O Mycoplasma hominis (M. hominis) é uma bactéria de crescimento rápido, pertencente à classe Mollicutes, caracterizada pela ausência de parede celular, o que a torna intrinsecamente resistente a antibióticos beta-lactâmicos. Ele pode colonizar o trato geniturinário de indivíduos saudáveis, mas também está associado a infecções genitais, obstétricas e extragenitais, especialmente em imunossuprimidos e pós-operatórios.
Microbiologia
- Aeróbico e fastidioso, mais fácil de cultivar do que Mycoplasma genitalium.
- Ausência de parede celular:
- Resistente a beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas).
- Não visível na coloração de Gram.
- Diferente de M. genitalium:
- Resistência intrínseca a macrolídeos de 14 e 15 membros (eritromicina, claritromicina, azitromicina).
- Cultura:
- Cresce em 2-5 dias em ágar sangue ou chocolate.
- Aparência de “ovo frito” em ágar (colônias pequenas, densas no centro).
- Dificuldade no isolamento em hemoculturas devido à inibição pelo polianetol sulfonato.
Epidemiologia e Transmissão
- Colonização comum em adultos sexualmente ativos:
- 21-53% das mulheres assintomáticas.
- Taxas menores em homens.
- Frequentemente detectado com Ureaplasma spp..
- Associação com infecções obstétricas e neonatais:
- Pode ser adquirido no parto, mas a colonização neonatal geralmente é transitória.
Manifestações Clínicas
1. Infecções Genitais
- Febre pós-parto e pós-aborto:
- Principalmente em endometrite e infecção de ferida cesariana.
- Doença Inflamatória Pélvica (DIP):
- Clinicamente indistinguível de outras causas.
- Mais comum em infecções pós-procedimentos ginecológicos.
- Bacteremia pós-parto:
- Pode ser subdiagnosticada devido a falha na detecção em hemoculturas convencionais.
2. Infecções Extragenitais
- Pielonefrite e infecções urinárias atípicas.
- Endocardite e pericardite:
- Predileção por envolvimento pleural e cardíaco.
- Pode causar derrame pleural purulento.
- Artrite séptica e osteomielite:
- Infecções articulares descritas em imunossuprimidos.
- Mediastinite e infecção de próteses cardiovasculares.
- Infecção de feridas cirúrgicas:
- Especialmente em cirurgias torácicas e vasculares.
- Síndrome de hiperamonemia:
- Descrita em transplantes renais, pulmonares e hematopoiéticos.
- Apresenta-se com deterioração neurológica e hiperamonemia severa sem disfunção hepática.
Diagnóstico
Solicite ao laboratório o uso de meios de cultura específicos para M. hominis se houver suspeita clínica.
1. Cultura (Padrão-Ouro)
- Chocolate agar incubado por pelo menos 5 dias.
- Pode ser difícil de identificar devido ao seu crescimento pequeno e translúcido.
2. PCR e Diagnóstico Molecular
- Mais sensível que a cultura.
- Detecta infecção em amostras geniturinárias e extragenitais.
- Pode ser útil em líquido sinovial, pleural, LCR e sangue.
3. Hemoculturas
- Baixa sensibilidade devido à inibição pelo anticoagulante polianetol sulfonato.
Tratamento
Resistente a beta-lactâmicos e macrolídeos de 14/15 membros.
1. Infecções Geniturinárias e Obstétricas
- Duração: 7-14 dias.
- Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia (primeira escolha).
- Alternativas:
- Clindamicina 600 mg IV a cada 8h.
- Levofloxacino 500 mg VO/dia.
- Moxifloxacino 400 mg VO/dia.
2. Infecções Extragenitais Graves
- Terapia combinada recomendada.
- Clindamicina 600 mg IV a cada 8h + Levofloxacino 500 mg IV/dia.
- Alternativas:
- Linezolida 600 mg IV/VO 2x/dia.
- Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia.
3. Endocardite e Mediastinite
- Prolongar o tratamento por 4-6 semanas.
- Linezolida + Moxifloxacino demonstraram boa eficácia.
Resistência Antimicrobiana
- Resistência intrínseca a:
- Beta-lactâmicos (ausência de parede celular).
- Macrolídeos de 14 e 15 membros (eritromicina, claritromicina, azitromicina).
- Ciprofloxacino (altas taxas de resistência).
- Susceptível a:
- Doxiciclina, levofloxacino, moxifloxacino, clindamicina e linezolida.
Prevenção e Controle
- Não é considerada uma IST, mas a colonização aumenta com múltiplos parceiros sexuais.
- Tratamento de gestantes colonizadas não reduz complicações neonatais.
- Profilaxia pode ser necessária em pacientes imunossuprimidos de alto risco.
Considerações Finais
O Mycoplasma hominis é um patógeno oportunista, frequentemente associado a infecções pós-parto, pós-cirúrgicas e imunossupressão. O diagnóstico depende de cultura especializada ou PCR, e o tratamento deve ser baseado em doxiciclina, fluoroquinolonas ou clindamicina, evitando macrolídeos e beta-lactâmicos devido à resistência intrínseca.
📚 Isso foi só um aperitivo. No App do InfectoCast tem conteúdo aprofundado, confiável e sempre atualizado pra quem vive a medicina de verdade.
📲 Baixe agora e eleve seu raciocínio clínico.
Referências
- Horner P, Donders G, Cusini M, et al. Should we be testing for urogenital Mycoplasma hominis, Ureaplasma parvum and Ureaplasma urealyticum in men and women? J Eur Acad Dermatol Venereol. 2018;32(11):1845-1851. [PMID:29924422].
- Nowbakht C, Edwards AR, Rodriguez-Buritica DF, et al. Two Cases of Fatal Hyperammonemia Syndrome due to Mycoplasma hominis and Ureaplasma urealyticum in Immunocompromised Patients. Open Forum Infect Dis. 2019;6(3):ofz033. [PMID:30863787].
- Gagneux-Brunon A, Grattard F, Morel J, et al. Mycoplasma hominis, a Rare but True Cause of Infective Endocarditis. J Clin Microbiol. 2015;53(9):3068-71. [PMID:26135868].
- De Francesco MA, Caracciolo S, Bonfanti C, et al. Incidence and antibiotic susceptibility of Mycoplasma hominis and Ureaplasma urealyticum isolated in Brescia, Italy, over 7 years. J Infect Chemother. 2013;19(4):621-7. [PMID:23192735].
- Wylam ME, Kennedy CC, Hernandez NM, et al. Fatal hyperammonaemia caused by Mycoplasma hominis. Lancet. 2013;382(9908):1956. [PMID:24315178].