A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa crônica causada principalmente pelo Mycobacterium tuberculosis, mas também pode ser ocasionada pelo Mycobacterium bovis. A infecção é transmitida por via respiratória através de gotículas aerossolizadas, produzidas por indivíduos com TB pulmonar ativa. A doença continua sendo um grande problema de saúde pública mundial, especialmente em regiões com alta prevalência de HIV e baixas condições socioeconômicas (STERLING, 2025).
Microbiologia
- Agente etiológico principal: Mycobacterium tuberculosis.
- Outros agentes: Mycobacterium bovis.
- Bacilo álcool-ácido resistente (BAAR).
- Aeróbio estrito e crescimento lento (cultura pode levar de 2 a 6 semanas).
- Parede celular espessa e rica em lipídios, responsável pela resistência a muitos agentes químicos e pela capacidade de sobrevivência em macrófagos.
Epidemiologia
A tuberculose continua sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade em países de baixa e média renda. Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas desenvolvem TB ativa a cada ano, com aproximadamente 1,5 milhão de mortes. A infecção pelo HIV aumenta significativamente o risco de progressão para TB ativa.
Grupos de risco incluem:
- Imunocomprometidos (HIV, uso prolongado de corticosteroides).
- Desnutridos e alcoólatras crônicos.
- Pessoas privadas de liberdade e indivíduos em situação de rua.
- Trabalhadores da saúde expostos a pacientes com TB ativa.
Manifestações Clínicas
1. Tuberculose Pulmonar
- Sintomas principais:
- Tosse por mais de 2 semanas.
- Hemoptise.
- Febre vespertina e suores noturnos.
- Perda de peso e anorexia.
- Dor torácica e dispneia.
- Achados radiológicos:
- Infiltrados nos lobos superiores com ou sem cavitação.
- Adenopatia hilar, especialmente em crianças e indivíduos HIV positivos.
2. Tuberculose Miliar
- Disseminação hematogênica do bacilo.
- Achados clínicos:
- Febre persistente.
- Hepatoesplenomegalia.
- Lesões micronodulares difusas em radiografias.
3. Tuberculose Extrapulmonar
- Tuberculose pleural: dor pleurítica e derrame pleural.
- Linfadenite tuberculosa (escrofulose): linfonodos cervicais aumentados e dolorosos.
- Meningite tuberculosa: cefaleia crônica, confusão mental e rigidez de nuca.
- Tuberculose osteoarticular: acometimento da coluna vertebral (Mal de Pott).
- Pericardite tuberculosa: dor torácica e derrame pericárdico.
Diagnóstico
1. Cultura e Testes Diretos
- Cultura em meio de Lowenstein-Jensen: padrão-ouro para diagnóstico.
- Baciloscopia de escarro (AFB): sensibilidade de aproximadamente 50%.
- Teste de amplificação de ácido nucleico (PCR):
- Xpert MTB/RIF: detecção rápida e identificação de resistência à rifampicina.
- Xpert MTB/RIF Ultra: maior sensibilidade, especialmente em casos de escarro negativo.
2. Testes Imunológicos
- Teste tuberculínico (PPD) e IGRA (QuantiFERON-Gold):
- Não distinguem TB ativa de latente.
- Podem ser negativos em até 25% dos casos de TB ativa.
3. Radiografia e Tomografia de Tórax
- Opacidades nos lobos superiores, com ou sem cavitação.
- Derrame pleural ou padrão miliar em casos disseminados.
Tratamento
O tratamento da TB ativa geralmente envolve um esquema inicial com quatro fármacos (RIPE), seguido de uma fase de consolidação com dois fármacos:
1. Esquema de Primeira Linha (RIPE)
- Rifampicina (RIF): 10 mg/kg (máx. 600 mg/dia).
- Isoniazida (INH): 5 mg/kg (máx. 300 mg/dia).
- Pirazinamida (PZA): 15-30 mg/kg (máx. 2 g/dia).
- Etambutol (EMB): 15-25 mg/kg (máx. 1,6 g/dia).
- Vitamina B6 (Piridoxina): 50 mg/dia para prevenir neuropatia por isoniazida.
2. Fase de Consolidação (após 2 meses)
- Rifampicina + Isoniazida por 4 a 7 meses, dependendo da gravidade e resposta ao tratamento.
3. TB Multirresistente (MDR-TB)
- Levofloxacina ou Moxifloxacina, associada a:
- Bedaquilina, Linezolida e Clofazimina.
- Duração: 9-20 meses dependendo da gravidade e resposta.
Prevenção e Controle
- Vacinação BCG em recém-nascidos.
- Quimioprofilaxia com Isoniazida para contatos próximos.
- Isolamento respiratório de pacientes com TB ativa.
- Tratamento diretamente observado (DOT) para garantir adesão.
Conclusão
A tuberculose ativa continua sendo um desafio significativo para a saúde pública mundial, especialmente em regiões com alta prevalência de HIV. A adesão ao tratamento e o diagnóstico precoce são essenciais para reduzir a transmissão e a mortalidade associada. A combinação de esquemas antibióticos eficazes e medidas de prevenção são fundamentais para o controle da doença.
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Referências
NAHID, P.; MASE, S. R.; MIGLIORI, G. B. et al. Treatment of Drug-Resistant Tuberculosis. An Official ATS/CDC/ERS/IDSA Clinical Practice Guideline. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, v. 200, n. 10, p. e93-e142, 2019. [PMID:31729908].
HORNBURGH, C. R.; BARRY, C. E.; LANGE, C. Treatment of Tuberculosis. New England Journal of Medicine, v. 373, n. 22, p. 2149-2160, 2015. [PMID:26605929].
WHO. Consolidated Guidelines on Drug-Resistant Tuberculosis Treatment. Geneva: World Health Organization, 2019. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241550529. Acesso em: 18 mar. 2025.