Pasteurella spp.:

As espécies do gênero Pasteurella são bacilos Gram-negativos facultativamente anaeróbicos, não móveis e frequentemente encontrados na flora oral de cães e gatos. São reconhecidas como causas comuns de infecções de mordidas e arranhaduras de animais, podendo levar a celulite, abscessos, osteomielite e, raramente, infecções sistêmicas.

As espécies do gênero Pasteurella são bacilos Gram-negativos facultativamente anaeróbicos, não móveis e frequentemente encontrados na flora oral de cães e gatos. São reconhecidas como causas comuns de infecções de mordidas e arranhaduras de animais, podendo levar a celulite, abscessos, osteomielite e, raramente, infecções sistêmicas.

A principal espécie envolvida em infecções humanas é a Pasteurella multocida, mas outras espécies clinicamente relevantes incluem P. canis, P. dagmatis, P. pneumotropica, P. aerogenes e P. stomatis.

Microbiologia

  • Bacilos ou cocobacilos Gram-negativos, aeróbios ou facultativamente anaeróbicos.
  • Catalase e oxidase positivos.
  • Crescimento ótimo em Ágar sangue a 37°C.
  • Sensíveis à penicilina e tetraciclinas, mas podem apresentar produção de beta-lactamase.

Reservatório e Transmissão

  • Colonizam a orofaringe de cães e gatos (>70% dos gatos, >50% dos cães).
  • Infecção ocorre por mordidas, arranhões ou lambedura de feridas abertas.
  • Casos raros sem contato animal direto sugerem transmissão indireta.

Epidemiologia e Fatores de Risco

  • Infecções relacionadas a mordidas e arranhões de animais são as mais comuns.
  • Gatos transmitem infecção com mais frequência do que cães.
  • Populações de risco:
    • Pacientes imunossuprimidos (quimioterapia, transplantes, HIV/AIDS).
    • Doenças crônicas (diabetes, insuficiência hepática).
    • Idosos (>65 anos) com múltiplas comorbidades.
    • Pessoas com exposição frequente a animais (veterinários, criadores, cuidadores de pets).

Manifestações Clínicas

1. Infecções de Pele e Tecidos Moles

  • Celulite rapidamente progressiva após mordida de gato ou cão.
  • Dor intensa em poucas horas após a mordida.
  • Pode evoluir para:
    • Abscessos e tenossinovite (mãos e pés são locais comuns).
    • Necrose tecidual e fasciíte necrosante (casos raros).
    • Osteomielite e artrite séptica (após mordidas profundas).

2. Infecções Osteoarticulares

  • Osteomielite:
    • Ocorre após mordidas profundas, principalmente em mãos.
    • Pode levar a infecção crônica se não tratada adequadamente.
  • Artrite séptica:
    • Mais comum no joelho, especialmente em pacientes com artrite reumatoide ou próteses articulares.

3. Infecções Respiratórias

  • Pneumonia por Pasteurella:
    • Relatos de pneumonia grave e rapidamente progressiva.
    • Mais comum em pacientes com DPOC ou doenças pulmonares pré-existentes.
  • Casos raros:
    • Sinusite, otite média, mastoidite, epiglotite e faringite.

4. Infecção Sistêmica

  • Bacteremia:
    • Pode ser primária ou secundária a mordidas infectadas.
    • Mais comum em idosos imunossuprimidos.
  • Endocardite:
    • Raro, mas altamente letal.
    • Pode ocorrer sem histórico de mordedura animal.
  • Meningite:
    • Mais frequente em neonatos e idosos.
    • Pode ser confundida com infecção por Haemophilus ou Neisseria.

5. Outras Infecções

  • Abscessos viscerais por disseminação hematogênica (baço, fígado, rim).
  • Infecções oculares (conjuntivite e endoftalmite).

Diagnóstico

1. Cultura

  • Cresce em Ágar sangue a 37°C em 24-48h.
  • Não cresce em Ágar MacConkey (diferencia de Enterobacteriaceae).
  • Diferencial com Haemophilus e Neisseria pode ser necessário.

2. Gram e Testes Bioquímicos

  • Gram: Pequenos bacilos ou cocobacilos Gram-negativos.
  • Oxidase e catalase positivos.

3. Diagnóstico Diferencial

  • Celulite e abscessos: Streptococcus pyogenes, Staphylococcus aureus, Capnocytophaga.
  • Pneumonia: Klebsiella pneumoniae, Haemophilus influenzae.
  • Meningite: Haemophilus spp., Neisseria meningitidis.

Tratamento

Infecções por Pasteurella são frequentemente polimicrobianas, exigindo cobertura para outros anaeróbios e Gram-positivos.

1. Primeira Linha

  • Amoxicilina/clavulanato 500 mg VO 3x/dia OU 875 mg VO 2x/dia.
  • Ampicilina/sulbactam 3 g IV a cada 6h (pacientes hospitalizados).
  • Ceftriaxona 2 g IV 1x/dia (casos graves ou bacteremia).

2. Alternativas (Alergia a Beta-Lactâmicos)

  • Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia.
  • Ciprofloxacino 500 mg VO 2x/dia ou 400 mg IV 2x/dia.
  • Levofloxacino 500 mg VO ou IV 1x/dia.
  • TMP/SMX 1 DS VO 2x/dia.

Resistência:

  • Macrolídeos (eritromicina) têm resistência significativa.
  • Clindamicina e cefalexina NÃO são eficazes.

3. Infecções Graves

  • Bacteremia/endocardite: Ceftriaxona 2 g IV/dia por 4-6 semanas.
  • Osteomielite/artrite séptica: Ampicilina/sulbactam IV por 4-6 semanas.
  • Pneumonia severa: Ceftriaxona + Azitromicina IV.

4. Cirurgia e Manejo Adjuvante

  • Drenagem de abscessos se necessário.
  • Elevação do membro afetado para reduzir edema.
  • Consulta com cirurgião ortopédico em osteomielite e artrite séptica.

Prevenção e Controle

  • Evitar contato direto entre animais e feridas abertas.
  • Profilaxia antibiótica para mordidas de alto risco:
    • Amoxicilina/clavulanato 875 mg VO 2x/dia por 3-5 dias.
    • Alternativa: Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia.

Conclusão

As infecções por Pasteurella são comuns após mordidas de gatos e cães, frequentemente evoluindo para celulite rapidamente progressiva e abscessos. O tratamento precoce com amoxicilina/clavulanato reduz complicações, mas infecções graves podem requerer antibioticoterapia prolongada e intervenção cirúrgica.

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Referências

  1. Greene SE, Fritz SA. Infectious Complications of Bite Injuries. Infect Dis Clin North Am. 2021;35(1):219-236. [PMID:33494873].
  2. Talan DA, Citron DM, Abrahamian FM, et al. Bacteriologic analysis of infected dog and cat bites. N Engl J Med. 1999;340(2):85-92. [PMID:9887159].
  3. Christenson ES, Ahmed HM, Durand CM. Pasteurella multocida infection in solid organ transplantation. Lancet Infect Dis. 2015;15(2):235-240. [PMID:25467649].

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