As bactérias do gênero Prevotella são bacilos Gram-negativos anaeróbicos, amplamente distribuídos na microbiota da cavidade oral, trato respiratório superior, trato gastrointestinal e trato geniturinário feminino. Embora sejam comensais, essas bactérias podem atuar como patógenos oportunistas em infecções polimicrobianas, incluindo infecções odontológicas, abscessos pulmonares, infecções ginecológicas e infecções de pele e tecidos moles.
As espécies mais comuns incluem:
- Prevotella intermedia e Prevotella melaninogenica (infecções orais e respiratórias).
- Prevotella bivia e Prevotella disiens (infecções ginecológicas e pélvicas).
Microbiologia
- Bacilos Gram-negativos anaeróbicos.
- Podem ser pigmentados (colônias pretas) ou não pigmentados.
- Crescimento lento (> 48 horas) em meios anaeróbicos seletivos.
- Bile-sensíveis e resistentes à vancomicina (diferenciam-se de Bacteroides fragilis e Porphyromonas spp.).
- Produzem beta-lactamase, conferindo resistência a penicilinas simples.
Resistência Intrínseca
- Aminoglicosídeos, aztreonam, trimetoprima, sulfonamidas e fosfomicina.
- Crescimento da resistência a fluoroquinolonas (18%) e metronidazol (até 3%).
Epidemiologia e Fatores de Risco
- Infecções odontogênicas são as mais comuns.
- Mais prevalentes em infecções polimicrobianas:
- 28% das infecções profundas de cabeça e pescoço.
- 12,3% dos casos de infecção de pé diabético.
- Fatores de risco:
- Trauma oral ou cirurgia dentária.
- Uso de dispositivos intrauterinos (DIU).
- Diabetes mellitus e imunossupressão.
Manifestações Clínicas
1. Infecções do Sistema Nervoso Central (SNC)
- Abscesso cerebral e meningite.
- Frequente em infecções sinusais e otites crônicas.
2. Infecções de Cabeça e Pescoço
- Sinusite crônica e otite média crônica.
- Abscesso dentário e periodontite.
- Abscesso peritonsilar e adenite cervical.
3. Infecções Cardiovasculares
- Endocardite infecciosa (raro, mas descrito).
4. Infecções Pulmonares
- Pneumonia aspirativa e abscesso pulmonar.
- Derrame pleural e empiema.
5. Infecções Intra-Abdominais
- Peritonite e abscesso intra-abdominal.
- Infecções pélvicas (DIP, abscesso tubo-ovariano).
6. Infecções de Pele e Tecidos Moles
- Celulite, abscessos, infecções de mordidas humanas.
- Infecção de queimaduras e feridas cirúrgicas.
Diagnóstico
1. Cultura Anaeróbica
- Requer transporte e processamento especializados.
- Crescimento lento (> 48h) em meios anaeróbicos seletivos.
2. Exame Direto e Gram
- Bacilos Gram-negativos pleomórficos.
3. Testes Moleculares
- PCR 16S rRNA pode confirmar a espécie.
4. Diagnóstico Diferencial
- Bacteroides fragilis (bile-resistente).
- Porphyromonas spp. (sensível à vancomicina).
- Fusobacterium spp. (associado à síndrome de Lemierre).
Tratamento
Infecções por Prevotella são frequentemente polimicrobianas, exigindo cobertura para outros anaeróbios e aeróbios.
1. Primeira Linha
- Ampicilina/sulbactam 3 g IV a cada 6h.
- Amoxicilina/clavulanato 875/125 mg VO a cada 12h.
- Piperacilina/tazobactam 4,5 g IV a cada 6h.
- Metronidazol 500 mg VO/IV a cada 8h (uso combinado com beta-lactâmicos).
2. Alternativas para Alergia a Beta-Lactâmicos
- Imipenem/cilastatina 500 mg IV a cada 6h.
- Meropenem 1 g IV a cada 8h.
- Tigeciclina 50 mg IV a cada 12h.
- Ertapenem 1 g IV a cada 24h.
3. Infecções Graves
- Bacteremia/endocardite: Ceftriaxona 2 g IV/dia por 4-6 semanas.
- Osteomielite/artrite séptica: Ampicilina/sulbactam IV por 6 semanas.
- Abscesso pulmonar: Piperacilina/tazobactam ou Meropenem IV.
Evitar:
- Ampicilina isolada (resistência > 50%).
- Clindamicina (resistência > 34% em algumas regiões).
- Tetraciclinas e fluoroquinolonas (resistência significativa).
Prevenção e Controle
- Higiene oral rigorosa para prevenir infecções odontogênicas.
- Profilaxia antibiótica antes de procedimentos odontológicos em imunossuprimidos.
- Drenagem de abscessos quando necessário.
Conclusão
O gênero Prevotella inclui anaeróbios frequentemente envolvidos em infecções polimicrobianas, particularmente orais, pulmonares, ginecológicas e intra-abdominais. O tratamento deve ser baseado em beta-lactâmicos combinados com inibidores de beta-lactamase ou metronidazol. A resistência crescente a clindamicina e fluoroquinolonas reforça a necessidade de testes de suscetibilidade em infecções graves.
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Referências
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