Streptobacillus moniliformis:

O Streptobacillus moniliformis é uma bactéria Gram-negativa pleomórfica, que pode se apresentar em forma de bacilos alongados ou fusiformes, ocasionalmente em cadeias ou agrupamentos. Trata-se de um patógeno não encapsulado, de crescimento lento, frequentemente associado à Febre por Mordedura de Rato (RBF - Rat-Bite Fever), especialmente nos Estados Unidos, onde é a causa mais comum.

O Streptobacillus moniliformis é uma bactéria Gram-negativa pleomórfica, que pode se apresentar em forma de bacilos alongados ou fusiformes, ocasionalmente em cadeias ou agrupamentos. Trata-se de um patógeno não encapsulado, de crescimento lento, frequentemente associado à Febre por Mordedura de Rato (RBF – Rat-Bite Fever), especialmente nos Estados Unidos, onde é a causa mais comum.

A transmissão ocorre principalmente por meio de mordidas ou arranhões de roedores, mas também pode ocorrer pela ingestão de alimentos ou água contaminados com excrementos de roedores, configurando a Febre de Haverhill (CROWELL, 2025).

Microbiologia

  • Bacilo Gram-negativo pleomórfico, com formato fusiforme ou alongado.
  • Não encapsulado e com coloração irregular, podendo ser confundido com bacilos Gram-positivos.
  • Crescimento lento, requerendo notificação ao laboratório para manter as culturas por tempo prolongado.
  • A identificação pode ser realizada por meio de cromatografia gasosa de ácidos graxos.
  • Hospedeiros naturais: roedores, especialmente ratos de laboratório e de estimação.
  • Transmissão:
    • Mordedura ou arranhão de roedores.
    • Contato com secreções de animais infectados.
    • Ingestão de água ou alimentos contaminados (febre de Haverhill).
  • Outros vetores possíveis: arranhões de gatos, cães, porcos e esquilos (CROWELL, 2025).

Epidemiologia

A infecção é rara, mas pode ter mortalidade de até 13% se não tratada. A exposição a roedores de estimação ou selvagens é o principal fator de risco. Surtos podem ocorrer em ambientes com más condições de higiene ou em locais com infestação de ratos.

Manifestações Clínicas

1. Febre por Mordedura de Rato (RBF)

  • Período de incubação: geralmente menos de 7 dias.
  • Sintomas iniciais:
    • Febre abrupta, calafrios.
    • Cefaleia intensa.
    • Náuseas, vômitos e artralgia migratória.
  • Lesões cutâneas:
    • Erupção cutânea maculopapular, petequial ou pustulosa, especialmente nas palmas das mãos e solas dos pés.
    • Pode ser purpúrica ou confluente.
  • Artrite migratória:
    • Acomete cerca de 50% dos casos, podendo evoluir para artrite séptica.
    • Articulações mais comuns: joelhos, tornozelos, cotovelos, punhos e ombros.
  • Resolução:
    • A maioria dos sintomas se resolve em 2 semanas, mesmo sem tratamento, mas a artrite pode persistir por até 2 anos.

2. Febre de Haverhill

  • Forma não zoonótica da RBF, causada pela ingestão de alimentos ou água contaminados.
  • Sintomas adicionais:
    • Vômitos frequentes e faringite nos primeiros 10 dias.
    • Histórico epidemiológico importante: surtos relacionados ao consumo de leite não pasteurizado.

3. Outras Manifestações

  • Endocardite: rara, mas pode ocorrer, especialmente em pacientes com valvopatias pré-existentes.
  • Osteomielite e discite: casos relatados após mordedura.
  • Abscessos cutâneos e subcutâneos: especialmente no local da mordedura.

Diagnóstico

O tratamento empírico deve ser iniciado se houver suspeita clínica, pois o crescimento bacteriano pode ser lento.

