O gênero Streptococcus compreende um grupo heterogêneo de cocos Gram-positivos, agrupados em cadeias ou pares, que podem ser classificados com base em suas características hemolíticas (alfa, beta e gama hemólise) e na presença de antígenos específicos (grupos de Lancefield). As infecções causadas por Streptococcus variam de doenças leves e autolimitadas a infecções graves e potencialmente fatais, como pneumonia, meningite, endocardite e fasciite necrosante (MELIA, 2025).
Microbiologia
Os estreptococos são classificados em grupos com base na hemólise em ágar sangue e na presença de carboidratos específicos na parede celular (grupos de Lancefield):
1. Classificação por Hemólise
- Beta-hemólise (hemólise completa): Grupo A (Streptococcus pyogenes) e Grupo B (Streptococcus agalactiae).
- Alfa-hemólise (hemólise parcial): Streptococcus pneumoniae e Grupo Viridans.
- Gama-hemólise (não hemolíticos): Alguns membros do grupo Viridans.
2. Classificação por Grupos de Lancefield
- Grupo A (Streptococcus pyogenes): Faringite estreptocócica, escarlatina, fasciite necrosante.
- Grupo B (Streptococcus agalactiae): Sepse neonatal e meningite.
- Grupos C, F e G: Faringite, bacteremia e infecções de pele.
- Grupo D (não enterocócico, como Streptococcus gallolyticus): Endocardite associada a malignidade colorretal.
- Grupo Viridans (como S. mutans e S. sanguinis): Endocardite subaguda e infecções orais.
Epidemiologia
Os estreptococos são amplamente distribuídos na natureza e colonizam as mucosas humanas e de animais. A transmissão ocorre principalmente por gotículas respiratórias, contato direto com secreções ou objetos contaminados e, no caso do Grupo B, por transmissão vertical durante o parto.
Grupos de maior risco:
- Crianças e idosos.
- Pacientes imunocomprometidos.
- Portadores de dispositivos invasivos.
- Indivíduos com histórico de doenças crônicas ou câncer.
Manifestações Clínicas
As manifestações clínicas variam conforme o grupo e a espécie de Streptococcus envolvida.
1. Grupo A – Streptococcus pyogenes
- Faringite estreptocócica: dor de garganta, febre, adenopatia cervical.
- Escarlatina: rash eritematoso e língua em framboesa.
- Fascite necrosante: destruição rápida de tecidos.
- Síndrome do Choque Tóxico Estreptocócico (STSS): hipotensão e falência de múltiplos órgãos.
2. Grupo B – Streptococcus agalactiae
- Sepse neonatal: transmissão vertical durante o parto.
- Meningite: especialmente em neonatos e idosos.
- Infecções urinárias e endocardite: em adultos imunocomprometidos.
3. Grupos C, F e G
- Faringite e infecções cutâneas.
- Bacteremia e endocardite.
4. Grupo D – Streptococcus gallolyticus (antigo S. bovis)
- Endocardite e bacteremia: frequentemente associada a neoplasias colorretais.
5. Grupo Viridans
- Endocardite subaguda: especialmente em pacientes com valvopatia pré-existente.
- Infecções orais: incluindo cáries e abcessos dentários.
Diagnóstico
1. Cultura Bacteriana
- Meio de ágar sangue: observação de hemólise.
- Identificação por sorotipagem e testes bioquímicos.
2. Testes Rápidos
- Teste rápido de antígeno para GAS: diagnóstico rápido de faringite estreptocócica.
- PCR: para identificação rápida de espécies e resistência antimicrobiana.
3. Testes Sorológicos
- ASLO (anticorpos anti-estreptolisina O): para diagnóstico de febre reumática.
- Teste de Aglutinação em Látex: para grupos específicos de Lancefield.
Tratamento
O tratamento varia de acordo com o grupo e a gravidade da infecção.
1. Infecções por Streptococcus pyogenes (GAS)
- Penicilina G 2-4 milhões UI IV a cada 4-6 horas.
- Amoxicilina 500 mg VO a cada 8 horas.
- Alternativa: Clindamicina 600 mg IV a cada 8 horas para inibir a produção de toxinas.
2. Infecções por Streptococcus agalactiae (GBS)
- Penicilina G 2-4 milhões UI IV a cada 4 horas.
- Ampicilina 2 g IV a cada 6 horas, especialmente em sepse neonatal.
- Gentamicina 1 mg/kg IV a cada 8 horas para sinergismo.
3. Infecções por Grupos C, F e G
- Penicilina G 2-4 milhões UI IV a cada 4-6 horas.
- Clindamicina 600 mg IV a cada 8 horas em infecções invasivas.
4. Infecções por Grupo D (S. gallolyticus)
- Penicilina G 20-24 milhões UI/dia IV por 4-6 semanas, associada a gentamicina.
5. Infecções por Grupo Viridans
- Penicilina G 12-18 milhões UI/dia IV por 4 semanas.
- Ceftriaxona 2 g IV uma vez ao dia.
Prevenção
- Vacinação contra S. pneumoniae: uso de vacinas conjugadas (PCV13 e PPSV23).
- Profilaxia antibiótica em gestantes colonizadas por GBS.
- Higiene das mãos e isolamento de contato em surtos.
Conclusão
As infecções por Streptococcus representam um desafio significativo na prática clínica devido à sua diversidade fenotípica e variabilidade na resistência antimicrobiana. O diagnóstico precoce e o tratamento direcionado são fundamentais para reduzir a morbidade e a mortalidade, especialmente em infecções invasivas e casos de endocardite.
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Referências
STEVENS, D. L.; BISNO, A. L.; CHAMBERS, H. F.; et al. Practice Guidelines for the Diagnosis and Management of Skin and Soft Tissue Infections: 2014 Update by the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, v. 59, n. 2, p. 147-59, 2014.
BADDOUR, L. M.; WILSON, W. R.; BAYER, A. S.; et al. Infective Endocarditis in Adults: Diagnosis, Antimicrobial Therapy, and Management of Complications. Circulation, v. 132, n. 15, p. 1435-86, 2015.