Espécies de Moraxella:

As espécies do gênero Moraxella são diplococos Gram-negativos que colonizam o trato respiratório superior de humanos. A principal espécie patogênica é Moraxella catarrhalis, anteriormente conhecida como Branhamella catarrhalis. Embora tradicionalmente considerada um comensal, M. catarrhalis pode causar infecções respiratórias, especialmente em crianças, idosos e imunossuprimidos.

As espécies do gênero Moraxella são diplococos Gram-negativos que colonizam o trato respiratório superior de humanos. A principal espécie patogênica é Moraxella catarrhalis, anteriormente conhecida como Branhamella catarrhalis. Embora tradicionalmente considerada um comensal, M. catarrhalis pode causar infecções respiratórias, especialmente em crianças, idosos e imunossuprimidos.

Além de M. catarrhalis, outras espécies como M. nonliquefaciens e M. osloensis foram associadas a infecções invasivas raras.

Microbiologia

  • Diplococo Gram-negativo, frequentemente confundido com Neisseria gonorrhoeae na coloração de Gram.
  • Beta-lactamase positiva em 95% das cepas, tornando a amoxicilina ineficaz.
  • Aeróbia, não fermentadora, cresce facilmente em ágar chocolate e sobrevive em temperaturas de até 28°C.
  • Coloniza o trato respiratório superior de 5-15% da população:
    • Mais comum em crianças e lactentes.
    • Colonização diminui em adultos saudáveis.

Epidemiologia e Fatores de Risco

  • Maior incidência em crianças, idosos e pacientes com DPOC.
  • Transmissão ocorre por contato respiratório direto ou gotículas.
  • Fatores predisponentes:
    • Doenças pulmonares crônicas (DPOC, asma).
    • Uso prolongado de ventilação mecânica.
    • Imunossupressão (quimioterapia, HIV, uso de corticoides).
    • Cirurgias otorrinolaringológicas (associada a sinusites e otites médias).

Manifestações Clínicas

M. catarrhalis pode causar tanto infecções respiratórias comuns quanto doenças invasivas raras.

1. Infecções Respiratórias Superiores

  • Otite Média Aguda (OMA)
    • Terceira principal causa bacteriana de otite em crianças, após Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae.
    • Responsável por 15-20% dos casos de OMA.
    • Resistência à amoxicilina exige uso de amoxicilina-clavulanato.
  • Sinusite Bacteriana Aguda
    • 10-20% dos casos de sinusite bacteriana em adultos e crianças.
    • Associada a sintomas persistentes (>10 dias), secreção purulenta e dor facial.

2. Infecções Respiratórias Inferiores

  • Exacerbação de DPOC
    • Segunda principal bactéria isolada em exacerbações de DPOC, após Haemophilus influenzae.
    • Pode levar a pneumonia bacteriana secundária em pacientes debilitados.
  • Pneumonia
    • Rara, ocorrendo em <1% dos casos.
    • Mais frequente em idosos institucionalizados e imunossuprimidos.

3. Infecções Invasivas (Raras)

  • Bacteremia
    • Menos de 100 casos relatados na literatura.
    • Associada a imunossupressão grave (câncer, HIV, transplantes).
  • Endocardite
    • Extremamente rara, mas altamente letal.
    • Afeta pacientes com valvulopatias prévias ou dispositivos cardíacos.
  • Infecções Oculares
    • Queratite e conjuntivite descritas em usuários de lentes de contato.
    • Pode causar ulceração corneana grave.

Diagnóstico

  1. Exame Direto e Cultura
    • Gram: diplococos Gram-negativos, similares a Neisseria.
    • Cultura: cresce bem em ágar chocolate.
    • Beta-lactamase positiva em 95% das cepas (testar resistência à penicilina).
  2. Exames de Imagem
    • Otite média: timpanometria e otoscopia.
    • Sinusite: TC pode ser necessária em casos crônicos.
    • DPOC/Pneumonia: Rx de tórax pode mostrar infiltrações em exacerbações graves.
  3. Hemoculturas
    • Em casos suspeitos de bacteremia ou endocardite.

Tratamento

Amoxicilina isolada não é eficaz devido à produção de beta-lactamase.

