Espécies de Achromobacter

As espécies do gênero Achromobacter pertencem à família Alcaligenaceae e são bactérias gram-negativas aeróbias, capazes de fermentar lactose e com atividade oxidase positiva. Essas bactérias podem ser encontradas amplamente no ambiente, incluindo solos e águas doces e salobras, além de possivelmente integrarem a flora normal do trato gastrointestinal humano. Algumas espécies, como Achromobacter xylosoxidans, estão associadas a infecções oportunistas, especialmente em indivíduos imunocomprometidos.

Microbiologia

As bactérias do gênero Achromobacter possuem as seguintes características microbiológicas:

  • Aeróbias, gram-negativas.
  • Capacidade de crescimento anaeróbio facultativo.
  • Móveis, com flagelos peritríquios.
  • Podem ser cultivadas em meios como MacConkey, Mueller-Hinton, NAC e Salmonella-Shigella agar.
  • São frequentemente associadas à formação de biofilmes, sendo encontradas em equipamentos hospitalares como umidificadores e reservatórios de água.

Resistência Antimicrobiana

As espécies de Achromobacter apresentam resistência intrínseca e adquirida a diversos antimicrobianos. Dois dos principais mecanismos de resistência são:

  • Bombas de efluxo de multidrogas.
  • Metalo-β-lactamases, sendo a mais comum OXA-114-like (cromossomal).

A espécie A. xylosoxidans é a mais frequentemente implicada em infecções clínicas e apresenta resistência intrínseca a aminoglicosídeos, aztreonam, tetraciclinas e várias penicilinas/cefalosporinas. Outras espécies de Achromobacter encontradas em infecções humanas incluem:

  • A. denitrificans
  • A. dolens
  • A. insuavis
  • A. piechaudii
  • A. ruhlandii

Quadro Clínico e Locais de Infecção

Muitas espécies do gênero Achromobacter são consideradas não patogênicas, e sua identificação em amostras clínicas pode representar apenas colonização. No entanto, essas bactérias podem atuar como patógenos oportunistas em indivíduos com doenças pulmonares estruturais, exposição frequente a antibióticos e hospitalização prolongada.

Os principais grupos de risco incluem pacientes com:

  • Fibrose cística (FC).
  • Neoplasias (hematológicas ou de órgãos sólidos).
  • Bronquiectasia não relacionada à FC.
  • Insuficiência renal.
  • Imunodeficiências.

As infecções causadas por Achromobacter são geralmente nosocomiais, sendo mais frequentemente associadas a:

  • Pneumonia em pacientes com fibrose cística ou bronquiectasia.
  • Infecções de cateter venoso central, causando bacteremia.
  • Endocardite (raro).
  • Meningite (raro).
  • Infecções urinárias.
  • Infecções musculoesqueléticas (celulite, osteomielite, artrite séptica).
  • Infecções oculares (ceratite e úlceras de córnea em usuários de lentes de contato).
  • Otite média.

Tratamento

O tratamento das infecções por Achromobacter é desafiador devido à resistência antimicrobiana. Não existem diretrizes padronizadas, e a escolha do antibiótico deve ser baseada nos testes de suscetibilidade.

Antimicrobianos mais eficazes

  • Imipenem/cilastatina
  • Meropenem (menos ativo que imipenem)
  • Piperacilina/tazobactam
  • Trimetoprima/sulfametoxazol

Atividade variável

  • Ceftazidima
  • Cloranfenicol
  • Colistina
  • Minociclina

Pouco ativos

  • Aztreonam
  • Aminoglicosídeos
  • Penicilinas (exceto ticarcilina e piperacilina/tazobactam)
  • Cefalosporinas (exceto ceftazidima e cefoperazona/sulbactam)
  • Tetraciclina

Resistente

  • Azitromicina
  • A maioria dos beta-lactâmicos, exceto os citados acima.

A duração do tratamento depende do tipo de infecção, com recomendações gerais baseadas em diretrizes para pneumonia, infecções de corrente sanguínea e outras condições.

Novas Abordagens Terapêuticas

A terapia fágica tem sido estudada como uma alternativa para infecções resistentes a antibióticos, especialmente em pacientes com fibrose cística.

Considerações Finais

As espécies de Achromobacter, principalmente A. xylosoxidans, representam um desafio crescente na prática clínica devido à sua resistência a múltiplos fármacos. Seu papel como patógeno oportunista é particularmente relevante em pacientes imunocomprometidos e com doenças pulmonares crônicas. O manejo dessas infecções requer o uso criterioso de antibióticos e, em casos de infecções graves, considerações sobre novas estratégias terapêuticas.

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