Estafilococos Coagulase-Negativa (CoNS):

Os estafilococos coagulase-negativa (CoNS) são um grupo heterogêneo de cocos Gram-positivos aeróbicos, que aparecem em agrupamentos e são encontrados predominantemente na pele e mucosas humanas. Diferentemente de Staphylococcus aureus, os CoNS são catalase-positivos, mas coagulase-negativos. São considerados patógenos oportunistas, principalmente associados a infecções relacionadas a dispositivos médicos e infecções hospitalares (AUWAERTER, 2025).

Os estafilococos coagulase-negativa (CoNS) são um grupo heterogêneo de cocos Gram-positivos aeróbicos, que aparecem em agrupamentos e são encontrados predominantemente na pele e mucosas humanas. Diferentemente de Staphylococcus aureus, os CoNS são catalase-positivos, mas coagulase-negativos. São considerados patógenos oportunistas, principalmente associados a infecções relacionadas a dispositivos médicos e infecções hospitalares (AUWAERTER, 2025).

Entre os mais de 40 tipos de CoNS, destacam-se:

  • Staphylococcus epidermidis: principal patógeno nosocomial.
  • Staphylococcus lugdunensis: comporta-se de maneira semelhante ao S. aureus, com maior virulência.
  • Staphylococcus haemolyticus: alta resistência a glicopeptídeos.
  • Staphylococcus saprophyticus: frequentemente associado a infecções do trato urinário (ITU) em mulheres jovens.

Microbiologia

  • Cocos Gram-positivos em agrupamentos.
  • Catalase-positivos e coagulase-negativos.
  • Capazes de formar biofilmes em superfícies plásticas e metálicas, como cateteres e próteses.
  • Resistência à meticilina é comum (mediada pelo gene mecA), conferindo resistência aos beta-lactâmicos.
  • Resistência à vancomicina é rara, mas preocupante (MIC > 4 mg/L segundo EUCAST).

Espécies de Maior Relevância Clínica

  1. Staphylococcus epidermidis
    • Principal causador de bacteremia relacionada a dispositivos.
    • Associado a infecções de válvulas cardíacas, próteses articulares e shunts.
    • Alto risco de contaminação em culturas sanguíneas.
  2. Staphylococcus lugdunensis
    • Comportamento clínico semelhante ao S. aureus.
    • Causa endocardite e infecções de pele.
    • Cerca de 25% das cepas produzem beta-lactamase.
  3. Staphylococcus haemolyticus
    • Frequentemente isolado em hemoculturas neonatais.
    • Maior resistência a glicopeptídeos, especialmente teicoplanina.
  4. Staphylococcus saprophyticus
    • Segunda principal causa de ITU em mulheres jovens, após Escherichia coli.
    • Associado a cistite aguda e uretrite.

Epidemiologia

Os CoNS são reconhecidos como os principais causadores de infecções hospitalares, especialmente em pacientes com dispositivos invasivos, como cateteres venosos centrais e próteses articulares.

Fatores de Risco

  • Imunossupressão (HIV, quimioterapia).
  • Dispositivos médicos invasivos (próteses, válvulas cardíacas).
  • Internações prolongadas em UTI.
  • Diabetes mellitus e doenças crônicas.

Manifestações Clínicas

1. Bacteremia

  • Principal manifestação associada a cateteres venosos centrais.
  • Febre, leucocitose e sinais de sepse.
  • Endocardite pode ocorrer, especialmente com S. lugdunensis.

2. Endocardite

  • Associada a próteses valvares e dispositivos cardíacos.
  • S. lugdunensis é mais virulento e pode causar infecções agudas e destrutivas.

3. Infecções Osteoarticulares

  • S. epidermidis é frequentemente isolado em infecções de próteses articulares.
  • Pode causar artrite séptica e osteomielite.

4. Infecções do Trato Urinário (ITU)

  • S. saprophyticus é um patógeno comum em mulheres jovens, causando cistite aguda.

Diagnóstico

O diagnóstico de infecção por CoNS pode ser desafiador devido à sua presença como contaminantes em culturas sanguíneas. No entanto, são considerados patógenos verdadeiros quando:

  • ≥ 2 hemoculturas positivas em um curto intervalo.
  • Sinais clínicos de infecção concomitantes (febre, leucocitose).
  • Confirmação da mesma cepa em amostras repetidas.

Testes Laboratoriais

  • Culturas sanguíneas: crescimento em meio de ágar sangue.
  • Teste de sensibilidade antimicrobiana: essencial para orientação terapêutica.
  • PCR para detecção de genes de resistência (mecA).

Tratamento

O tratamento depende da gravidade da infecção e da resistência antimicrobiana.

1. Infecções Simples ou Contaminantes

  • Sem tratamento com antibiótico se identificado como contaminação única.

2. Bacteremia Complicada ou Infecções Profundas

  • Vancomicina 15 mg/kg IV a cada 12 horas.
  • Daptomicina 6-10 mg/kg/dia IV (alternativa para resistência à vancomicina).
  • Linezolida 600 mg VO/IV a cada 12 horas (em casos específicos).

3. Infecções por CoNS Meticilino-Sensíveis (MSSE)

  • Oxacilina 2 g IV a cada 4 horas.
  • Nafcilina 2 g IV a cada 4 horas.
  • Cefazolina 1-2 g IV a cada 8 horas.

4. Infecções por CoNS Meticilino-Resistentes (MRSE)

  • Vancomicina associada a rifampicina em infecções com dispositivos.
  • Telavancina ou Ceftarolina como opções alternativas.

Prevenção e Controle

  • Técnicas rigorosas de assepsia para manipulação de dispositivos invasivos.
  • Troca frequente de cateteres e manutenção de higiene adequada.
  • Monitoramento epidemiológico para detectar surtos nosocomiais.

Conclusão

Os estafilococos coagulase-negativa representam um importante desafio no ambiente hospitalar, especialmente em pacientes imunocomprometidos e portadores de dispositivos médicos. O manejo adequado requer diagnóstico preciso para distinguir contaminação de infecção verdadeira, seguido por terapia antimicrobiana dirigida. A resistência antimicrobiana emergente destaca a importância de estratégias rigorosas de prevenção e controle de infecções.

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Referências

BADDOUR, L. M.; WILSON, W. R.; BAYER, A. S.; et al. Infective Endocarditis in Adults: Diagnosis, Antimicrobial Therapy, and Management of Complications. Circulation, v. 132, n. 15, p. 1435-86, 2015.

BECKER, K.; HEILMANN, C.; PETERS, G. Coagulase-negative staphylococci. Clin Microbiol Rev., v. 27, n. 4, p. 870-926, 2014.

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