O Yersinia pestis é um bacilo Gram-negativo bipolar da família Enterobacteriaceae, caracterizado por sua aparência de “alfinete de segurança” ao ser corado por Giemsa. É o agente etiológico da peste, uma doença zoonótica historicamente devastadora que causou pandemias como a Peste Negra na Idade Média. A infecção é transmitida principalmente pela picada de pulgas infectadas, embora também possa ocorrer por meio de gotículas respiratórias (peste pneumônica) ou contato direto com animais infectados (FABRE, 2025).
Em países de alta renda, a peste permanece rara, mas existe a preocupação de seu uso como arma biológica, especialmente em cenários de bioterrorismo (FABRE, 2025).
Microbiologia
- Bacilo Gram-negativo bipolar (“alfinete de segurança”).
- Aeróbio, cresce bem em meios de cultura padrão.
- Temperatura ideal de crescimento: 28°C a 35°C.
- Cultivo:
- Pode levar até 6 dias para identificação.
- Culturas de sangue, secreções respiratórias ou aspirados de linfonodos são recomendados.
- Diagnóstico diferencial:
- Tularemia e antraz devem ser excluídos.
- Identificação por PCR e cultura.
- Antígeno capsular F1 detectado por imunofluorescência direta (DFA) e teste sorológico EIA.
Epidemiologia
- A peste ocorre principalmente em regiões da África Subsaariana, especialmente em Madagascar, e esporadicamente nos Estados Unidos, com cerca de 1 a 16 casos/ano, predominando em estados como Novo México, Arizona, Colorado, Texas e Califórnia.
- Os principais reservatórios naturais incluem roedores e suas pulgas.
- Formas de transmissão:
- Picada de pulga (principal forma).
- Contato com animais infectados (especialmente gatos).
- Inalação de gotículas respiratórias (peste pneumônica).
Formas Clínicas
A peste pode se manifestar de diferentes maneiras, dependendo da via de infecção e da resposta imunológica do hospedeiro.
1. Peste Bubônica
- Forma mais comum (85% dos casos).
- Incubação: 2 a 6 dias.
- Características clínicas:
- Linfadenite dolorosa com formação de bubão (geralmente inguinal).
- Febre alta, calafrios, cefaleia e fadiga.
- Complicações:
- Septicemia: pode evoluir para coagulação intravascular disseminada (CIVD) e necrose acral (“morte negra”).
- Bacteremia em 13% dos casos.
2. Peste Pneumônica
- Forma mais grave de transmissão aérea.
- Sintomas:
- Hemoptise, dispneia, dor torácica.
- Infiltrados bilaterais difusos em exames de imagem.
- Taxa de mortalidade sem tratamento: 50-60%.
3. Peste Septicêmica
- Complicação da peste bubônica não tratada.
- Sintomas:
- Febre alta, hipotensão, choque séptico.
- Lesões cutâneas necróticas (“black death”).
4. Meningite
- Rara, geralmente associada à disseminação hematogênica.
Diagnóstico
1. Cultura Bacteriana
- Amostras: sangue, secreções respiratórias, aspirados de linfonodos.
- Crescimento em meios padrão, mas com necessidade de notificação ao laboratório para suspeita.
2. Testes Imunológicos
- Imunofluorescência direta (DFA) para o antígeno capsular F1.
- Sorologia EIA: detecção de anticorpos específicos.
3. Testes Moleculares
- PCR para identificação rápida e confirmação do diagnóstico.
Tratamento
A terapia precoce reduz significativamente a mortalidade.
1. Tratamento de Primeira Linha
- Fluoroquinolonas:
- Ciprofloxacino: 400 mg IV a cada 8 horas (ou 750 mg VO a cada 12 horas).
- Levofloxacino: 750 mg IV ou VO uma vez ao dia.
- Aminoglicosídeos:
- Gentamicina: 5-7 mg/kg/dia em 2-3 doses (não aprovado pela FDA para peste, mas utilizado).
- Estreptomicina: 15 mg/kg/dia IM em duas doses.
- Alternativas:
- Doxiciclina: 100 mg VO ou IV a cada 12 horas.
- Trimetoprima-sulfametoxazol (TMP-SMX): 5 mg/kg a cada 8 horas.
2. Tratamento da Peste Meningítica
- Cloranfenicol em combinação com fluoroquinolona.
3. Duração do Tratamento
- 10-14 dias ou até 48 horas após a resolução dos sintomas.
Profilaxia Pós-Exposição
- Indicação:
- Contato domiciliar, hospitalar ou próximo (<2 metros) com casos confirmados.
- Medicação profilática:
- Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia por 7 dias.
- Ciprofloxacino 500 mg VO 2x/dia por 7 dias.
Prevenção e Controle
- Controle de pulgas e roedores em áreas endêmicas.
- Notificação imediata às autoridades de saúde pública.
- Equipamento de proteção individual (EPI) para profissionais de saúde.
- Isolamento respiratório para casos de peste pneumônica.
Prognóstico
- Sem tratamento:
- Peste bubônica: 5-15% de mortalidade.
- Peste pneumônica: 50-60% de mortalidade.
- Com tratamento precoce: redução significativa da mortalidade, especialmente na peste bubônica.
Conclusão
O Yersinia pestis permanece uma ameaça significativa, particularmente em áreas endêmicas e em cenários de bioterrorismo. A identificação precoce e o tratamento imediato são essenciais para reduzir a morbidade e a mortalidade associadas. A prevenção, baseada no controle de vetores e na profilaxia adequada, é fundamental para evitar surtos.
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Referências
NELSON, C. A.; MEANEY-DELMAN, D.; FLECK-DERDERIAN, S. et al. Antimicrobial Treatment and Prophylaxis of Plague: Recommendations for Naturally Acquired Infections and Bioterrorism Response. MMWR Recomm Rep. 2021;70(3):1-27.
BARBIERI, R.; SIGNOLI, M.; CHEVÉ, D. et al. Yersinia pestis: the Natural History of Plague. Clin Microbiol Rev. 2020;34(1).