Espécies de Campylobacter e Helicobacter

Os gêneros Campylobacter e Helicobacter são formados por bacilos Gram-negativos curvos e oxidase-positivos, sendo responsáveis por uma variedade de infecções humanas. Enquanto Campylobacter jejuni é um dos principais causadores de diarreia bacteriana no mundo, outras espécies como Campylobacter fetus e Helicobacter cinaedi podem causar infecções invasivas e sistêmicas, especialmente em imunocomprometidos.

Os gêneros Campylobacter e Helicobacter são formados por bacilos Gram-negativos curvos e oxidase-positivos, sendo responsáveis por uma variedade de infecções humanas. Enquanto Campylobacter jejuni é um dos principais causadores de diarreia bacteriana no mundo, outras espécies como Campylobacter fetus e Helicobacter cinaedi podem causar infecções invasivas e sistêmicas, especialmente em imunocomprometidos.

Microbiologia

Principais Espécies

  • Campylobacter spp.:
    • C. jejuni (mais comum na gastroenterite bacteriana).
    • C. coli (segunda mais frequente).
    • C. fetus (bacteremia e infecções sistêmicas).
    • C. lari, C. gracilis, C. concisus, C. ureolyticus, C. upsaliensis (raros).
  • Helicobacter spp.:
    • H. pylori (associado à gastrite, úlcera péptica e câncer gástrico).
    • H. cinaedi, H. fennelliae, H. pullorum, H. canadensis (incomuns, mas podem causar enterite, bacteremia e celulite).

Transmissão

  • Campylobacter spp.:
    • Alimentos contaminados (aves mal cozidas são a principal fonte).
    • Água não tratada e leite não pasteurizado.
    • Contato com animais (especialmente aves e animais de estimação com diarreia).
    • Transmissão sexual (especialmente em C. cinaedi e C. fetus).
  • Helicobacter spp.:
    • Contato fecal-oral ou oral-oral.
    • Zoonose (gatos e primatas podem ser reservatórios).
    • Infecções hospitalares relatadas.

Epidemiologia

  • Gastroenterite por Campylobacter:
    • Mais comum em crianças <2 anos e adultos >65 anos.
    • Causa frequente de diarreia do viajante (especialmente no Sudeste Asiático).
    • Surto relatado nos EUA (2016-2018) associado a cachorros de pet shop com C. jejuni multirresistente.
  • Infecções sistêmicas:
    • Endocardite, bacteremia e artrite séptica por C. fetus em imunossuprimidos.
    • Celulite e sepse por H. cinaedi em pacientes com neoplasias hematológicas.

Manifestações Clínicas

1. Gastroenterite por Campylobacter (Início: 2-5 dias pós-ingestão)

  • Diarreia aquosa (pode ser sanguinolenta).
  • Dor abdominal intensa (semelhante à apendicite).
  • Febre e mal-estar.
  • Síndrome de Guillain-Barré pode ocorrer após a infecção.

2. Infecções Sistêmicas por Campylobacter e Helicobacter

  • Bacteremia → comum em imunocomprometidos, pode ser recorrente.
  • Endocardite → associada a C. fetus e H. cinaedi.
  • Meningoencefalite → rara, mas descrita em neonatos e adultos.
  • Artrite séptica e osteomielite → infecção de foco secundário.

3. Infecções Cutâneas e Celulite

  • H. cinaedi e C. fetus podem causar celulite em imunossuprimidos.
  • Tromboflebite séptica e aneurismas micóticos raros, mas graves.

Diagnóstico

1. Cultura

  • Meios seletivos para Campylobacter:
    • Necessitam de microaerofilia e crescimento a 37-41°C.
    • C. fetus deve ser cultivado a 37°C em meio sem cefalosporinas.
  • Helicobacter spp. podem ser isolados de sangue, LCR e biópsias gástricas.

2. Testes Moleculares (PCR)

  • Método preferencial para diarreia infecciosa (maior sensibilidade que cultura).
  • Identifica Campylobacter em painéis multiplex de gastroenterites.

3. Testes Sorológicos

  • Pouco úteis no diagnóstico agudo.
  • Usados em estudos epidemiológicos e investigações de surtos.

Tratamento

1. Gastroenterite por Campylobacter (Autolimitada na maioria dos casos)

  • Hidratação oral ou IV.
  • Zinco pode reduzir a duração dos sintomas em crianças desnutridas.
  • Antibióticos indicados apenas para:
    • Casos graves (febre alta, diarreia sanguinolenta).
    • Sintomas >7 dias.
    • Imunossuprimidos.

Opções antibióticas:

  • Azitromicina 500 mg VO/dia por 3 dias (1ª escolha).
  • Alternativas:
    • Eritromicina 250 mg VO 4x/dia por 7 dias.
    • Ciprofloxacino 500 mg VO 12/12h por 3 dias (resistência crescente).

2. Infecções Sistêmicas

  • Bacteremia e endocardite:
    • Gentamicina 5 mg/kg/dia IV (1ª escolha).
    • Alternativas: Ceftriaxona 2 g IV 12/12h, Imipenem 1 g IV 6/6h.
  • Meningoencefalite:
    • Ceftriaxona ou cloranfenicol IV por 2-3 semanas.

3. Infecções Cutâneas e Celulite

  • Helicobacter cinaedi → geralmente sensível a carbapenêmicos e tetraciclinas.
  • Tratamento mínimo de 2-8 semanas para evitar recidiva.

Resistência Antimicrobiana

  • Resistência a macrolídeos e fluoroquinolonas está aumentando.
  • C. coli e C. fetus apresentam resistência significativa a ciprofloxacino.
  • Carbapenêmicos podem ser necessários para infecções graves.

Prevenção

  • Evitar consumo de carnes cruas ou mal cozidas.
  • Lavagem adequada das mãos após contato com animais.
  • Higienização de água e alimentos em regiões endêmicas.
  • Uso de antibióticos em animais deve ser controlado para reduzir resistência.

Conclusão

As infecções por Campylobacter e Helicobacter podem variar de gastroenterite autolimitada a infecções invasivas graves, especialmente em pacientes imunocomprometidos. O diagnóstico precoce com testes moleculares e a escolha correta do tratamento são essenciais para reduzir complicações. O uso racional de antibióticos e medidas de higiene são fundamentais para prevenção e controle dessas infecções.

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Referências

  1. Shane AL, Mody RK, Crump JA, et al. Clinical Practice Guidelines for Infectious Diarrhea. Clin Infect Dis. 2017.
  2. Geissler AL, Swanson K, et al. Campylobacter outbreaks and resistance trends in the U.S. Clin Infect Dis. 2017.

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