1. Exames Laboratoriais

  • Hemograma: leucocitose com elevação da velocidade de hemossedimentação (VHS).
  • Cultura de sangue e líquido sinovial:
    • Necessário notificar o laboratório para manter as amostras por tempo prolongado.
    • Meio de cultura: 10-20% de soro em ambiente com 5-10% de CO₂.
  • PCR e sequenciamento de rDNA 16S: úteis para confirmação.
  • Sorologia (ELISA): limitada devido à baixa sensibilidade.

Tratamento

1. Infecção Não Complicada

  • Penicilina G 200.000 UI IV a cada 4 horas, por 7 a 14 dias.
  • Amoxicilina 500 mg VO a cada 8 horas ou Ampicilina 500 mg VO a cada 6 horas para completar 14 dias.
  • Alternativas para alérgicos à penicilina:
    • Doxiciclina 100 mg VO a cada 12 horas.
    • Cephalexina 1 g VO a cada 8 horas.
    • Clindamicina ou eritromicina.

2. Infecção Complicada (Endocardite ou Envolvimento do SNC)

  • Penicilina G 12-18 milhões UI/dia IV dividida a cada 4-6 horas por 4 semanas.
  • Ceftriaxona 2 g IV uma vez ao dia (alternativa).

Prevenção

  • Controle de infestações por roedores.
  • Boas práticas de higiene alimentar, especialmente em locais de criação de roedores.
  • Profilaxia após mordedura:
    • Penicilina VK 500 mg VO 4 vezes ao dia por 3 dias pode ser considerada.

Prognóstico

A mortalidade pode atingir 13% se não tratada, devido a complicações como endocardite e choque séptico. O tratamento precoce e direcionado reduz significativamente as complicações e a mortalidade.

Conclusão

O Streptobacillus moniliformis é um patógeno raro, mas potencialmente grave, especialmente em infecções relacionadas a mordeduras de ratos. O diagnóstico precoce e o tratamento antibiótico adequado são fundamentais para reduzir a morbidade e a mortalidade. Medidas de prevenção e controle ambiental são essenciais para minimizar o risco de infecção.

🧠 Se você chegou até aqui, é porque leva conhecimento a sério.
No App do InfectoCast, você encontra o que não cabe num post: prática, atualização e precisão.
📲 Clique aqui e mergulhe de vez.

Referências

ELLIOTT, S. P. Rat bite fever and Streptobacillus moniliformis. Clinical Microbiology Reviews, v. 20, n. 1, p. 13-22, 2007.

WALLEMACQ, S. et al. Streptobacillus moniliformis right hand abscess and monoarthritis following a rat bite. IDCases, v. 31, p. e01663, 2023.

ADAMS, S. H.; MAHAPATRA, R. Rat bite fever with osteomyelitis and discitis: case report and literature review. BMC Infectious Diseases, v. 21, n. 1, p. 479, 2021.

KACHE, P. A. et al. Rat-Bite Fever in the United States: An Analysis Using Multiple National Data Sources, 2001-2015. Open Forum Infectious Diseases, v. 7, n. 6, p. ofaa197, 2020.

Posts Relacionados

Mutirões de Cirurgia Oftalmológica: o SCIH está acompanhando? Volume alto, estrutura precária e risco elevado.

Endoftalmite infecciosa: quando e como coletar amostras oculares para microbiologia

O Que Observar em uma Visita Técnica ao Centro Cirúrgico Oftalmológico: Guia Prático para o SCIH

Estrutura Mínima para Garantir Segurança em Serviços de Oftalmologia com Alto Volume de Procedimentos

Controle de Infecção em Ambulatórios Oftalmológicos: Onde Estão os Riscos Invisíveis?

SIREVA 2024

O Instituto Adolfo Lutz, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), divulgou os dados atualizados do Sistema Regional de Vacinas (SIREVA) para o ano de 2023, destacando o perfil microbiológico e sorotípico das cepas invasivas de Streptococcus pneumoniae circulantes no Brasil.