Erysipelothrix rhusiopathiae:

O Erysipelothrix rhusiopathiae é um bacilo Gram-positivo pleomórfico, aeróbio ou anaeróbio facultativo, de crescimento lento, que pode causar infecções zoonóticas em humanos. Ele é notável por sua resistência intrínseca à vancomicina e por ser uma causa rara, mas relevante, de infecções cutâneas e sistêmicas.

Introdução

O Erysipelothrix rhusiopathiae é um bacilo Gram-positivo pleomórfico, aeróbio ou anaeróbio facultativo, de crescimento lento, que pode causar infecções zoonóticas em humanos. Ele é notável por sua resistência intrínseca à vancomicina e por ser uma causa rara, mas relevante, de infecções cutâneas e sistêmicas.

Microbiologia

O E. rhusiopathiae é um patógeno zoonótico cuja principal fonte de infecção são animais domésticos e silvestres, incluindo suínos, perus, peixes e moluscos. A infecção humana geralmente ocorre por inoculação traumática, especialmente em trabalhadores expostos a animais e carnes contaminadas, como açougueiros, veterinários e pescadores.

A identificação laboratorial pode ser desafiadora, pois a bactéria cresce lentamente em meios enriquecidos com sangue a 5–10% de CO₂ e pode ser confundida com difteroides (Corynebacterium spp.) e Lactobacillus. O teste de produção de H₂S é um diferencial importante para distinguir E. rhusiopathiae de outras bactérias semelhantes.

Resistência e Suscetibilidade Antimicrobiana

O E. rhusiopathiae apresenta resistência intrínseca à vancomicina, aminoglicosídeos e sulfonamidas. Estudos indicam que a bactéria é geralmente sensível a betalactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), macrolídeos e tetraciclinas (Tan et al., 2017 [PMID:28206705]; Stevens et al., 2014 [PMID:24947530]).

Manifestações Clínicas

As principais síndromes associadas ao E. rhusiopathiae incluem:

  1. Erisipeloide (forma mais comum): uma infecção cutânea localizada que se manifesta como uma placa eritematosa purpúrica com bordas elevadas e centro mais claro. Afeta predominantemente as mãos e dedos.
  2. Forma cutânea difusa (rara): lesões cutâneas disseminadas associadas a febre, mialgia, artralgia e linfadenopatia.
  3. Bacteremia e Endocardite (raras): a endocardite afeta predominantemente a valva aórtica e pode apresentar vegetações grandes e ulceradas. A bacteremia pode ocorrer sem evidência de vegetação valvar e é mais comum em imunocomprometidos (Miura et al., 2013 [PMID:22664947]).
  4. Outras manifestações raras: linfangite, artrite reativa, infecção de próteses articulares, osteomielite, peritonite e meningite.

Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se em cultura de tecido, sangue ou biópsia da pele. O E. rhusiopathiae pode ser confundido com difteroides e Corynebacterium, mas a produção de H₂S é um diferencial importante. Além disso, ao contrário de muitas infecções cutâneas, a erisipeloide frequentemente apresenta hemoculturas positivas.

Tratamento

Infecção Localizada (Erisipeloide)

  • Escolha preferencial: Penicilina VK 500 mg VO 4x/dia ou Amoxicilina 500 mg VO 3x/dia por 7–10 dias.
  • Alternativas (para alergia à penicilina):
    • Eritromicina 250 mg VO 4x/dia
    • Doxiciclina 100 mg VO 2x/dia
    • Cefalosporinas de primeira geração

Infecção Disseminada

  • Tratamento semelhante à infecção localizada.
  • Avaliação para endocardite.

Sepsis e Endocardite

  • Terapia primária: Penicilina G 2,4 milhões U/dia IV dividida em 4 doses por 4–6 semanas, com ou sem aminoglicosídeos (estreptomicina 1 g/dia IV ou gentamicina 1 mg/kg IV a cada 8 horas na primeira semana).
  • Casos graves: Pode ser necessário substituição valvar.

