Chlamydophila psittaci e Psitacose

A Chlamydophila psittaci (anteriormente Chlamydia psittaci) é uma bactéria Gram-negativa intracelular obrigatória, responsável pela psitacose, uma zoonose adquirida por exposição a aves. Essa infecção pode variar de uma síndrome gripal leve a uma pneumonia grave, com manifestações sistêmicas.

A Chlamydophila psittaci (anteriormente Chlamydia psittaci) é uma bactéria Gram-negativa intracelular obrigatória, responsável pela psitacose, uma zoonose adquirida por exposição a aves. Essa infecção pode variar de uma síndrome gripal leve a uma pneumonia grave, com manifestações sistêmicas.

A doença é subdiagnosticada, pois os sintomas podem imitar diversas outras causas de pneumonia atípica, como Mycoplasma pneumoniae, Legionella spp. e Coxiella burnetii. Este artigo revisa os aspectos microbiológicos, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos da C. psittaci.

Microbiologia

Características Gerais

  • Bactéria Gram-negativa intracelular obrigatória.
  • Ciclo de vida bifásico:
    • Corpo elementar (forma infecciosa e extracelular).
    • Corpo reticulado (forma intracelular replicativa).
  • Afeta primariamente aves, mas pode ser transmitida a humanos.

Transmissão

  • Exposição a aves infectadas (papagaios, periquitos, pombos, patos, galinhas).
  • Inalação de aerossóis de excrementos, secreções ou penas.
  • Contato direto com aves doentes (pet shops, aviários, veterinários).
  • Casos relatados após uso de cortadores de grama em áreas contaminadas.

Epidemiologia

  • Casos subnotificados → aproximadamente 10 casos relatados por ano nos EUA.
  • Doença ocupacional em criadores de aves, veterinários e trabalhadores de frigoríficos.
  • Incidência maior no outono e inverno, quando o contato com aves aumenta.

Manifestações Clínicas

A infecção pode variar de assintomática a uma pneumonia grave.

1. Síndrome Febril Sistêmica

  • Febre alta, calafrios e mal-estar intenso.
  • Cefaleia intensa (dica diagnóstica).
  • Mialgia e artralgia.

2. Pneumonia Atípica

  • Tosse seca e dispneia.
  • Achados radiológicos variáveis:
    • Infiltrados intersticiais ou lobares.
    • Derrame pleural raro.
  • Ausculta pulmonar normal ou com poucos estertores.

3. Manifestações Sistêmicas

  • Hepatite e esplenomegalia.
  • Bradicardia relativa (pulso dissociado da febre).
  • Meningite asséptica e encefalite (raro).
  • Endocardite, miocardite e pericardite (raros, mas graves).
  • Horder’s spots → Exantema maculopapular rosado (incomum).

Diagnóstico

1. Testes Moleculares (PCR)

  • Método preferido, mas não amplamente disponível.
  • Detecta DNA de C. psittaci em amostras respiratórias.

2. Cultura (Raramente Feita)

  • Exige cultivo em células vivas.
  • Alto risco biológico (BSL-3).

3. Sorologia

  • Microimunofluorescência (MIF):
    • IgM >1:16 ou elevação de 4x no IgG (em 4-6 semanas) → diagnóstico confirmado.
    • IgG >1:32 sugere infecção presumida.
  • Limitações:
    • Não diferencia C. psittaci de outras clamídias (C. pneumoniae e C. trachomatis).
    • Uso precoce de antibióticos pode afetar resposta sorológica.

4. Diagnóstico Diferencial

  • Outras pneumonias atípicas:
    • Coxiella burnetii (Febre Q).
    • Mycoplasma pneumoniae.
    • Chlamydia pneumoniae.
    • Legionella spp.
    • Infecções virais (Influenza, SARS-CoV-2).

Tratamento

1. Opções Preferenciais

  • Doxiciclina 100 mg VO/IV 12/12h por 10-21 dias (1ª escolha).
  • Tetraciclina 500 mg VO 6/6h por 10-21 dias (menos utilizada).

2. Alternativas

  • Azitromicina 500 mg VO/dia por 7 dias.
  • Eritromicina 500 mg VO 6/6h por 10-14 dias (menos eficaz).

3. Casos Graves

  • Doxiciclina IV até melhora clínica, seguido por VO por 14-21 dias.
  • Azitromicina pode ser usada, mas faltam estudos clínicos em humanos.

Prevenção

  • Higienização de gaiolas e aviários.
  • Uso de máscaras ao manipular aves doentes.
  • Evitar contato com aves doentes sem proteção.
  • Notificação compulsória às autoridades de saúde.

Conclusão

A psitacose é uma infecção zoonótica subdiagnosticada, com manifestações clínicas variáveis, desde febre inespecífica até pneumonia grave e complicações sistêmicas. O diagnóstico é baseado na sorologia ou PCR, e o tratamento padrão envolve doxiciclina por 10-21 dias. Prevenção e rastreamento de surtos são essenciais, especialmente entre trabalhadores expostos a aves.

🔍 Gostou do conteúdo? No app do InfectoCast você encontra protocolos, bulário, microbiologia, vacinação e muito mais em um só lugar.
👉 Clique aqui e conheça o app.

Referências

  1. McGovern OL, Kobayashi M, Shaw KA, et al. Real-time PCR for Chlamydia psittaci Detection During an Outbreak – Georgia and Virginia, 2018. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2021.
  2. Hogerwerf L, DE Gier B, Baan B, et al. Chlamydia psittaci as a cause of community-acquired pneumonia: A systematic review and meta-analysis. Epidemiol Infect. 2017.

Posts Relacionados

Claritromicina

A claritromicina é um antibiótico versátil e eficaz, sendo uma escolha primária para infecções respiratórias, H. pylori e micobacterioses. Entretanto, suas interações medicamentosas e o risco de prolongamento do QTc exigem monitoramento cuidadoso.

Azitromicina

A azitromicina é um antibiótico versátil e bem tolerado, sendo uma opção valiosa para infecções respiratórias, gastrointestinais e sexualmente transmissíveis. No entanto, o aumento da resistência e os riscos cardíacos requerem uso criterioso e monitoramento adequado.

Vancomicina

A vancomicina continua sendo uma opção essencial para o tratamento de infecções graves por MRSA e C. difficile. No entanto, seu uso deve ser monitorado rigorosamente para evitar toxicidade renal e falhas terapêuticas. O monitoramento da AUC/MIC emergiu como um novo padrão para otimizar eficácia e minimizar efeitos adversos.

Espécies de Yersinia:

As espécies de Yersinia não relacionadas à peste são bacilos Gram-negativos pertencentes à família Enterobacteriaceae. Entre as espécies patogênicas para humanos.

Yersinia pestis:

O Yersinia pestis é um bacilo Gram-negativo bipolar da família Enterobacteriaceae, caracterizado por sua aparência de "alfinete de segurança" ao ser corado por Giemsa. É o agente etiológico da peste, uma doença zoonótica historicamente devastadora que causou pandemias como a Peste Negra na Idade Média. A infecção é transmitida principalmente pela picada de pulgas infectadas, embora também possa ocorrer por meio de gotículas respiratórias (peste pneumônica) ou contato direto com animais infectados (FABRE, 2025).

Espécies de Vibrio (não cólera):

As espécies de Vibrio não coléricas são bacilos Gram-negativos com formato de vírgula, pertencentes à família Vibrionaceae. Essas bactérias são frequentemente encontradas em ambientes marinhos, especialmente em águas mornas e salobras, e estão associadas a infecções humanas por meio da ingestão de frutos do mar contaminados ou pela exposição de feridas abertas à água do mar.