Espécies de Vibrio (não cólera):

As espécies de Vibrio não coléricas são bacilos Gram-negativos com formato de vírgula, pertencentes à família Vibrionaceae. Essas bactérias são frequentemente encontradas em ambientes marinhos, especialmente em águas mornas e salobras, e estão associadas a infecções humanas por meio da ingestão de frutos do mar contaminados ou pela exposição de feridas abertas à água do mar.

As espécies de Vibrio não coléricas são bacilos Gram-negativos com formato de vírgula, pertencentes à família Vibrionaceae. Essas bactérias são frequentemente encontradas em ambientes marinhos, especialmente em águas mornas e salobras, e estão associadas a infecções humanas por meio da ingestão de frutos do mar contaminados ou pela exposição de feridas abertas à água do mar.

Os principais patógenos desse grupo incluem:

  • Vibrio parahaemolyticus: mais comum em gastroenterites.
  • Vibrio vulnificus: maior mortalidade e infecções graves.
  • Vibrio alginolyticus: predominante em infecções cutâneas.
  • Outras espécies menos comuns: V. fluvialis, V. damsela, V. hollisae, V. cincinnatiensis (AUWAERTER, 2025).

Microbiologia

  • Bacilos Gram-negativos em forma de vírgula, móveis por flagelo polar.
  • Aeróbicos e anaeróbicos facultativos, com preferência por ambientes marinhos quentes e estuarinos.
  • Crescimento em ágar TCBS (tiossulfato-citrato-bile-sais).
  • As infecções humanas aumentam durante os meses de verão, devido ao aquecimento das águas costeiras.

Principais Espécies

1. Vibrio parahaemolyticus

  • Principal causa de gastroenterite associada a frutos do mar contaminados.
  • Apresenta toxinas hemolisinas:
    • TDH (termolábil) e TRH (termolábil relacionada).
  • Causa diarreia aquosa, cólicas abdominais, náuseas e febre.

2. Vibrio vulnificus

  • Mais perigoso e com alta mortalidade (~20-50%).
  • Associado à ingestão de ostras cruas e ao contato com água contaminada.
  • Pode causar:
    • Septicemia primária: febre, hipotensão, choque.
    • Infecção de pele e partes moles: celulite grave, fascite necrosante.
  • Principal causa de mortalidade relacionada ao consumo de frutos do mar nos EUA.

3. Vibrio alginolyticus

  • Infecção cutânea após exposição a águas costeiras.
  • Otite externa e infecção de feridas.
  • Raramente causa gastroenterite.

Epidemiologia

  • Aumento significativo nos últimos 20 anos, triplicando nos EUA.
  • 80.000 casos anuais e 100 mortes nos EUA, sendo a maioria causada por V. parahaemolyticus e V. vulnificus.
  • Maior prevalência em meses quentes, com destaque para agosto no hemisfério norte.
  • Grupos de risco:
    • Indivíduos com doença hepática crônica, alcoolismo, hemocromatose, diabetes, insuficiência renal.
    • Homens acima de 40 anos.
    • Imunocomprometidos (HIV, uso de corticosteroides).

Manifestações Clínicas

1. Gastroenterite

  • Causada principalmente por V. parahaemolyticus.
  • Período de incubação: 12-24 horas.
  • Sintomas:
    • Diarreia aquosa profusa.
    • Dor abdominal e cólicas.
    • Náuseas e vômitos.
    • Febre leve a moderada.
  • Duração: 2 a 5 dias, geralmente autolimitada.

2. Infecções Cutâneas

  • Celulite e fascite necrosante após exposição de feridas à água do mar contaminada.
  • Bacteremia pode ocorrer, especialmente em indivíduos com doenças hepáticas.
  • V. vulnificus frequentemente causa infecções graves com risco de sepse.

3. Septicemia Primária

  • Associada à ingestão de ostras cruas.
  • Início abrupto com febre alta, calafrios, dor abdominal e hipotensão.
  • Necrose e bolhas hemorrágicas na pele.
  • Mortalidade de até 50%, mesmo com tratamento adequado.

Diagnóstico

1. Cultura Bacteriana

  • Meio de Ágar TCBS: crescimento rápido e colônias amareladas.
  • Hemocultura e cultura de feridas em casos graves.
  • Notificação ao laboratório para inclusão de meios específicos.

2. Testes Moleculares

  • PCR multiplex para detecção rápida de espécies específicas.

Tratamento

A combinação de antibióticos é preferida para infecções graves.

1. Terapia de Primeira Linha

  • Doxiciclina 100 mg IV/VO a cada 12 horas +
    • Ceftriaxona 2 g IV a cada 24 horas ou
    • Cefotaxima 2 g IV a cada 8 horas.
  • Alternativa:
    • Ciprofloxacino 400 mg IV a cada 12 horas.

2. Infecções Cutâneas Graves (Necrotizantes)

  • Cirurgia de desbridamento precoce.
  • Amputação pode ser necessária em casos extremos.

3. Gastroenterite Leve a Moderada

  • Reidratação oral.
  • Antibióticos geralmente não são necessários, mas podem ser usados em casos prolongados ou graves.

Prevenção

  • Evitar frutos do mar crus ou mal cozidos.
  • Higiene rigorosa das mãos ao manusear alimentos marinhos.
  • Desinfecção de feridas expostas à água do mar.
  • Cozimento adequado dos frutos do mar:
    • Ostra: ferver por 3 a 5 minutos após abertura.
    • Fritura: óleo a 190°C por mais de 3 minutos.

Prognóstico

  • A mortalidade varia conforme a espécie e a gravidade:
    • V. vulnificus: até 50% em septicemia.
    • V. parahaemolyticus: geralmente autolimitada e de baixa mortalidade.

Conclusão

As infecções por Vibrio não coléricas representam um problema de saúde pública significativo em regiões costeiras, especialmente em períodos de temperaturas elevadas. A prevenção se baseia em boas práticas de manipulação de alimentos e cuidados com lesões cutâneas expostas à água do mar. O tratamento adequado e precoce, especialmente em casos graves, é crucial para a redução da mortalidade.

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Referências

TRINH, S. A.; GAVIN, H. E.; SATCHELL, K. J. F. Efficacy of Ceftriaxone, Cefepime, Doxycycline, Ciprofloxacin, and Combination Therapy for Vibrio vulnificus Foodborne Septicemia. Antimicrob Agents Chemother., v. 61, n. 12, 2017. [PMID: 28971862].

ARCHER, E. J.; BAKER-AUSTIN, C.; OSBORN, T. J. Climate warming and increasing Vibrio vulnificus infections in North America. Sci Rep., v. 13, n. 1, 2023. [PMID: 36959189].

KUO, Y. L.; SHIEH, S. J.; CHIU, H. Y. Necrotizing fasciitis caused by Vibrio vulnificus: epidemiology, clinical findings, treatment and prevention. Eur J Clin Microbiol Infect Dis., v. 26, n. 11, p. 785-92, 2007. [PMID: 17674061].

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