O tratamento normalmente dura 5–10 dias para formas cutâneas, mas pode se estender para 4–6 semanas em endocardite.

Conclusão

O Erysipelothrix rhusiopathiae é um patógeno zoonótico de importância ocupacional, sendo uma causa rara de infecção cutânea e endocardite. O diagnóstico pode ser desafiador devido à semelhança com outras bactérias, mas testes laboratoriais como produção de H₂S podem ajudar. O tratamento com penicilinas e cefalosporinas é altamente eficaz, com prognóstico geralmente favorável para infecções localizadas. No entanto, casos de endocardite podem exigir tratamento prolongado e, em alguns casos, intervenção cirúrgica.

📚 Isso foi só um aperitivo. No App do InfectoCast tem conteúdo aprofundado, confiável e sempre atualizado pra quem vive a medicina de verdade.
📲 Baixe agora e eleve seu raciocínio clínico.

Referências

  1. Stevens DL, Bisno AL, Chambers HF, et al. Practice guidelines for the diagnosis and management of skin and soft tissue infections: 2014 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2014;59(2):147-159. [PMID:24947530].
  2. Tan EM, Marcelin JR, Adeel N, et al. Erysipelothrix rhusiopathiae bloodstream infection – A 22-year experience at Mayo Clinic, Minnesota. Zoonoses Public Health. 2017;64(7):e65-e72. [PMID:28206705].
  3. Miura T, Hashizume K, Ariyoshi T, et al. Active infective endocarditis due to Erysipelothrix rhusiopathiae: zoonosis caused by vancomycin-resistant gram-positive rod. Gen Thorac Cardiovasc Surg. 2013;61(2):96-9. [PMID:22664947].

Posts Relacionados

Claritromicina

A claritromicina é um antibiótico versátil e eficaz, sendo uma escolha primária para infecções respiratórias, H. pylori e micobacterioses. Entretanto, suas interações medicamentosas e o risco de prolongamento do QTc exigem monitoramento cuidadoso.

Azitromicina

A azitromicina é um antibiótico versátil e bem tolerado, sendo uma opção valiosa para infecções respiratórias, gastrointestinais e sexualmente transmissíveis. No entanto, o aumento da resistência e os riscos cardíacos requerem uso criterioso e monitoramento adequado.

Vancomicina

A vancomicina continua sendo uma opção essencial para o tratamento de infecções graves por MRSA e C. difficile. No entanto, seu uso deve ser monitorado rigorosamente para evitar toxicidade renal e falhas terapêuticas. O monitoramento da AUC/MIC emergiu como um novo padrão para otimizar eficácia e minimizar efeitos adversos.

Espécies de Yersinia:

As espécies de Yersinia não relacionadas à peste são bacilos Gram-negativos pertencentes à família Enterobacteriaceae. Entre as espécies patogênicas para humanos.

Yersinia pestis:

O Yersinia pestis é um bacilo Gram-negativo bipolar da família Enterobacteriaceae, caracterizado por sua aparência de "alfinete de segurança" ao ser corado por Giemsa. É o agente etiológico da peste, uma doença zoonótica historicamente devastadora que causou pandemias como a Peste Negra na Idade Média. A infecção é transmitida principalmente pela picada de pulgas infectadas, embora também possa ocorrer por meio de gotículas respiratórias (peste pneumônica) ou contato direto com animais infectados (FABRE, 2025).

Espécies de Vibrio (não cólera):

As espécies de Vibrio não coléricas são bacilos Gram-negativos com formato de vírgula, pertencentes à família Vibrionaceae. Essas bactérias são frequentemente encontradas em ambientes marinhos, especialmente em águas mornas e salobras, e estão associadas a infecções humanas por meio da ingestão de frutos do mar contaminados ou pela exposição de feridas abertas à água do mar.