(DENV-3): O Brasil enfrenta um cenário preocupante com o aumento expressivo dos casos de dengue, impulsionado pela reintrodução do sorotipo 3 (DENV-3), que não circulava de forma significativa no país desde 2008. A baixa imunidade da população a esse sorotipo específico levanta preocupações sobre a gravidade das infecções e a capacidade da rede de saúde em lidar com o crescimento dos casos.
DENV-3 por que se preocupa?
A dengue é causada por quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), e a infecção por um deles confere imunidade temporária cruzada. No entanto, a reinfecção por outro sorotipo aumenta o risco de formas graves da doença devido ao fenômeno da amplificação dependente de anticorpos (ADE, do inglês antibody-dependent enhancement).
O DENV-3 esteve ausente da circulação predominante por mais de 15 anos, o que significa que grande parte da população brasileira nunca teve contato com esse sorotipo. Esse cenário cria um ambiente epidemiológico favorável para sua rápida disseminação, aumentando o risco de epidemias e casos graves, especialmente em indivíduos que já tiveram dengue causada por outros sorotipos.
(DENV-3) – Distribuição geográfica e surtos recentes
Casos de DENV-3 já foram identificados em diversos estados brasileiros, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. No estado de São Paulo, por exemplo, o sorotipo foi detectado novamente em 2023, após anos de predominância de DENV-1 e DENV-2. A introdução de um novo sorotipo em áreas densamente povoadas e com alta infestação do vetor Aedes aegypti representa um grande desafio para o controle da doença.
(DENV-3) – Fatores que impulsionam o ressurgimento
- Baixa imunidade populacional: a ausência prolongada do DENV-3 resultou em uma população amplamente suscetível à infecção.
- Mudanças climáticas: o aumento das temperaturas e os padrões irregulares de precipitação favorecem a proliferação do Aedes aegypti.
- Crescimento desordenado das cidades: áreas com infraestrutura sanitária precária e acúmulo de lixo são propícias para a reprodução do vetor.
- Falhas no controle vetorial: a dificuldade na contenção da proliferação do mosquito tem contribuído para o aumento das infecções.
Diagnóstico e manejo clínico
A infecção pelo DENV-3 não apresenta manifestações clínicas específicas que a diferenciem dos outros sorotipos. O quadro clínico pode variar desde formas leves até manifestações graves, como dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue. O diagnóstico é baseado em critérios clínico-epidemiológicos e confirmado por testes laboratoriais, como:
- Teste rápido de antígeno NS1: útil nos primeiros dias de sintomas.
- Sorologia (IgM e IgG): mais útil após o 5º dia de sintomas.
- RT-PCR: exame confirmatório, especialmente relevante para diferenciação dos sorotipos.
Critérios de gravidade
Os sinais de alarme indicam risco aumentado de evolução grave e devem ser monitorados de perto:
- Dor abdominal intensa e contínua.
- Vômitos persistentes.
- Derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascítico).
- Hipotensão postural ou sinais de choque.
- Sangramentos importantes (hematêmese, melena, metrorragia abundante).
- Letargia ou irritabilidade extrema.
A hidratação adequada continua sendo a principal estratégia terapêutica para evitar complicações graves. Pacientes com sinais de alarme devem ser prontamente avaliados para possível internação hospitalar.
Perspectivas e estratégias de enfrentamento
A reintrodução do DENV-3 reforça a necessidade de intensificar as medidas de controle da dengue no Brasil. A vacinação contra a dengue, recentemente incorporada ao PNI, pode ser uma ferramenta auxiliar, mas sua cobertura ainda é baixa. Além disso, o controle do vetor continua sendo a estratégia mais eficaz para reduzir a transmissão do vírus.
Para os médicos, a atualização constante sobre a evolução epidemiológica e as diretrizes de manejo clínico é essencial para garantir o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, reduzindo a mortalidade associada à dengue.
Diante desse novo cenário, a vigilância epidemiológica deve ser fortalecida para monitorar a evolução do DENV-3 no país e prevenir epidemias de maior magnitude. A colaboração entre profissionais de saúde, gestores públicos e a população será determinante para mitigar os impactos desse sorotipo na saúde pública brasileira.
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