7 dias.
- Meningite: pelo menos 14 dias.
Controle e Prevenção
O A. baumannii é altamente resistente a desinfetantes e pode persistir no ambiente hospitalar, favorecendo surtos nosocomiais. Medidas preventivas incluem:
- Higienização rigorosa das mãos e uso de precauções de contato.
- Desinfecção adequada de equipamentos médicos.
- Uso racional de antibióticos para evitar o surgimento de cepas resistentes.
- Monitoramento e isolamento de pacientes colonizados ou infectados.
Considerações Finais
O Acinetobacter baumannii representa um grande desafio clínico devido à sua alta taxa de resistência antimicrobiana e capacidade de persistência no ambiente hospitalar. A escolha do tratamento deve ser baseada na sensibilidade antimicrobiana, e medidas rigorosas de controle de infecção são essenciais para conter sua disseminação.
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