1. Infecções Respiratórias Não Graves

  • Otite Média, Sinusite, Exacerbação de DPOC:
    • Amoxicilina-clavulanato 875/125 mg VO 2x/dia.
    • Azitromicina 500 mg VO no 1º dia, depois 250 mg/dia por 4 dias.
    • Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia.
  • Alternativas:
    • Cefuroxima 500 mg VO 2x/dia.
    • Cefdinir 300 mg VO 2x/dia.
    • TMP-SMX 1 DS VO 2x/dia (não recomendado em resistência local).

2. Pneumonia e Infecções Graves

  • Ceftriaxona 1-2 g IV/dia ou Cefotaxima 2 g IV a cada 8h.
  • Ampicilina-sulbactam 3 g IV a cada 6h.
  • Fluoroquinolonas (moxifloxacino, levofloxacino) reservadas para falha terapêutica.

3. Endocardite e Bacteremia

  • Ceftriaxona 2 g IV/dia por 4-6 semanas.
  • Alternativa: Ampicilina-sulbactam IV ou cefotaxima IV.

Prevenção e Controle

  • Higiene respiratória: lavagem das mãos e etiqueta respiratória.
  • Vacinação contra influenza e pneumococo: reduz infecções secundárias.
  • Tratamento adequado de otites e sinusites: evita complicações.

Conclusão

As infecções por Moraxella catarrhalis são frequentes no trato respiratório, especialmente em crianças e pacientes com DPOC. A resistência à amoxicilina exige o uso de betalactâmicos com inibidores de beta-lactamase ou macrolídeos/tetraciclinas. Embora rara, a doença invasiva pode ser grave e letal, exigindo antibioticoterapia intravenosa.

🔍 Gostou do conteúdo? No app do InfectoCast você encontra protocolos, bulário, microbiologia, vacinação e muito mais em um só lugar.
👉 Clique aqui e conheça o app.

Referências

  1. Murphy TF, Brauer AL, Grant BJ, et al. Moraxella catarrhalis in chronic obstructive pulmonary disease: burden of disease and immune response. Am J Respir Crit Care Med. 2005;172(2):195-9. [PMID:15805178].
  2. Beekmann SE, Heilmann KP, Richter SS, et al. Antimicrobial resistance in Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis and group A beta-haemolytic streptococci in 2002-2003. Int J Antimicrob Agents. 2005;25(2):148-56. [PMID:15664485].
  3. Durrani AF, Faith SC, Kowalski RP, et al. Moraxella Keratitis: Analysis of Risk Factors, Clinical Characteristics, Management, and Treatment Outcomes. Am J Ophthalmol. 2019;197:17-22. [PMID:30201340].
  4. Sethi S, Sethi R, Eschberger K, et al. Airway bacterial concentrations and exacerbations of chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med. 2007;176(4):356-61. [PMID:17478618].

Posts Relacionados

Estrutura Mínima para Garantir Segurança em Serviços de Oftalmologia com Alto Volume de Procedimentos

Controle de Infecção em Ambulatórios Oftalmológicos: Onde Estão os Riscos Invisíveis?

SIREVA 2024

O Instituto Adolfo Lutz, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), divulgou os dados atualizados do Sistema Regional de Vacinas (SIREVA) para o ano de 2023, destacando o perfil microbiológico e sorotípico das cepas invasivas de Streptococcus pneumoniae circulantes no Brasil.

Claritromicina

A claritromicina é um antibiótico versátil e eficaz, sendo uma escolha primária para infecções respiratórias, H. pylori e micobacterioses. Entretanto, suas interações medicamentosas e o risco de prolongamento do QTc exigem monitoramento cuidadoso.

Azitromicina

A azitromicina é um antibiótico versátil e bem tolerado, sendo uma opção valiosa para infecções respiratórias, gastrointestinais e sexualmente transmissíveis. No entanto, o aumento da resistência e os riscos cardíacos requerem uso criterioso e monitoramento adequado.

Vancomicina

A vancomicina continua sendo uma opção essencial para o tratamento de infecções graves por MRSA e C. difficile. No entanto, seu uso deve ser monitorado rigorosamente para evitar toxicidade renal e falhas terapêuticas. O monitoramento da AUC/MIC emergiu como um novo padrão para otimizar eficácia e minimizar efeitos adversos.